Débora Carvalho
JornalistaCatarina Cascarrinho
JornalistaDecorre esta terça-feira, no Tribunal de Setúbal, a quinta sessão de julgamento das cinco pessoas acusadas do envolvimento no homicídio de Jéssica, a menina de três anos assassinada em junho do ano passado.
Vão ser ouvidas várias testemunhas, entre elas um perito médico legal que vai falar sobre a autópsia da menina. O relatório fala em mais de uma centena de lesões no corpo da criança.
Entre os arguidos no caso estão Inês Sanches, a mãe da menina, Tita, ama de Jéssica, Justo, Eduardo e Esmeralda, marido e filhos de Tita, respetivamente.
A sessão deveria ter começado às 9h30, mas foi adiada para as 11h00 devido à greve dos funcionários judiciais.
Começa a sessão de julgamento
Mãe de Jéssica quebra o silêncio e vai falar pela primeira vez em tribunal. Juiz diz que quer produzir a prova toda e ouvir Inês Sanches no fim.
"Menina tinha uma nódoa negra na cara", refere testemunha
Uma testemunha começa a prestar declarações.
A mulher tinha uma loja de roupa, conhece Inês [mãe da criança] e conhecia Jéssica. "A última vez que vi a Inês estava com a Tita, com a Esmeralda e a menina", referiu.
"Foi no dia em que a menina foi para o hospital. A Inês estava com a menina no colo enrolada numa manta e as duas senhoras estavam de frente para ela", acrescentou.
A testemunha refere que não conseguiu ver o rosto da criança. "Só percebi que a menina estava tapada. Achei aquilo um bocado estranho porque a menina era muito mexida e eram 9h00 da manhã", garantiu.
"Isto foi no dia em que soube que a menina morreu", disse a testemunha.
A mulher garante ainda que não tinha "grande ligação" com Inês e que era apenas sua cliente.
"Lembro-me da menina ter ido lá à loja com a mãe. A Inês tinha ido buscar uma encomenda. Isto umas três semanas antes disto acontecer. A menina tinha nessa altura uma nódoa negra na cara. Eu perguntei, mas a Inês disse que a menina tinha caído", garantiu.
Testemunha terá visto Esmeralda e Tita a entregar a menina a Inês no parque do Quebedo, em Setúbal.
Juiz tenta perceber em que local a testemunha viu as arguidas com a menina.
"Elas estavam a falar, mas não estavam a discutir, nem a rir. Estavam as três completamente paradas, conversavam normalmente, elas estavam normais", relatou a testemunha.
"Não havia ali nada suspeito, só achei estranho a menina estar deitada. O corpo estava todo coberto com a manta", voltou a repetir.
Advogada de Tita pergunta se no convívio que tem com Inês e Jéssica, a que horas costumava ver a menina.
"A Inês sempre foi à loja muito mais à tarde do que de manhã. Foi a primeira vez que as vi juntas. Não conhecia as outras duas senhoras", asseverou a mulher.
Terminou o depoimento.
Bruxa Tita comprou lixívia de dois litros no dia em que Jéssica morreu
Começa a prestar declarações uma segunda testemunha que tem uma mercearia. Conhece todos os arguidos de vista.
"Lembro-me do dia em que a menina morreu porque foram polícias para perto da minha porta", começa por dizer.
"Só sei que a senhora mais velha [Tita] foi à minha mercearia comprar uma garrafa de lixívia. Foi no dia em que a menina morreu", garantiu a testemunha.
"Ela nunca ia lá comprar nada, não era minha cliente, mas nesse dia foi lá comprar a lixívia. Foi mais ou menos ao final do dia", disse.
"Ela estava descontraída, não estava aflita. Comprou uma lixívia de dois litros", afirmou.
Testemunha refere que está na mercearia há muitos anos e que Tita já tinha comprado "bolinhos" para o neto, mas não era uma cliente frequente.
"Nesse dia fechei por volta das 18h30, os guardas estavam já ali e soube que a menina tinha morrido. A polícia chegou lá da parte da tarde, por volta das 17h00", relatou.
Testemunha refere ainda que Tita comprou lixívia antes da polícia chegar.
Termina primeira parte da sessão de julgamento
Sessão vai ser retomada às 14h00.
Advogada de mãe de Jéssica diz que arguida “está disposta a responder a tudo”
Começa a segunda parte da sessão de julgamento
Testemunha já foi ameaçada duas vezes
Começa a ser ouvida uma testemunha que afirma que já foi ameaçada duas vezes. Diz que não vai mentir, mas está reticente. Só conhece Inês e conheceu Jéssica.
