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Pedro Santana Lopes

Pedro Santana Lopes

Bill Clinton: Um fora de série

20 de setembro de 2015 às 00:30

Sempre torci por Bill Clinton desde que ele se apresentou, a 3 de outubro de 1991, nas primárias do seu partido na cidade de Little Rock, capital do pequeno estado do Arkansas, onde era governador. Devo dizer que não o conhecia antes e que essa adesão não tinha por base grandes conhecimentos da sua proposta programática. Conhecia alguns pontos e admirava a fluidez do seu discurso e a imagem de novo que transparecia da sua atitude e das suas palavras. Bill Clinton e Al Gore, como candidato a vice-presidente, com uma campanha muito bem feita, conseguiram vencer o Presidente em funções, George W. Bush Pai.

Clinton era o primeiro Presidente eleito nos EUA pertencente à geração "baby boomer", marcada pela influência dos movimentos sociais e estudantis e de manifestações culturais, como era a música dos Beatles, nomeadamente na década de 60. Aparecia um pouco como o sucessor do malogrado John F. Kennedy. E não foi por acaso que foi divulgada uma fotografia de Clinton, enquanto estudante numa visita da sua escola à Casa Branca, ainda miúdo, a cumprimentar o então Presidente JFK.

Sabe-se o que Bill Clinton fez de bem e de mal e como a sua figura se projetou por todo o mundo, acima de tudo como uma pessoa muito inteligente e como um Presidente de grande envergadura. Recordo-me de uma conversa que tive com António Guterres sobre Bill Clinton durante uma viagem de avião do Algarve para Lisboa. Foi a seguir ao congresso dos municípios portugueses, em que eu estive como presidente daquela organização e Guterres como primeiro-ministro a encerrar os trabalhos. Guterres teve depois a gentileza de me dar "boleia" no Falcon no regresso a Lisboa. Lembro-me do atual Alto Comissário da ONU me ter confidenciado o quanto o impressionara, nos encontros que já tinha tido com Bill Clinton, a velocidade de raciocínio do dirigente americano.

Sabe-se o escândalo sexual que atingiu Bill Clinton na Casa Branca e a situação que se viveu de uma investigação inédita do procurador Kenneth Starr. Lembro-me das imagens da televisão a mostrar o carro de Bill Clinton a sair da Casa Branca para ir a uma das sedes do Departamento de Justiça, depor num interrogatório absolutamente insólito perante o referido procurador.

Nunca tinha acontecido, julgo eu, a um Presidente dos EUA. Ultrapassou tudo isso, evitou o "impeachment" e hoje em dia é recordado como um dos grandes presidentes que os EUA já tiveram.

Homem de sorriso simpático, conhecedor da realidade do mundo, lançou uma poderosa fundação, que acorre a várias situações de carência e lida com temas muito relevantes para o futuro da humanidade. Tive o gosto de o conhecer em 2003 numa conferência que veio fazer a Lisboa por iniciativa do Luís Delgado e do ‘Diário Digital’. Fiquei ao seu lado na mesa e tive ocasião de proferir algumas palavras de apresentação. Antes disso conversámos também um pouco no jardim do hotel.

Recordo que na conversa que mantivemos durante o almoço falámos da realidade de a Constituição dos Estados Unidos impedir um Presidente, após cumprir dois mandatos, de jamais se voltar a candidatar. Nos sistemas semipresidenciais não é assim: não se podem candidatar a terceiro mandato, mas depois de outro Presidente ser eleito podem voltar a candidatar-se ao mandato seguinte. Estou convencido de que se Bill Clinton, quatro ou oito anos depois, se tivesse podido candidatar de novo, poderia ter ganho as eleições. A sua mulher, Hillary Clinton, que é atualmente candidata presidencial nas primárias do Partido Democrata, sabe isso muito bem. E, talvez por isso, terá confessado há dias, num tom mais de brincadeira, durante uma entrevista televisiva, que "já lhe tinha passado pela cabeça" escolher o seu marido para seu vice-presidente. Bill Clinton é um dirigente de craveira elevada, muito superior à média e será recordado como um dos nomes mais destacados da política internacional do século XX e do início deste século.

William Jefferson Clinton

Presidente dos EUA entre 1993 e 2001

Data de nascimento

19 de agosto de 1946

Local Hope, Arkansas

Pai William Jefferson Blythe Jr., morreu num acidente quando o filho tinha três meses de idade

Mãe Virginia Dell, casou-se com Roger Clinton Sr., um dono de uma revendedora de carros

Casamento Hillary Rodham

Filha Chelsea Clinton

Educação Ganha bolsa de estudo para a Universidade de Georgetown, em Washington, onde fez um bacharelado em 1968. De 1964 a 1967 estagiou para o senador democrata J. William Fulbright. Ganha bolsa de estudos de Rhodes para a Universidade de Oxford, no Reino Unido, onde estuda filosofia, política e economia, mas acaba por trocar pelo direito em Yale. Foi depois para a Faculdade de Direito de Yale e tira o seu Juris Doctor, em 1973

Cronologia

1978 Torna-se, aos 32 anos, no governador mais jovem do país, ao ser eleito no Arkansas

1992 Vence as eleições à presidência (com 43% dos votos)

1996 Reeleito para segundo mandato. Apesar de escândalos diversos, ganha com 49,2% dos votos

1999 Cinquenta e cinco senadores consideram-no não culpado de perjúrio no escândalo Lewinsky, a estagiária da Casa Branca com que se envolveu

2004 Depois da Casa Branca, abre o William J. Clinton Presidential Center and Park no Arkansas, publica a biografia ‘My Life’ e cria a Fundação Clinton

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