Gouveia e Melo pede desprezo por mensagens que induzem racismo, mas afasta ilegalização do Chega
Candidato presidencial criticou o racismo e a xenofobia e prometeu foco no combate à pobreza se for eleito, aquando da visita à Academia Johnson, no Bairro do Zambujal.
O candidato presidencial Gouveia e Melo pediu esta sexta-feira desprezo pelas mensagens que podem induzir racismo, como a dos cartazes do Chega sobre o Bangladesh e a comunidade cigana, mas afastou como consequência a ilegalização deste partido.
Henrique Gouveia e Melo, ex-chefe do Estado-Maior da Armada, falava aos jornalistas após ter visitado a Academia Johnson, no Bairro do Zambujal, na Amadora, onde criticou o racismo e a xenofobia e prometeu foco no combate à pobreza se for eleito Presidente da República.
Confrontado pelos jornalistas sobre a existência de queixas a requerer a ilegalização do Chega, partido acusado de fomentar o racismo, remeteu uma eventual resposta, ou decisão, para a justiça e para os juízes do Tribunal Constitucional.
Na perspetiva do candidato presidencial, "não está em causa a continuidade do Chega", embora saliente que discorda das mensagens que essa força política está a difundir.
"Condeno a mensagem, mas não acho que seja caso para ilegalizar o partido", considerou.
Depois, referiu-se aos cartazes em que aparece o presidente do Chega, André Ventura, a dizer "isto não é o Bangladesh" ou "os ciganos têm de cumprir a lei".
"O que está por trás dessa insinuação, uma afirmação política, isso quem vai avaliar verdadeiramente são os portugueses. Os portugueses não são infantis, não devemos infantilizar os portugueses", advertiu.
Mas Gouveia e Melo colocou também a questão inerente a estas mensagens no plano da sua difusão por parte dos media e redes sociais.
"O foco da comunicação social nessa mensagem é que torna a mensagem viral. E se calhar devíamos desprezar esse tipo de mensagens. Eu não quero contribuir para tornar essa mensagem mais viral do que ela já é", sustentou.
Perante a insistência dos jornalistas sobre o teor dos cartazes do Chega, admitiu que "há determinadas expressões que induzem uma ideia - e essa ideia pode ser racista, ou xenófoba".
Antes, no seu breve discurso perante os membros da Academia Johnson, que dá apoio a 220 crianças, Gouveia e Melo fez questão de salientar o princípio da igualdade de direitos entre todos os cidadãos: "Por vezes, olhamos para as pessoas pelas diferenças, se os olhos são claros ou escuros".
"Somos todos iguais", frisou. Contou também um episódio que teve na Lituânia, onde estavam destacadas forças militares portuguesas, durante uma conversa com um oficial lituano.
"Ele perguntou-me: O que estão a fazer aqueles dois negros ao fundo da sala? Respondi-lhe: Negros? Não vejo negro em lado nenhum, só consigo ver verde" -- uma alusão à cor dos camuflados dos dois fuzileiros visados pelo oficial lituano.
"Esses dois militares tinham vindo de longe para auxiliá-los na segurança da fronteira entre a Lituânia e a Rússia", rematou.
Além dos problemas do racismo e da xenofobia, durante a conversa na Academia Johnson foram também abordadas as questões da pobreza e da exclusão social.
O ex-chefe de Estado-Maior da Armada ouviu que algumas crianças chegam à academia depois da escola, a meio da tarde, e o lanche que ali têm é a sua última refeição.
"Podem contar comigo. O meu foco vai ser o combate à pobreza. Estou aqui na Academia Johnson por profundo respeito pelo vosso trabalho e para dar visibilidade ao vosso trabalho", justificou.
Durante a visita, o almirante ficou visivelmente contente quando lhe disseram que na academia se praticam sete desportos, entre os quais a canoagem, o remo e a vela. Desportos de mar que os responsáveis da entidade considerarem importante para estimular a solidariedade entre os jovens praticantes.
"Nunca desistam", pediu Gouveia e Melo antes de abandonar a Academia Johnson no Bairro do Zambujal.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt