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Sócrates contra lições de democracia à Rússia

A um mês do início da presidência portuguesa da União Europeia (UE), José Sócrates e Vladimir Putin deixaram ontem a porta aberta para a assinatura de um acordo entre a UE e a Rússia.

30 de maio de 2007 às 00:00

O presidente russo garantiu mesmo que “queremos assinar tal acordo”, mas, desde que “seja assinado respeitando os interesses de ambas as partes”. E o primeiro-ministro português, ciente de que o respeito pelos direitos humanos é um obstáculo nas relações entre a UE e a Rússia, afirmou que estas são um assunto “muito sério” e que não podem ser “contaminadas” por “lições irresponsáveis” em matéria de democracia e de direitos humanos.

A sala verde do Kremlin, um espaço com paredes decoradas a verde e tecto banhado a ouro, de onde pendia um enorme candelabro de cristal, foi o centro da recepção de Putin a Sócrates: durante duas horas e quarenta minutos , o presidente russo e o primeiro-ministro português analisaram, como explicou Putin, “detalhadamente as relações bilaterais”. No final de “uma reunião franca e aberta”, Putin manifestou a esperança de que “no segundo semestre deste ano, quando Portugal assumir a presidência da UE, haja novo impulso nas relações” UE e Rússia.

Com as relações políticas entre a UE e a Rússia a atravessar o pior momento dos últimos anos, de que são exemplo as divergências a propósito do estatuto do Kosovo, o embargo russo às exportações de carne de vaca polaca e o escudo antimíssil que os EUA pretendem instalar na Europa, Sócrates deixou claro que “a relação entre a UE e a Rússia precisa de ganhar confiança e que são precisos sinais positivos de ambos os lados”. Para o primeiro-ministro português, a UE e a Rússia já viveram “de costas voltadas demasiado tempo no passado e este é o momento para construir um Mundo de paz e de segurança que inclua a Rússia”.

Face as divergências entre a Europa e a Rússia sobre os direitos humanos, Sócrates foi peremptório: “Ambas as partes têm interesse na valorização da democracia e dos direitos humanos”, mas “ninguém deve dar lições a ninguém: nem a Europa à Rússia, nem a Rússia à Europa”. Até porque “as democracias são sempre obras inacabadas”.

Já Putin desvaloriza as acusações de violação dos direitos humanos na Rússia porque “existe a pena de morte num país ocidental [numa alusão aos EUA], prisões de tortura no Ocidente, as leis sobre emigração em certos países ocidentais não correspondem às leis internacionais”. E, rematou, “não vamos resolver as coisas como se de um lado estivessem as pessoas limpinhas e do outro as outras”. Para já, Putin deixou claro que apreciou muito a atitude de Sócrates sobre o fortalecimento das relações entre a Rússia e a UE.

PRAÇA VEDADA PARA O JOGGING

A segurança russa encerrou ontem de manhã a Praça Vermelha – uma das mais movimentadas de Moscovo – para que o primeiro-ministro, José Sócrates, fizesse o seu habitual jogging em visitas oficiais. Segundo fonte diplomática lusa, da parte do Executivo de Lisboa não houve qualquer pedido nesse sentido e a decisão de encerrar a praça “foi da exclusiva responsabilidade das autoridades russas”. O primeiro-ministro correu entre as 08h15 e as 09h00. Deu três voltas à Praça Vermelha, acompanhado de Dionísio Pestana e de seguranças.

PLATAFORMA

O primeiro-ministro, José Sócrates, deixou ontem aos investidores russos a mensagem de que Portugal é uma plataforma estratégica para as empresas russas colocarem os seus produtos nos mercados africano e americano.

PASSADO

As normas de segurança no Kremlin deixaram ontem os jornalistas portugueses à beira de um ataque de nervos. Uma viagem ao interior do Kremlin é uma espécie de regresso ao tempo dos Sovietes ou à Guerra Fria. Para entrar, por exemplo, era preciso ter passaporte.

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