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Ex-presidente da CCPJ diz que Pinto Balsemáo foi o único empresário de media que viveu no setor de forma autêntica

Fundador do Expresso e da SIC morreu na terça-feira, aos 88 anos.

27 de outubro de 2025 às 18:32

O ex-presidente da CCPJ, Henrique Pires Teixeira, afirma que Francisco Pinto Balsemão, que morreu na terça-feira, "foi o único empresário dos grandes grupos de imprensa que nasceu e viveu no setor de forma autêntica e exclusiva".

Num artigo de opinião publicado no 'site' da Associação Portuguesa de Imprensa, sob o título "Não párem as máquinas", o ex-diretor do jornal A Comarca e ex-presidente da Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas (CCPJ), começa por referir que "os árabes sentenciam numa máxima que 'ao morrer, a pantera larga a pele e o homem a reputação' -- o que é apropriado ter presente num momento em que se homenageia" Francisco Pinto Balsemão.

O fundador do Expresso e da SIC "foi o único empresário dos grandes grupos de imprensa que nasceu e viveu no setor de forma autêntica e exclusiva, que conhecia todas as suas dimensões e entrosamentos, que esteve na origem das mais diversas instituições confluentes, a cada passo visando a preservação e valorização da comunicação social, em geral, e da imprensa em particular", sublinha Henrique Pires Teixeira.

"Isto diferentemente de outros que simplesmente poisaram no setor tendo a mira apontada à afirmação pessoal e/ou à influência política, económica ou de outro cariz", aponta.

Ressalta também que "o seu papel enquanto empresário nunca colidiu minimamente com as exigências da atividade jornalística, mormente com a independência dos jornalistas, um dos irremovíveis pilares da profissão".

O antigo presidente da CCPJ prossegue, dizendo que "já quase tudo se escreveu" sobre Balsemão, "numa coincidência de apreciações relevando as qualidades icónicas de um espírito livre, estruturalmente democrático, genuíno empresário da comunicação social e jornalista por vocação".

Mas "não é redundante recordá-lo também neste espaço da Associação Portuguesa de Imprensa que foi a sua casa, porque a fundou (à data como AIND -- Associação de Imprensa Não Diária) e a que quase sempre presidiu através da Sojornal, primeiro, e da Impresa, depois, configurada como trincheira institucional e agregadora na defesa dos interesses de toda a imprensa, mas em especial da imprensa regional, que acarinhava por representar o pulsar do país real", recorda.

"Integrei a única direção que não foi presidida pela então Sojornal, num intervalo diretivo atípico que sobreveio, não por divergência com o dr. Francisco Balsemão e com a sua intocável referência, mas com a presidência do elenco que então escolhera para dirigir a AIND", mas "nem por isso abandonou a associação ou deixou de dar o seu contributo financeiro enquanto associado -- o que mais uma vez comprovou o seu espírito democrático e tolerante", relata.

Na cerimónia de encerramento do 4.º Congresso dos Jornalistas (2017), "fiz questão de sublinhar", enquanto então presidente da CCPJ "o respeito escrupuloso" por Francisco Pinto Balsemão "face à liberdade de expressão e independência dos jornalistas, nunca opondo quaisquer adversativas ou condicionantes ao seu exercício".

Aliás, "isso era sabido, mas nunca suficientemente valorizado, por isso prestei tal tributo com convicção para que servisse de exemplo -- quando pairavam e pairam nuvens de interferência sopradas pelos ventos da precariedade", refere.

No final "veio agradecer-me não só a alusão como acima de tudo pelo momento e local em que foi feita, naquele universo -- o que é revelador do foco que dava aos jornalistas e ao jornalismo", conta, referindo que Francisco Pinto Balsemão "conhecia bem, como todos quantos estão ou estiveram ligados à direção de autênticos projetos jornalísticos, as picas e as agruras da imprensa".

"Ergueu um conglomerado de comunicação social para lhe sobreviver, mas fê-lo igualmente em prol dos seus concidadãos e da liberdade de imprensa", salienta, apontando que ele partiu, "mas as máquinas não pararão".

A memória "é o espelho dos ausentes, é o que nos sobra da sua personalidade e ímpeto -- além da excecional reputação", remata.

A missa de sétimo dia em irá realizar-se esta segunda-feira, às 20h00, na Basílica da Estrela, em Lisboa.

Balsemão foi uma personalidade incontornável da história dos media em Portugal, um jornalista que nunca deixou de ser político, tendo como fio condutor a luta pela liberdade de expressão e o direito a informar.

Fundador do semanário Expresso, ainda durante a ditadura (1973), e da SIC, a primeira televisão privada em Portugal, morreu na terça-feira (21 de outubro) aos 88 anos, de causas naturais.

Em 1974, após o 25 de Abril, fundou, com Francisco Sá Carneiro e Magalhães Mota, o Partido Popular Democrático (PPD), mais tarde Partido Social Democrata PSD. Chefiou dois governos depois da morte de Sá Carneiro, entre 1981 e 1983, e foi, até agora, membro do Conselho de Estado, órgão de consulta do Presidente da República.

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