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"Devo acompanhar o comboio da paternidade": André Silva deixa o PAN para se dedicar à família

"Carrego a forte convicção de que numa democracia saudável as pessoas não devem eternizar-se nos cargos", diz André Silva.

14 de março de 2021 às 18:22

O até agora líder do PAN, André Silva, vai abandonar a liderança do partido, confirmou ao CM fonte do PAN.

A decisão já foi passada aos militantes do partido que ficaram ainda a saber que André Silva vai também abandonar o lugar no Parlamento.

Numa publicação no Facebook, André Silva, explica que as razões que motivaram a decisão estão relacionados com a família. 

Leía o comunicado na íntegra

Partilho a carta que enviei esta tarde aos filiados e companheiros de causas do PAN sobre a minha decisão de saída da vida política partidária e parlamentar, com efeito a partir do próximo Congresso, em Junho.

Estimada/o filiada/o, companheira/o de causas,

Espero que te encontres bem e com saúde.

Volvidos vários anos de intenso trabalho e de uma magnífica experiência cívica e pessoal, decidi não me recandidatar aos órgãos nacionais do partido.

Às vezes parece-me que 2014 foi ontem, ano em que assumi a responsabilidade de ser membro da Comissão Política Permanente e porta-voz nacional do PAN, partido então pouco conhecido que tinha como principais desafios a afirmação no espectro político-partidário nacional, a colocação dos direitos dos animais e do combate à crise climática como prioridades do debate político, e a afirmação dos direitos sociais das pessoas fora dos arcaicos preconceitos do divisionismo esquerda/direita. Abracei, de corpo e alma, estes desafios porque acreditava que a mudança era possível.

Após sete anos como porta-voz do partido, continuo a acreditar nessa mudança e na capacidade única deste colectivo partidário para a afirmar. O trabalho que fizemos deixa-me profundamente orgulhoso. Conseguimos entrar no parlamento, demos voz e visibilidade às nossas causas e à nossa mundivisão, trouxemos temas para o debate político que, por desinteresse ou falta de coragem, eram totalmente ignorados pelos outros partidos. Abrigámos no guarda-chuva da lei outras formas de vida, autonomizámos o ambiente no campo político e demos esperança e respostas a quem não tinha voz na "casa da democracia".

Conseguimos marcar a agenda política e forçar o país a debater assuntos incómodos e controversos, deixando claro que, para nós, e doa a quem doer, não existem sectores intocáveis, sejam eles a tauromaquia, o baronato da caça, a agropecuária intensiva, e tantos outros sectores poluidores e exploradores de animais e de recursos naturais. O combate aos mais fortes e privilegiados não se limitou às temáticas animalistas e ambientalistas. Também fomos a jogo no campo da promiscuidade entre o futebol e a política, e entre esta e o sector bancário. Alargamos a luta contra a discriminação, pela Igualdade e na defesa de quem menos pode. Afirmamos a nossa voz na defesa da transparência e no combate à corrupção, sabendo que esta é uma das principais causas da desigualdade social e económica do país. Fomos corajosos e, por isso, demos densidade política aos desafios do século XXI.

Hoje, desenvolvemos acção política e social em municípios que abarcam cerca de metade da população do país, com o trabalho de abnegada/os deputada/os nas assembleias municipais e a dedicação militante das estruturas locais. Os açorianos contam com um excelso representante do PAN na Assembleia Legislativa Regional. Na Assembleia da República passámos de deputado único para um activo e empenhado grupo parlamentar.

O PAN é hoje um partido com identidade e notoriedade, reconhecido como um movimento político em crescimento e consolidação. Somos actualmente a 6ª força política nacional. Mais do que um projecto político, o PAN é hoje uma certeza na defesa das pessoas, dos animais e da natureza.

Durante estes anos vivi intensamente os desígnios do PAN, tendo dado o máximo que tenho e da forma que melhor sei. No caminho, cometi erros, tentei aprender com eles e corrigi-los. Abdiquei de muito a nível pessoal para me dedicar à missão de afirmar e fazer crescer o partido, relegando todos os outros aspectos da minha vida. Chegou a hora de mudar. Tendo sido pai há 5 meses, considero que devo apanhar o comboio da paternidade para materializar valores que considero essenciais nas esferas privada e pública. Além de pretender equilibrar a minha vida pessoal e familiar com a vida profissional, carrego a forte convicção de que numa democracia saudável as pessoas não devem eternizar-se nos cargos, devendo dar oportunidade a outras. Ou seja, como muitos sabem, defendo a limitação de todos os mandatos políticos, sejam eles partidários ou em órgãos de poder institucional.

Consequentemente, decidi não me recandidatar a um novo mandato na Comissão Política Nacional, deixando todos os cargos de direcção partidária. Vou-me embora tendo presente o patamar de notoriedade atingido pelo partido, bem como as aptidões de acção política e de disputa eleitoral autónoma que adquiriu nos últimos anos.

Por tudo isto e por toda a mudança que quero que tenha lugar na minha vida, resolvi também renunciar ao mandato de deputado à Assembleia da República, com efeito na data de realização do nosso Congresso no mês de Junho, cumprindo assim meia legislatura e fechando um ciclo pessoal e da vida do partido.

Regressarei à minha condição de filiado de base e continuarei a dar a este nosso colectivo partidário o contributo que estiver ao meu alcance e que entender ser desejável e relevante ao partido e à sociedade. A minha saída não abala a confiança que tenho no PAN enquanto colectivo partidário, nem deve abalar a vossa!

O nosso partido continuará a fazer a diferença na sociedade e na política. O PAN deve ocupar o papel de charneira política no combate das nossas vidas, a crise climática e ambiental. O PAN conserva todas as condições para continuar a afirmar-se como um partido diferenciador, autónomo, moderno, progressista e que não se deixa resgatar pela dicotomia simplista e redutora de esquerda/ direita. As causas do PAN são transversais a toda a sociedade e são maiores do que qualquer gaveta ideológica e do que qualquer pessoa!

Tenho a sorte de ter tido a oportunidade de levar o PAN até aqui com toda/os vós, naquela que tem sido uma viagem incrível. Por essa oportunidade, por tudo o que me deram e por todo o apoio que recebi, deixo-vos um profundo obrigado.

Vemo-nos no Congresso!

Um abraço,

André Silva

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