O percurso militar do general Kaúlza de Arriaga confunde-se com o Estado Novo. Reconhecido como um estratega, fundou a Força Aérea como ramo independente das Forças Armadas e criou o corpo de tropas pára-quedistas.
Em 1970, comandou a maior operação militar no teatro de guerra das ex-colónias, com o nome ‘Nó Górdio’. O general foi o responsável pelo planeamento e execução da operação, que se desenrolou de 1 de Julho a 6 de Agosto de 1970 na região de Cabo Delgado, no Norte de Moçambique, e que visava erradicar a guerrilha da zona. Esta operação, pelos oito mil militares envolvidos e, principalmente, pelos objectivos que visava alcançar, foi a maior que teve lugar durante os anos de 1961 a 1974 em que se desenrolou a guerra colonial. A seu lado teve personalidades como Mário Tomé (UDP), seu ajudante de campo.
A personalidade controversa de Arriaga ficou marcada por um massacre na aldeia moçambicana Wiryiamu. O general foi apontado como o responsável pelo massacre de nativos às mãos das tropas portuguesas ocorrido a 16 de Dezembro de 1972. O incidente terá provocado centenas de vítimas, entre as quais mulheres e crianças. Mas o general rejeitou sempre responsabilidades.
Aliás, numa das poucas entrevistas concedidas (ao DNA em 1998) afirmou: "Eu nem estava em Moçambique, mas os três inquéritos que foram mandados fazer – dois por mim e um por Marcello (Caetano) – não revelaram nada. Não houve massacre, nem 400 mortos, só 66".
No pós-25 de Abril chegou a ter a sua residência cercada, esteve preso 17 meses e exigiu uma indemnização ao Estado: cem contos e um escudo foi a quantia recebida. Em 1977 deu a cara pelo MIRN – a face da extrema-direita portuguesa.
A reacção à sua morte foi escassa. Os militares, como o general Loureiro dos Santos, optaram por descrevê-lo como o pai do ensino de estratégia no âmbito da conduta de operações de contra-subversão. O ex-chefe de Estado Ramalho Eanes e o tenente-coronel Vasco Lourenço recusaram-se a comentar a sua morte. Já a Associação de Combatentes do Ultramar lembrou que faleceu “um combatente”.
MARCELO DESTACA ESTRATEGA
O ex-líder do PSD Marcelo Rebelo de Sousa considerou ontem que o general Kaúlza de Arriaga, falecido segunda-feira, se destacou mais como um teórico da estratégia, do que pelos seus êxitos no terreno como comandante militar. "Em geral, (o general Kaúlza de Arriaga) foi um grande organizador e geo-estratego teórico, mais do que um comandante com os correspondentes êxitos no terreno", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa à Lusa.
Marcelo Rebelo de Sousa – cujo pai, Baltazar Rebelo de Sousa, foi governador de Moçambique entre 1968 e 1970, tendo acompanhado a parte inicial da carreira militar de Kaúlza de Arriaga naquela antiga colónia portuguesa – adiantou que o general "teve um papel político muito significativo em três momentos da vida da ditadura terminada a 25 de Abril de 1974". Um desses momentos – recorda o professor – corresponde à data em que (o General) foi "um dos delfins de Salazar, em 1968, abdicando na altura de confrontar Marcello Caetano por considerar que, sendo muito mais novo, tinha ainda hipóteses de lhe suceder no futuro".
MINISTÉRIO
O ministro da Defesa Nacional, Paulo Portas, recusou-se ontem a pronunciar-se sobre a morte do General Kaúlza de Arriaga.
PARTIDOS
O PS remeteu-se a cauteloso silêncio, ao passo que o CDS-PP considerou que o General Kaúlza de Arriaga “serviu à sua maneira o Estado português”.
“Apesar de não partilhar a mesma visão do Mundo com o General, Kaúlza de Arriaga foi sempre coerente à luz dos seus valores”, referiu ao CM o deputado João Rebelo.
MOÇAMBIQUE
A morte do general Kaúlza de Arriaga, cuja carreira esteve ligada a operações militares de combate à guerrilha em Moçambique, passou ao lado dos discursos oficiais que assinalaram ontem o dia dos heróis moçambicanos.
FUNERAL
O funeral de Kaúlza de Arriaga realiza-se hoje pelas 10 horas no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.
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