"Não os vamos deixar aqui, são nossos"
Luto e emoção no adeus aos 12 emigrantes.
Não os vamos deixar aqui, são nossos", repetia a jovem. Não chorava. Gritava em desespero, recusando aceitar a realidade. Os três caixões - do tio, da tia e da prima de sete anos - tinham acabado de descer à terra e a familiar recusava-se a abandonar o cemitério: "Mãe, eles estão ali os três, não os podemos deixar".
Em Espadanedo, Cinfães, mais de um milhar de pessoas acompanhou os funerais. Nas restantes localidades, de Norte e Centro do País, outros tantos prestaram uma última homenagem aos 12 portugueses mortos no acidente de Quinta-feira Santa nos arredores de Lyon, França, emigrantes na Suíça que vinham passar a Páscoa a Portugal. Um adeus marcado pelas lágrimas, emoção e sofrimento. Pela dor conjunta e sem limites.
"Deus estava naquela estrada. Estava na Nacional 79 e abraçou-os. Pode ser difícil perceber, entender o que aconteceu. Mas Deus não vos abandonou", disse o bispo de Lamego, perante as lágrimas dos familiares - em pranto com a morte de Angelina, Jorge e a filha Marta.
A igreja de Espadanedo foi pequena para acolher os que quiseram participar no último adeus. No cemitério também não conseguiram entrar todos. Foram vários os que, amparados, tiveram de sair da matriz. Houve mesmo necessidade dos bombeiros atuarem.
A freguesia, vestida de luto, parou durante a tarde desta quarta-feira. Fez-se silêncio quando as urnas percorreram os cerca de 200 metros que separavam a igreja do cemitério. O sino da igreja também se calou. Ouviam-se apenas choros abafados, gritos quase inaudíveis. Sobravam as lágrimas.
"Uma menina, uma criança, um anjinho que não teve culpa", repetia também uma idosa, vezes sem conta, à passagem da urna de Marta, a vítima mortal mais nova do acidente que, na última quinta-feira, matou 12 portugueses.
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