"A minha filha sobreviveu mas está como morta"
Joana perdeu o marido e o filho bebé na tragédia do largo do Monte.
É com lágrimas nos olhos e sem esconder a revolta que José Camacho recorda a tragédia. Também estava na festa, mas num ponto mais distante, quando a árvore caiu.
Morreu o genro e o neto, com apenas 15 meses. Salvou-se a filha, que já sabe do desfecho. Da morte dos seus. "A minha filha sobreviveu, mas está como morta. As fraturas podem curar-se, mas dificilmente vai conseguir recuperar e recomeçar a vida", diz, em lágrimas, José Camacho, quando chega ao hospital para visitar Joana. "Ela estava com o marido e o bebé, o Gustavo. Quando a árvore caiu teve o instinto de fugir e só depois percebeu que eles não tinham conseguido. A árvore atingiu o meu neto, o pai morreu com o menino ao colo", continua, sem esconder a revolta. "Não sabíamos do perigo, desconhecíamos os avisos", garante ainda.
Diogo Camacho cumpria uma promessa. Estava naquele local para acender uma vela em honra da Nossa Senhora do Monte.
Na terça-feira, a procissão era o ponto alto da festa. O piloto de rali, residente no Funchal, agradecia por Gustavo ser um menino saudável. "O meu neto nasceu prematuro, com apenas seis meses. A minha filha e o meu genro iam agradecer a dádiva", diz José Camacho, que ainda está em choque. "Eu e a minha mulher tínhamos acabado de sair do local para ir ver umas carnes para almoçarmos. Só por isso escapamos ", afirma, dizendo que agora o importante é ajudar a filha: "Temos de lhe dar força para viver".
Filho exige responsabilidades
Ana Freitas fez, terça-feira, 63 anos. Foi assistir à procissão da Nossa Senhora do Monte, onde devia ter colocado uma vela em homenagem ao marido, que faleceu há pouco mais de um ano, vítima de cancro.
"A minha mãe foi colocar uma vela e ver a procissão. Foi atingida pela árvore, não conseguiu fugir", diz Marco Sousa, o filho, que não esconde a revolta. "Não consigo perceber como foi possível. Quero que sejam encontrados os culpados. Que haja responsáveis pela queda da árvore. Toda a gente sabia do perigo e ninguém fez nada", lamenta o jovem, visivelmente abatido. A tragédia bateu novamente à sua porta. Fica, agora, órfão de pais. "Perdi o meu pai há um ano. Agora a minha mãe. É muito duro", afirma.
A família está devastada. E quem conhecia Ana Freitas também chora a sua morte. Morava no Monte, a menos de um quilómetro do local da tragédia. Tentava refazer-se da perda do marido. "Não sabemos como lidar com isto. Estamos em choque", diz o filho.
"A câmara tem culpa. Têm de atuar, a bem ou a mal. Não deixar que esta tragédia se repita, que outra árvore volte a matar pessoas", concluiu.
"A minha única forma de ajudar foi abrir a barraca e dar o que pensava vender"
Paulo Gomes é dono de uma das barracas que estava na festa. Ao CM garantiu que nada foi possível fazer para evitar a tragédia. "Quando ouvimos o barulho a árvore caiu. A minha forma de ajudar foi abrir a minha barraca para dar às pessoas o que pensava vender. A festa acabou naquele momento. Nunca pensei ver uma tragédia destas dimensões".
Estava no local para cumprir promessa
Dulce Vieira estava no local para cumprir uma promessa. "Conseguimos fugir por milagre. A minha filha ainda foi atingida de raspão, ficou com várias marcas no corpo. Os meus netos estavam connosco, foi um terror", diz Dulce Vieira, que soube minutos depois que a vizinha Ana tinha morrido. "Não consigo esquecer. É um pesadelo".
"Não consigo esquecer. Tudo regressa e volto a viver o terror a cada momento"
Maria Santos diz que está a rever tudo em câmara lenta a cada minuto. Não conseguiu dormir, continua em choque. "Estava com o meu marido quando ouvimos o barulho da árvore. Fugi para o lado certo e salvei-me. Mas vi gente morta ao meu lado, não consigo esquecer. Parece que tudo regressa e volto a viver o terror a cada momento", conta.
Viu marido morrer
Rosa Fernandes viu o marido, Carlos Fernandes, de 52 anos, morrer. Diz que teve sorte. "Fugi para o outro lado, foi um milagre", afirma, comovida.
Tudo muito rápido
A mulher da mesma vítima mortal conta que foi tudo muito rápido. Não foi possível fazer nada. "Por muitos anos que viva nunca vou esquecer", disse.
Autópsias no hospital
Durante o dia de ontem foram realizadas várias autópsias. Os corpos deverão ser entregues hoje às famílias.
Funerais por marcar
Os funerais ainda não estão marcados. Ninguém sabe quando se irão realizar.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt