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“A obrigação do Homem é deixar o Mundo melhor”: Francisco Pinto Balsemão foi o último imperador dos media

Fundador do PSD e antigo primeiro-ministro, pai do 'Expresso' e da SIC, defendia uma imprensa livre e independente de todos os poderes.

23 de outubro de 2025 às 01:30

“A informação necessita de ser livre, funcionando ao lado, mas independentemente, dos governos, das igrejas, dos partidos políticos, dos grupos de pressão”. Em 1971, Francisco Pinto Balsemão mostrou à ditadura o que era o jornalismo em liberdade, publicando um livro. ‘Informar ou depender?’ saiu em resposta ao chumbo do projeto sobre a lei da impressa, que apresentou com Sá Carneiro. Partilhavam os ideais e a expectativa de que, como deputados da Ala Liberal e com Marcello Caetano (de quem tinha sido aluno), conseguiriam mudar o regime por dentro.

“Enganei-me e, como eu, enganaram-se outros companheiros meus. A partir daí entrei na política em part-time”, disse. A experiência foi um divisor de águas. A família desfez-se do ‘Diário Popular’ de que Balsemão tinha 16,6% por herança do pai. “Fiquei com 30 e tal mil contos. Aí podia ter deixado de trabalhar, de facto. Ou ficar com a advocacia sem ‘afición’. Fiz o Expresso [em 1973]”, afirmou. Entre os acionistas com menores participações estavam António Guterres e Marcelo Rebelo de Sousa. Regressou à política com a revolução e os primeiros passos para fundar o PPD foram dados logo a 26 de abril. Com a tragédia de Camarate, chegou a presidente do partido e a primeiro-ministro. "As teses, completamente estapafúrdias, de que eu, através de Kissinger e da CIA, sabia o que ia acontecer são falsas e insultuosas", referiu.

Esteve à frente do Governo entre 1981 e 1983, período em que promoveu uma revisão constitucional, a adesão de Portugal à CEE e em que sentiu que "o jornal andava a matar o pai, no sentido mais freudiano da palavra”.

O atual presidente da República (ver reações ao lado) dirigia então o Expresso e escreveu que o patrão era "lé-lé da cuca". Sobre essa altura, de resto, lamentou que a política o tenha obrigado "a ver o mundo e o País e as pessoas e os traidores de outra maneira". Em 1990, criou a Impresa e, em 1992, lançou o primeiro canal privado português, a SIC. "Vi Armstrong pisar a lua e a sonda Curiosity deslizar em Marte. Fui amplamente contemplado pela revolução digital. Beneficiei do 25 de Abril e contribui, na política, no jornalismo, no associativismo e, mais tarde, no ensino para que Portugal fosse uma democracia de padrão ocidental", reconheceu. Entusiasta da inovação, aceitou transformar o livro de memórias com recurso a inteligência artificial e descrevia-se ultimamente como 'podcaster'. Viveu 88 anos, até à última terça-feira, com um objetivo: "Hoje e sempre, a única obrigação moral que poderá ser exigida ao Homem, para que seja 'mais do que matéria físico-química', é que procure deixar o mundo onde nasceu, seja esta a Terra ou algo mais vasto, melhor do que o encontrou".

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