Novo governo tem tentado ao longo do último ano reconstruir o país, forjando laços com o Ocidente e combatendo os grupos separatistas que ainda permanecem no país.
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A moldura humana é um espelho da felicidade dos sírios. Um ano depois da queda de Bashar al-Assad, e do fim de quase 14 anos de guerra civil, a data foi assinalada este domingo com uma parada militar e uma mobilização que juntou milhares de pessoas nas ruas de Damasco e de outras das principais cidades do país.
É uma celebração sobretudo em torno de uma promessa de futuro, mais do que de um rumo estável e traçado ao longo dos últimos doze meses. Ainda que o colapso tenha sido evitado, muitas são ainda as tensões e divisões políticas e étnicas latentes no país, e que o atual governo ainda não conseguiu resolver.
O atual presidente, ex-combatente da al-Qaeda tornado diplomata moderado aos olhos do Ocidente neste último ano, marcou presença nas celebrações desta segunda-feira. "Apresentámos uma visão clara de uma nova Síria, enquanto Estado que olha para um futuro promissor", declarou Ahmed al-Sharaa perante milhares de apoiantes na capital do país. "De norte a sul e de leste a oeste, com a graça de Alá, vamos reconstruir uma Síria forte, com uma estrutura ao nível do seu presente e do seu passado."
É, de facto, de reconstrução que se fala. Década e meia de uma guerra brutal, que destruiu boa parte do país e provocou cerca de um milhão de mortos (militares e civis) e quase sete milhões de refugiados internos, isto num país de 26 milhões de pessoas. A tarefa não é fácil, mas correspondentes internacionais relatam que a esperança tem sido a toada dos sírios, ou pelo menos dos que esta segunda-feira saíram à rua.
"O povo sírio tem muitas dificuldades, mas as pessoas agora gostam da Síria porque temos liberdade", afirmou à BBC um jovem na manifestação. Nas ruas de comércio, um homem mais velho foi mais comedido. "O mais importante é a liberdade... mas o preço do pão era mais barato antes. As coisas vão demorar a melhorar".
Parte da estratégia passa por trabalhar a imagem externa do país e as relações com as grandes potências regionais e mundiais. Para tal, al-Sharaa trocou os uniformes verdes da Hayat Tahrir al-Sham, a antiga célula da al-Qaeda que comandava, pelos fatos presidenciais, e a retórica jihadista por um tom mais conciliador, quer dentro de portas mas também com o Ocidente. Ao longo do último ano, forjou relações com a Turquia, a Arábia Saudita e até os EUA, onde em novembro foi recebido na Casa Branca por Donald Trump.
"Vem de um sítio muito duro, e é um tipo duro. Gosto dele", afirmou então o presidente norte-americano.
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Estas visitas têm-se traduzido num aliviar das sanções a que o país estava sujeito durante o governo de Assad, que aos poucos têm permitido recuperar a economia. Milhares de refugiados têm também regressado ao país sob a promessa de maiores liberdades individuais, o que tem permitido exceder as previsões de crescimento das instituições internacionais
Nem tudo, porém, tem sido fácil. Ainda que a guerra em larga escala tenha terminado, fações separatistas permanecem ativas em várias regiões, dificultando os esforços do governo central em tomar controlo de todo o país. De resto, centenas de pessoas morreram no último ano na sequência de confrontos entre Damasco e as várias minorias étnicas do país, como os curdos, que continuam a manifestar desconfiança face a al-Sharaa.
O novo chefe de Estado tem, no entanto, repetido as promessas de uma sociedade mais tolerante, ancorada na criação de novas leis e de uma constituição a ser votada pelo povo sírio (a atual, provisória, foi aprovada em março garantindo ao governo amplos poderes para levar a cabo reformas). Recentemente, em declarações no fórum económico mundial de Doha, no Qatar, o líder sírio afirmou que esse processo deverá ainda durar cerca de quatro anos, período após o qual diz que serão convocadas eleições.
Enquanto isso, nas ruas as celebrações desta segunda-feira assinalam o potencial do que pode estar por vir. Ao longo do dia, as forças armadas sírias desfilaram em parada perante milhares de pessoas, com soldados, tanques e helicópteros paraquedistas a fazer parte das celebrações. E, à medida que o dia ia dando lugar à noite, a multidão nas ruas festejava com cânticos e pirotecnia a iluminar os céus.
"Começámos a amar o país", afirmou à Reuters um residente de Alepo, cidade simbólica por ter sido a primeira grande conquista da fação de al-Sharaa rumo a Damasco e ao derrube do regime de Assad. Aí, carros encheram as ruas, buzinando e desfilando com a nova bandeira do país — o verde a substituir o vermelho que era a cor da antiga ditadura. "Não o amávamos antes. Antes, estávamos habituados a tentar fugir dele".
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