Foi em setembro de 2004 que tive a honra de representar Portugal na Assembleia Geral das Nações Unidas. Em artigo anterior já tive ocasião de fazer referência ao modo como fica Nova Iorque todos os anos no mês de setembro durante os dias da Assembleia Geral: parece uma cidade sitiada com carros de polícia e de segurança, sirenes a tocar, helicópteros a sobrevoar a cidade, o trânsito a parar e tudo num corrupio por causa das altas individualidades, chefes de Estado e de Governo, e comitivas que lá se deslocam. Durante esses dias, os diferentes líderes mundiais marcam encontro uns com os outros, encontros bilaterais, em pequenas salas no edifício da ONU, ou mesmo no corredor, em ‘open space’, separados por biombos. Por exemplo, reuni com o Rei de Marrocos, Hassan II, e com a Presidente da Finlândia, Tarja Halonen, num desses espaços improvisados, mais ou menos protegidos por normalíssimos biombos, rodeados por (não tão banais) seguranças e polícias armados até aos dentes.
Corria a invasão do Iraque, com tudo o que aquilo representava e com a tensão que gerava nos corredores da diplomacia e nas ruas das cidades dos países mais em causa, como sucedia, principalmente, com Nova Iorque, onde tinha ocorrido o 11 de Setembro, três anos antes. É preciso fazer esse exercício de memória, agora em 2015. Há onze anos estava tudo ainda muito presente. E o Presidente dos Estados Unidos era ainda George W. Bush.
Para mim, foram dois os momentos especialmente marcantes: o mais marcante foi falar em nome de Portugal na Assembleia Geral e o outro foi o da reunião com o então Secretário-Geral Kofi Annan. Na reunião com ele confirmei a impressão que transmite pelas televisões a todo o mundo, de que se trata de uma pessoa com uma aparência tranquila e um modo educado e cordato de falar com os outros. Abordámos, naturalmente, a situação do Iraque, mas demos especial atenção, também, a algumas realidades em África, nomeadamente àquela que então se vivia na Guiné-Bissau e zonas limítrofes. Estive acompanhado do meu ministro dos Negócios Estrangeiros, António Monteiro, além do assessor diplomático. António Monteiro era e é um caso de sucesso no edifício das Nações Unidas: tendo sido chefe da missão permanente junto da ONU, era cumprimentado por diplomatas, polícias de serviço, funcionários… Confesso que fiquei impressionado, apesar de já conhecer bem a simpatia do ‘meu’ ministro. Aliás, foi um orientador precioso nessa minha experiência inolvidável.
Antes de discursarmos nas Nações Unidas, vamos para uma salinha onde aguarda quem é o orador seguinte, juntamente com quem desempenha essas funções de chefe de missão. Na época, era o embaixador Santa Clara Gomes. Enquanto discursava o chefe de Governo anterior, passam-se aqueles 15 minutos numa conversa a dois. Lembro-me de o embaixador me ter perguntado: "Senhor primeiro-ministro, posso ter o atrevimento de lhe perguntar se está nervoso?" Eu respondi-lhe: "Pouco." E simpaticamente disse-me: "Não se impressione, todos os líderes do mundo ficam." E contou-me que o Presidente Kennedy tinha o truque de segurar as mãos atrás das costas para disfarçar alguma agitação.
Quando o presidente da Assembleia Geral anuncia o orador seguinte, abrem-nos a porta, entramos para a sala, sentamo-nos por breves segundos numa cadeira e então é-nos dada a palavra. Devo dizer a todos os que leiam estas palavras que é, na verdade, uma sensação especial, a de estar ali a falar para os representantes do mundo todo em nome da nossa Pátria.
KOFI ANNAN
Diplomata, ex-secretário-geral das Nações Unidas
Data de nascimento
8 de abril de 1938
Local
Família
Nasce numa família aristocrática do Gana, avós e tio eram chefes tribais. Teve uma irmã gémea, Efua Atta, que morreu em 1991
Casamentos
Filhos
Educação
Cronologia
1962 Diretor de Orçamento para a Organização Mundial da Saúde
1974 Diretor de Turismo do Gana
1988 Secretário-geral Adjunto da ONU em três posições diferentes, nomeadamente nas Operações de Manutenção da Paz
1997 Secretário-geral da ONU
2001 Prémio Nobel da Paz
2005 Renuncia ao cargo de chefe da agência de refugiados da ONU
2006 Discurso final como secretário-geral da ONU
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