Acompanhei, na medida das minhas possibilidades, as cerimónias que assinalaram a morte de Mário Soares. Um momento grande e muito significativo daquilo que, realmente, o político português significava no coração do povo.
O povo, tantas vezes presente quando as coisas tocam os seus sentimentos mais elevados, e tão ausente quando deseja manifestar que certas coisas impostas não lhe dizem respeito. Não me recordo de ter assistido, durante a minha vida, a tal manifestação de presença comovida, e a semelhante demonstração emocional de sentimentos.
Soares representa o fim de um ciclo. Abandonada, por indesejável, a pressão insuportável de um tempo tão desprezível quanto cuidadosamente defendido, pelas classes possidentes, parecia não haver alternativa ao que se nos tinha sido imposto.
Soares percebeu muito bem o que se nos preparava, tanto mais que a Europa demonstrava estar disposta a admitir uma outra ordem. O que se vê, por aí, é a confusão quase generalizada, uma nova geração demonstrativa de que se está marimbando para a defesa dos valores do equilíbrio moral.
Soares avisou-nos, repetidamente, de que a liberdade não é um bem permanentemente adquirido. A confusão e, consequentemente, a ascensão de valores obscuros conduzem-nos a uma proposta assustadora: quando os fantasmas se negam a ir-se embora, devemos aprender a bailar com eles?
Mário Soares percebeu muito bem o que nos esperava. Quando os valores são postos em causa, estes modos de subjectivação trazem no seu bojo o desprezo pelos valores. Nenhuma acção política pode regular-se inteiramente em critérios desta natureza.
A Europa e o Mundo atravessam uma das suas mais perigosas crises. E as motivações, por vezes preocupantes, da extrema-direita advertem-nos de que não devemos permanecer adormecidos.
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