Tensão e reforço policial no arranque da instrução do caso da morte do adepto Igor Silva
Igor foi agredido e esfaqueado 18 vezes. Mãe do falecido exige que tanto a mulher como a filha de 'Orelhas', sejam julgadas pela morte do seu filho.
Decorre, esta quarta-feira, no Tribunal de Instrução Criminal (TIC) do Porto, a instrução do caso do homicídio de Igor Silva, adepto morto em confrontos junto ao Estádio do Dragão durante os festejos do campeonato 2021/22.
Antes do arranque da instrução houve alguns momentos de tensão entre a mulher e a filha de Marco 'Orelhas' e amigos de Igor Silva.
O início do debate estava num impasse pois Marco Gonçalves entende que a mãe de Igor Silva não deveria ser representada pelo advogado Nelson Sousa, uma vez que este advogado já representou ‘Orelhas’ num outro processo, mas o juíz não viu motivo para afastar advogado do processo e, por isso, a sessão pode arrancar nesta quarta-feira.
O juíz começou por ouvir Carlos Rosa, mais conhecido como 'Jonai', que nega o envolvimento na morte de Igor Silva.
"É impossível, eu era amigo dele. Vi o Igor a crescer", disse.
'Jonai' afimou, ainda, não ser adepto do FC Porto e garantiu que só esteve nos festejos a pedido da namorada. "Não sabia que existiam conflitos entre a família do Igor e do Marco", acrescentou.
"Eu vinha com a minha namorada a descer a Alameda e nesse momento o Diogo (outro arguido) chamou-me. Foi nesse momento que aconteceu toda a confusão. Eu só tentei separar as raparigas que andavam à pancada", continuou.
O arguido afirma que não viu Igor Silva no local e qua apenas viu muitas pessoas a correr. 'Jonai' diz que, mais tarde, viu Marco Gonçalves a pedir uma camisola pois estava "todo cortado" e "a sangrar das costas".
Confrontado com imagens do processo que mostram movimentações junto ao estádio do Dragão, Carlos Rosa começou a chorar, tendo dito, "Eu não consigo dormir há mais de um ano, eu não fiz nada. Isto não tem pés nem cabeça. Era incapaz". O arguido do processo disse ainda que no momento em que saiu do estádio, não sabia da morte de ninguém.
O juíz disse que Carlos Rosa está a mentir nas declarações e que não está a dizer tudo aquilo que viu e sabe sobre o crime.
Augusta Sousa, mãe de Igor, tem uma camisola com o nome do filho e que tem estampada a imagem de uma coroa.
O procurador do Ministério Público diz que a instrução não trouxe nenhuma prova nova que altere aquilo que consta da acusação e pede que todos os arguidos sejam pronunciados e julgados pelos crimes que constam já na acusação.
O advogado da mãe de Igor defende que a mulher e a filha de Orelhas devem ser julgadas pelo homicídio. "Fazem chamadas, começam com tudo, impedem o auxílio ao Igor. Não há uma participação ativa delas no homicídio? Há, claramente", diz Nelson Sousa. As duas mulheres são já arguidas no processo por agressões a uma jovem também junto ao Estádio do Dragão.
A advogada Luísa Macanjo, que defende Rui ‘Dentinho’, faz questão de salientar que Igor "não era o santo beatificado que aparece aqui neste processo". Diz que o jovem de 26 anos tinha antecedentes e que alguns arguidos também são vítimas. Em relação a Rui ‘Dentinho’ refere que não há uma única imagem que o coloque no local do crime. A advogada pede que ‘Dentinho’ não seja julgado. Diz que seria um ato "injusto e desproporcional".
O advogado de Paulo Cardoso ‘Chanfra’, cunhado de ‘Orelhas’, diz que não existem factos suficientes para lhe imputar o crime de homicídio. Que apenas duas testemunhas o colocam no local do crime e que uma delas até refere que Paulo se mostrou surpreendido ao ver o estado em que o Igor estava. O advogado pede agora que seja revista a medida de coação. O arguido está em prisão preventiva há mais de um ano.
"Estamos a falar de um crime gravíssimo, mas sujeitar alguém a um julgamento em praça pública, sujeitar alguém a ser visto como um homicida sem ter sido também é gravíssimo", diz a advogada Carlos Rosa, Cristiana Carvalho Reis.
Marisa e Iara, mulher e filha de Marco Gonçalves, queixaram-se à PSP de que foram esta quarta-feira ameaçadas por familiares de Igor Silva. Alegam que receberam ameaças de morte.
Poliana Ribeiro, que defende Marisa e Iara, diz que o pedido para que as duas mulheres sejam julgadas por homicídio é ridículo.
A decisão do juíz será comunicada por despacho até domingo, para que o Renato Gonçalves não seja libertado.
Igor, de 26 anos, foi agredido e esfaqueado 18 vezes. A acusação diz que o autor das facadas foi o filho de Marco 'Orelhas', Renato Gonçalves. O crime terá sido motivado por conflitos antigos entre a vítima e os arguidos.
A mãe do falecido exige que tanto a mulher, como a filha de 'Orelhas' sejam julgadas pela morte do seu filho, por entender que estas participaram ativamente no crime violento.
A fase de instrução permite aos arguidos contestar a acusação. No total, estão oito pessoas acusadas pela morte de Igor.
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