A primeira e única esposa sentiu-se isolada.
Marcelo Rebelo de Sousa casou-se com Ana Cristina Caeiro da Motta Veiga, no monte alentejano dos avós da noiva, em São Miguel de Machede, em 22 de julho de 1972. Nuno e Sofia, os filhos, seriam a dádiva suprema do enlace. O casal, descendentes diretos de ex-ministros de Salazar, não cumpriram a parte que garantiram ao padre celebrante, o amigo Vítor Melícias, de que a morte seria o único motivo capaz de os separar. Vivos, e distantes, Marcelo assume a culpa do fracasso. Tem a consciência intranquila; não dera a atenção devida ao lar. A Revolução dos Cravos transforma-se numa flor incompetente para ofertar paz conjugal. Marcelo iguala-se a Napoleão Bonaparte por descansar, no máximo, quatro horas noturnas. O intenso trabalho jornalístico e partidário responsabiliza-se pelo afastamento. A esposa sente-se isolada. Tem bom feitio e paciência. Mas não há boia que salve a situação. Farta-se. E uma mulher farta que não seja mimada não permanece com cataratas. Sai de casa. Marcelo estava a pedi-las. O coração de Ana Cristina preenche-se com o engenheiro Jorge Lagrifa.
O recurso para oficializar o fim vive nos papéis civis. Não voltará a dizer ‘sim’. A Igreja Católica não aceita o divórcio. Marcelo concorda com essa cláusula e pelas mesmíssimas razões de princípio não solicita a anulação do matrimónio. Perto de um ano da separação, no arranque dos anos 80, a tristeza do falhanço de esposo passa-lhe e estreia uma relação amorosa com a advogada Rita Amaral Cabral. O romance com a ex-aluna, e que perdura, será, digamos, à moda antiga. Nunca dividiram casa. A namorada, perpétua namorada, não pisará o Palácio de Belém. Ela, que integrou o Conselho de Administração do defunto Banco Espírito Santo, foi o elo de ligação para que a amizade entre Marcelo e Ricardo Salgado brotasse.
No domingo da queda do banco, em 13 de julho de 2014, Rita esteve presente na derradeira reunião daquele órgão, e sugeriu um encómio ao presidente tombado no beco do desaire. O namorado não alvitrou nada. Jamais tocou, sequer, uma nota musical no BES. Noutro domingo, em 14 de dezembro de 2014, o seu comentário na TVI suscitaria contestação forte e feia. Marcelo asseverara que o BESI, encabeçado por José Maria Ricciardi, avalizara as obrigações correspondentes ao papel comercial do GES e que este não quisera largar o grupo, mesmo depois do conflito com Ricardo Salgado. José Maria Ricciardi não se limitou a desmentir sobre o seu papel na derrocada do GES/BES. Acusou Marcelo "de ter muita mágoa por não poder continuar a passar as suas habituais e luxuosas férias de fim de ano na mansão à beira-mar no Brasil de Ricardo Salgado".
A roupa suja seguiria na máquina de lavar. Marcelo defende a honra: podia suportar as viagens à capital do samba e pagar – como sempre pagou – rotativamente as refeições. As ricas folgas não se limitavam no Atlântico. Iam idem para o Mediterrâneo. Marcelo garantiu que abonava avião e barco; "meias, só nas pernas".
Esse ano de 2014 também atirou o sapato a Miguel Pais do Amaral. "Essa coisa de ‘não te posso ver mais porque és arguido’ faz mal às minhas ambições pessoais futuras". Se Ricardo Salgado não se saísse bem do processo judicial do BES, Marcelo Rebelo de Sousa, por ser seu amigo, não teria condições para concorrer. Se recuarmos ao ano de 1999 e pararmos no escarcéu da Universidade Moderna, lembrar-nos-emos da preocupação que Marcelo teve com os reflexos que as acoplagens profissionais e os vínculos pessoais de Paulo Portas aos arguidos da Moderna, e que congregavam condições para afundar a tentativa que ambos sonharam recriar, a Aliança Democrática. O conde da Anadia sintetizava a descabida candidatura presidencial alterando o ditado popular: "Diz-me quem são os teus amigos, dir-te-ei quem és". A rixa vinha, tal como o anúncio do Constantino, de longe. O então presidente da Media Capital considerou inaceitável que houvesse uma informação e opinião antigovernamental na TVI. Marcelo, que não sentia piedade pelo governo breve e animado de Santana Lopes, bateu com a porta.
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