A edição de hoje
Os quatro dias consecutivos de desfiles das escolas de samba de elite das duas maiores cidades brasileiras, São Paulo e Rio de Janeiro, os mais famosos e luxuosos do país, começaram no final da noite desta sexta-feira na capital paulista, quando já era meio da madrugada em Lisboa. Os desfiles continuam neste sábado, também em São Paulo, e no domingo e na segunda ocorrem os do Rio de Janeiro.<br/><br/>
Rivais ferrenhos em tudo, uma espécie de Lisboa e Porto, São Paulo e o Rio disputam em luxo, tecnologia e criatividade também no Carnaval, mas a globalização que há anos vem tomando conta de tudo passa por cima dessa rivalidade histórica. Cada vez mais músicos e coreógrafos de uma das cidades trabalham no carnaval da outra, e mulatas e famosos e famosas que antes desfilavam apenas por uma das cidades, agora frequentemente têm uma escola do coração em São Paulo e outra no Rio e, como os desfiles ocorrem em dias diferentes, participam de ambos.
Até há alguns anos meio amadores, os desfiles de São Paulo profissionalizaram-se, conquistaram patrocínios públicos e privados e hoje não devem nada em brilho, garra e inovações tecnológicas aos do Rio. Mas os dois dias de desfiles na capital carioca continuam a ser os mais famosos internacionalmente, os que mais atraem a atenção da imprensa mundial.
Aliás, o próprio público dos desfiles nas duas cidades é bem diferente. Em São Paulo, os desfiles carnavalescos ainda são direccionados para o grande público, para a população local, enquanto no Rio de Janeiro, tudo é direccionado para os turistas, brasileiros ou estrangeiros, que acorrem à cidade para isso.
Bom, mas voltando a São Paulo, que deu o pontapé de saída, nos dois dias desfilam 14 escolas, representando outros tantos bairros da capital.Nesta madrugada de sexta para sábado, desfilam a Unidos do Peruche, Tom Maior, Académicos do Tucuruvi, Rosas de Ouro (campeã do ano passado), Mancha Verde (a escola de samba do clube de futebol Palmeiras), Vai-Vai e, já ao amanhecer, Pérola Negra.
Na noite deste sábado para domingo, desfilam Nené de Vila Matilde, Águia de Ouro, Mocidade Alegre, Unidos de Vila Maria, X-9 Paulistana, Gaviões da Fiel (a escola do arqui-rival do Palmeiras, o Corinthians(, e, finalmente, Império de casa Verde. A organização do Carnaval de São Paulo estima que, em cada noite, mais de 32 mil pessoas lotem as arquibancadas do Sambódromo do Anhembi, onde os desfiles decorrem.
Até ao último minuto antes do início do desfile de cada escola, uma multidão de carpinteiros, mecânicos, pintores, electricistas, costureiras e outros profissionais, pagos ou voluntários, vive o frenesim quase enlouquecedor dos últimos arranjos, dos derradeiros retoques nas fantasias dos passistas ou nas esculturas monumentais dos gigantescos carros alegóricos que vão ajudar a contar o enredo no sambódromo. Ah!, claro e não menos importante, tudo isso com a preocupação quase alucinada de não deixar que as cãmaras das emissoras de televisão ou os olhos dos espiões das escolas rivais percebam alguma coisa do que está sob as enormes capas de oleado que cobrem tudo, para não estragar o efeito surpresa durante o desfile nem permitir que algum adversário, vá lá saber-se, copie a idéia…
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