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UCCLA receia que declarações de Nuno Melo sobre Olivença ponham em causa o 10 de Junho

Desde o tratado de Alcanizes, em 1297, que Olivença é uma cidade reivindicada por direito por Portugal, mas que Espanha anexou e mantém integrada na província de Badajoz, na comunidade autónoma da Extremadura.

18 de setembro de 2024 às 13:44

O secretário-geral da UCCLA, organização de que Olivença é associada, receia que as declarações do ministro da Defesa português a reclamar a soberania da cidade ponham em causa as atividades culturais ali desenvolvidas, como o 10 de Junho.

"A declaração que foi feita, vinda de quem vem... A pessoa que fez a declaração é ministro da Defesa e, como ministro da Defesa, fê-lo num local ligado à defesa nacional; e isso tem interpretações", disse à Lusa Vitor Ramalho, secretário-geral da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA).

Vitor Ramalho reagia, desta forma, à declaração de Nuno Melo na passada sexta-feira, durante a cerimónia comemorativa do Dia do Regimento de Cavalaria N.º 3 (RC3), em Estremoz, de que "Olivença é portuguesa, naturalmente, e não é provocação nenhuma".

"Aliás, por tratado, Olivença deverá ser entregue ao Estado português", continuou Nuno Melo, em resposta aos jornalistas.

Para Vitor Ramalho, "a questão do tratado que é invocado é uma questão que obviamente é acompanhada pelos dois Estados, de uma forma discreta, como estas situações que existem muitas no mundo, em termos de fronteiras, e, com o decurso do tempo, não significa que sejam sedimentadas na perspetiva daquilo que foi escrito não valer, mas têm de ser cuidadas com alguma sageza e a consciência do que é a própria defesa da pátria".

Desde o tratado de Alcanizes, em 1297, que Olivença é uma cidade reivindicada por direito por Portugal, mas que Espanha anexou e mantém integrada na província de Badajoz, na comunidade autónoma da Extremadura, apesar de ter reconhecido a soberania portuguesa sobre a cidade quando subscreveu o Congresso de Viena, em 1817.

O secretário-geral da UCCLA sublinha as boas relações entre os dois países (Portugal e Espanha) e recorda que algumas das medidas que espelham este bom relacionamento foram impulsionadas por Ribeiro e Castro, que já assumiu a presidência do CDS, atualmente ocupada por Nuno Melo.

"Foi ele o impulsionador do facto, e bem, de hoje os oliventinos terem dupla nacionalidade, se quiserem, de se celebrar lá o 10 de Junho, depois com o meu contributo e da UCCLA e dos seus colaboradores", disse.

O maior receio de Vitor Ramalho é que "o 10 de junho não se volte a comemorar nos próximos anos em Olivença", tal como acontece desde 2019, porque "isso não depende do senhor ministro da Defesa [português], depende do alcaide de Olivença e eu sei bem as pressões que estas coisas têm sempre, porque há sempre reações mais emotivas, mais populistas, mais defensoras da identidade, não tendo em atenção o mundo global em que nós vivemos e as relações que já se estabeleceram de outra natureza".

"Qualquer cidadão, se for a Olivença, percebe o que estou a dizer, porque chega e vê-se que os oliventinos e o alcaide tiveram e têm o cuidado de preservar a cultura portuguesa, a boa relação com Portugal, comemorar o 10 de Junho", observou.

No mesmo dia em que Nuno Melo proferiu estas afirmações, o presidente da câmara de Olivença, Jose González Andrade, considerou infelizes e deslocadas as declarações de Nuno Melo e sublinhou que o próprio ministro "foi consciente" disso mesmo e posteriormente esclareceu que são uma posição pessoal que não vincula o Governo português.

Para o autarca, o ministro não pode "fazer este tipo de declarações sobre polémicas esquecidas" e disse que os habitantes de Olivença "sabem onde estão, orgulhosos do seu passado português" e afastados "de discursos anacrónicos que só pretendem dividir e levantar muros onde há muito tempo há pontes".

Olivença é uma cidade espanhola com cerca de 12.000 habitantes que mantém monumentos e património portugueses, os quais têm vindo a ser recuperados e restaurados.

Em maio de 2023, Olivença celebrou pela primeira vez o Dia da Língua Portuguesa.

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