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Oposição na Câmara de Lisboa condena declarações de Moedas sobre imigração

Autarca do PSD disse que os imigrantes devem vir para Portugal já com um contrato de trabalho.

15 de fevereiro de 2023 às 15:28

A Câmara Municipal de Lisboa aprovou esta quarta-feira um "voto de preocupação" sobre o direito a migrar, apresentado pelo BE e viabilizado com os votos favoráveis de toda a oposição, condenando declarações do presidente do executivo, Carlos Moedas (PSD).

"Condenar as declarações do presidente da CML [Câmara Municipal de Lisboa], onde pretende restringir o direito a migrar associando-o exclusivamente à procura de trabalho, dizendo que as pessoas em processo de migração podem vir para Portugal 'só se tiverem um contrato de trabalho'", lê-se no voto de preocupação intitulado "Lisboa diz: imigrantes bem-vindos!".

Em reunião privada do executivo camarário, o voto foi viabilizado com os votos contra da liderança PSD/CDS-PP (sete eleitos) e os votos a favor de toda a oposição, nomeadamente PS (quatro), Cidadãos Por Lisboa (duas vereadores eleitas pela coligação PS/Livre), PCP (dois), BE (um) e Livre (um).

O voto condena ainda as declarações de Carlos Moedas, nas quais o autarca defendeu a necessidade de "estabelecer um contingente" relativamente ao que o país precisa, referindo-se às pessoas em situação de migração.

Com a proposta do BE, apoiada pelos restantes vereadores da oposição, a Câmara de Lisboa manifesta "preocupação com o aumento dos discursos de ódio e anti-imigração".

O texto reforça, também, que a câmara tem de "promover a implementação de políticas municipais robustas que garantam a proteção dos direitos humanos e o bem-estar das pessoas migrantes que moram em Lisboa".

Na terça-feira, na reunião da Assembleia Municipal de Lisboa, o social-democrata Carlos Moedas afirmou que não aceita lições "de ninguém" sobre emigração e imigração, realçando a experiência pessoal nesta matéria, e reiterou que Portugal precisa de uma política de imigração digna.

"Eu fui emigrante, sou casado com uma imigrante, o meu sogro é marroquino, a minha sogra é tunisina, por isso, há algo que gostaria de deixar muito claro: não aceito lições de ninguém nesta matéria, de ninguém", declarou o autarca do PSD, sublinhando que frisou que as comunidades de imigrantes "são bem-vindas, são lisboetas" e que o município lutará "por elas, mas com dignidade".

Em entrevista ao jornal Público e à Rádio Renascença, divulgada na quinta-feira, Carlos Moedas disse que existe "um problema gravíssimo de sobrelotação" de habitações que acolhem imigrantes em algumas zonas de Lisboa e defendeu que nas políticas de imigração é necessária a existência de contingentes e que os imigrantes devem vir para Portugal já com um contrato de trabalho.

Além do voto de preocupação, a Câmara de Lisboa aprovou esta quarta-feira, por unanimidade, três votos de pesar, apresentados por BE, Livre e Cidadãos Por Lisboa, pela morte de duas pessoas, imigrantes de nacionalidade indiana, no incêndio que deflagrou em 04 de fevereiro num prédio na Rua do Terreirinho, no bairro da Mouraria.

O executivo viabilizou, também, um voto de pesar proposto pela liderança PSD/CDS-PP, que foi aprovado com a abstenção do BE e votos a favor dos restantes, em que refere que o incêndio na Mouraria "teve início numa habitação de propriedade privada, com evidente sobrelotação e ausência de condições mínimas de habitabilidade, em total violação das disposições normativas em vigor", lembrando que foram registadas 16 vítimas, "entre as quais dois mortos -- um dos quais um jovem de 14 anos -- , que já tiveram alta hospitalar".

"A Câmara Municipal de Lisboa está fortemente empenhada em colaborar, no quadro das suas atribuições e competências, com as demais instituições autárquicas, governamentais e da sociedade civil para a identificação de situações similares que comprometam a segurança e o bem-estar de quem vive e trabalha em Lisboa", lê-se no voto de pesar apresentado pela liderança PSD/CDS-PP.

Neste âmbito, os vereadores do PCP afirmaram que "a intervenção da câmara fica aquém daquilo que deveria ser feito, falta fiscalização e a adequação dos usos aos licenciamentos atribuídos", considerando que "o problema é de habitação e não de imigração" e questionando sobre a informação disponível relativamente à sobrelotação das habitações e às condições de segurança das edificações.

Por proposta do PCP e do Livre, o executivo decidiu ainda manifestar "profundo pesar" pelas vítimas dos sismos na Turquia e na Síria, que ocorreram na madrugada de 06 de fevereiro.

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