Aos 83 anos, chegou ao fim o percurso de um dos políticos mais controversos da história nacional. Vasco Gonçalves morreu ontem à tarde, em Almancil, enquanto nadava numa piscina, na casa de um irmão.
Apesar de ter sido dispensada a autópsia, presume-se que a causa da morte tenha origem numa síncope, isto é, uma suspensão brusca e momentânea da actividade cardíaca.
Face aos estado de debilidade que o general enfrentava, o próprio médico o tinha aconselhado a praticar natação. Vasco Gonçalves foi imediatamente assistido por familiares mas acabou por sucumbir. O general foi uma das figuras mais relevantes no período revolucionário do 25 de Abril de 74. Amado por muitos, odiado por outros tantos, Vasco Gonçalves chefiou o governo nos I, II, IV e V governos provisórios, entre 18 de Julho de 1974 e 10 de Setembro de 1975.
Durante o Período Revolucionário em Curso, mais conhecido por PREC, o nome do ex-primeiro-ministro surgiu associado, em manifestações de rua do ‘Verão Quente de 75’, ao grito de ordem “força, força, companheiro Vasco, nós seremos a muralha de aço”.
Marcadamente conhecido pela veemência das suas posições, acreditava nas democracias populares, tinha como bandeira a nacionalização da banca e foi um forte opositor no combate aos monopólios e latifúndios durante o chamado ‘gonçalvismo’, nome como é conhecida a sua permanência no Governo.
Para o Presidente da República Jorge Sampaio, Vasco Gonçalves “marcou profundamente com a sua personalidade” o 25 de Abril, período “muito conturbado” da História recente do País. Também o primeiro--ministro, José Sócrates, lamentou a morte do general, e definiu-o como “um homem de convicções e de ideais, que foi primeiro-ministro de Portugal num período difícil e conturbado da construção do regime democrático”.
O ‘companheiro Vasco’ assumiu-se sempre como “um representante do Movimento das Forças Armadas (MFA) no Governo”, mas acabou por ser acusado pelos seus opositores de ser próximo do PCP, acabando por ser afastado da chefia do Executivo sob a acusação genérica de incumprimento do ideário do MFA.
O mesmo PCP, nas declarações de José Casanova, já elogiou o contributo dado por Vasco Gonçalves no período revolucionário e considerou-o o rosto daquele que foi “o período mais luminoso da história do nosso país”.
Numa entrevista recente que assinalou os 30 anos das eleições para a Assembleia Constituinte, o general, que entrou na reserva em 1975, recusou a conotação do seu governo com as “tendências totalitárias” de que eram acusados e reafirmou os ideais socialistas com que governou o País durante o PREC. Vasco Gonçalves considerou ainda que o País vive actualmente sob “uma ditadura da burguesia de fachada democrática”.
À hora de fecho da edição, era ainda desconhecida a data do funeral, assim como o local em que o corpo ficará em câmara-ardente.
PAI DA REFORMA AGRÁRIA
Político controverso e de fortes convicções, Vasco Gonçalves, também conhecido por muitos como o ‘companheiro Vasco’, ficará para sempre conotado historicamente como o principal mentor da reforma agrária em Portugal. E foi exactamente no plano das afirmações sociais, especialmente durante o PREC, que a sua luta ganhou maior evidência. A nacionalização da banca e a defesa de melhores condições laborais, entre elas a existência de salário mínimo, subsídios de Natal e de férias, são algumas das bandeiras pelas quais se pautou o seu ideial de socialismo.
Mário Soares, ex- Presidente da República e um dos nomes que mais se opôs ao general, afirmou que, apesar dos “choques inevitáveis” entre ambos, não pode deixar de reconhecer “a sua honestidade e boa-fé”. Soares considerou-o ainda como um homem com “uma bondade natural”. Mário Soares, ex-presidente
“Era um homem bom, um patriota, um homem do 25 de Abril, que foi bastante importante em todo o processo, independentemente de divergências que eu próprio tive com ele e que foram fortes na altura. Para além do mais desapareceu-me um amigo”, disse Vasco Lourenço, capitão de Abril. Vasco Lourenço, capitão de Abril
O líder da bancada parlamentar do PS recordou o general como “um homem do 25 de Abril” e elogiou “a grande coerência e dimensão cívica” do militar. Alberto Martins não esquece que esta “foi uma figura polémica” mas afirmou que o PS se curva “perante a sua memória”. Alberto Martins, dirigente do PS
Miguel Macedo, secretário-geral do PSD, não quis deixar de “prestar homenagem” ao militar de Abril, apesar de reconhecer que o trajecto seguido pelo ex-primeiro-ministro sempre mereceu as mais vivas discordâncias por parte dos sociais-democratas. Miguel Macedo, dirigente do PSD
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