Investigadores de tragédia do Douro denunciam voos rasantes de 'turismo' no regresso dos fogos

Caso do helicóptero que caiu faz sábado um ano no rio, em Lamego, matando cinco militares da GNR.

29 de agosto de 2025 às 11:47
Destroços do helicóptero acidentado no rio Douro Foto: Paula Lima/Lusa
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Os investigadores do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves (GPIAAF) identificaram inúmeros casos de helicópteros de combate a incêndios que, no regresso de missões canceladas, se desviaram da rota direta para o centro de meios aéreos e voaram desnecessariamente e a baixa altitude sobre “zonas de interesse paisagístico”. Um “relaxar dos procedimentos” normalizado e aceite por todos: pilotos e equipas de helitransportadas de combate a fogos. “São práticas observadas com alguma frequência” e que fazem aumentar o risco das missões. “Se evitadas, poderiam ter impedido a ocorrência” - a morte de cinco militares da GNR quando o ‘héli’ em que seguiam de uma missão abortada em Baião regressava a Armamar e caiu no rio Douro, em Cambres, Lamego, faz sábado um ano. O GPIAAF publicou quinta-feira o relatório final do acidente que teve o piloto do helicóptero, Luís Rebelo, como único sobrevivente. Este homem foi constituído arguido em julho e é investigado pela Judiciária, estando indiciado dos crimes de condução perigosa de meio de transporte por ar e homicídio negligente.

Tal como o CM adiantou a 18 de agosto, a investigação apurou que, ao contrário do que o piloto sempre alegou, não há indícios de que tenha havido uma avaria na aeronave ou que se tenha desviado de uma ave antes de colidir com a superfície do rio a cerca de 131 nós (242 km/h), num choque de 24,3 G's, matando os cinco GNR: três com o impacto e dois afogados. Luís Rebelo desrespeitou a altitude mínima e desviou-se da rota, aumentando sem justificação o risco do voo - tal como já havia feito duas vezes, na mesma zona, duas semanas antes, uma delas a apenas dois metros da água. Não explicou porquê o fez, disse apenas que várias vezes se desviava a pedido dos GNR e que essa era uma prática aceite entre todos, o que foi confirmado por outros pilotos de bases de todo o País. A investigação refere como "possível admitir com elevado grau de certeza que as condições de reflexo da superfície da água poderiam impactar na capacidade de julgamento do piloto relativamente à altura à água na escolha da trajetória do helicóptero". 

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Voava com 82 kg de peso a mais

O helicóptero estaria "a voar com 82 kg acima da sua massa máxima autorizada", concluem os investigadores do GPIAAF, que chegaram a esse valor através do peso do combustível e dos tripulantes e material de sapador que carregavam. Isto uma vez que o dado inicialmente era de 67,6 kg de média por cada ocupante, "valor claramente subestimado". "Situação determinada como recorrente não só na base de Armamar como nas restantes 47 CMA", refere. Esse "carregamento do helicóptero fora dos seus limites operacionais definidos pelo fabricante tornam imprevisível o seu comportamento dinâmico em voo".

Piloto não fez teste de álcool ou drogas

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Os exames toxicológicos nas autópsias aos cinco GNR "excluem qualquer intoxicação por etanol, drogas de abuso ou medicamentos". "Por motivos que a investigação não conseguiu apurar, não foram realizados ao piloto testes de despistagem para as mesmas substâncias no processo de admissão e internamento hospitalar, embora tenha sido feita a recolha de sangue para o processo cirúrgico e internamento", assinalam os investigadores.

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