A mãe da testemunha era próxima à dona Alice [dona da casa onde vivia Inês Sanches com Paulo].
"Vi a Jéssica semanas antes da morte", garantiu.
Advogada de Tita quer fazer um requerimento para ouvir a mãe da testemunha.
"Lesões visíveis a olho nu": Perito afirma que morte de Jéssica se deveu aos abanões
O chefe de serviço de medicina legal, coordenador do gabinete médico legal de Setúbal desde 2011, começa o seu depoimento.
"Perante o caso podia pedir videoconferência mas devido à gravidade da situação tinha de estar aqui", começa por dizer.
Quando questionado pelo juiz sobre o que matou Jéssica o perito afirma que foram os abanões.
"Foram sem dúvida, o facto da criança ter sido abanada dezenas de vezes e atirada contra uma superfície dura. Síndrome da criança abanada: alguém de uma forma selvagem agarrou na criança e a abanou fortemente", disse.
"Dois a quatro abanões por segundo durante cinco a 15 segundos chegam para que a criança fique lesada", explica.
"Havia as lesões traumáticas internas e externas visíveis a olho nu. No crânio tinha hematomas nos dois lados", referiu o perito.
O juiz mostra fotografias para o perito explicar o que aconteceu.
"Estamos a ver o cadáver por fora e, portanto, todas as lesões aqui são pouco evidentes, quando se tira o coro cabeludo são muito mais evidentes", garante o perito.
"Como é que que a criança foi atirada contra a parede e não tem fraturas ósseas": questionou o juiz.
"Quando tiramos o crânio dividimos em três partes para analisar. As lesões são mais internas, as externas pouco vemos", explicou o perito referindo ainda que existem "outras lesões traumáticas".
"São várias lesões que causaram a morte. Cabeça, meninges e encéfalo", referiu o especialista.
Na cabeça "há várias lesões, com mais de sete centímetros", admitiu.
"Para ver estas lesões tivemos que tirar o coro cabeludo. Assim que comecei a ver a criança tentei averiguar a toda a forma como é que as lesões foram provocadas, porque se tratava de um brutal homicídio", afirmou.
O especialista garantiu que foi feito "tudo o que era possível em termos científicos para que as conclusões não tivessem dúvidas".
"Parece que andaram a jogar à bola com a cabeça da criança": Perito fala em tribunal sobre autópsia de Jéssica
O perito continua o seu depoimento e afirma que "o embate na superfície dura foi de tal forma grave que provocou um hematoma interno".
"A criança foi abanada de todas as formas. Só o abanão podia provocar a morte, mas aqui temos tudo, o abanão e os traumatismos, e muito mais coisas", garantiu.
"Há traumatismos por todo o lado", acrescentou o perito.
"Parece que andaram a jogar à bola com a cabeça da criança. Atiraram a criança ou contra a parede ou contra o chão", afirmou.
"É uma criança de três anos, estava em desenvolvimento, o crânio não é igual ao dos adultos, tem muito mais água. Quando a criança é abanada o encéfalo também abana e provoca lesões traumáticas", explicou o coordenador do gabinete médico legal de Setúbal. "A criança foi selvaticamente agredida. Poderia ficar com lesões para o resto da vida". O perito deixa um alerta para que "não abanem as crianças", porque "estas lesões traumáticas são muito graves". "O edema significa que o cérebro andou a passear dentro da cabeça. Aqueles olhos também andaram para a frente e para traz", explicou o perito. O coordenador acrescenta que se Jéssica tivesse caído só teria hemorragias num olho, mas a criança "tinha nos dois". A menina tinha também "lesões traumáticas de palmadas" e "algum objeto com relevo bateu-lhe nos pés e na palma dos pés". A menina tinha "várias lesões modeladas por algum objeto"."Lesões provavelmente provocadas por um cacete", referiu.
Mãe de Jéssica chora compulsivamente e abandona sala de audiências
A mãe de Jéssica, Inês Sanches, chora compulsivamente.
O juiz pergunta se está bem e se quer sair. Inês abandona a sala de audiências a chorar.
"Criança tem lesões de defesa": Jéssica tentou proteger-se das agressões
O juiz tenta perceber quando é que foram provocadas cada uma das lesões e o perito continua as suas declarações.
"Deu entrada no hospital as 16h20. Morreu as 16h27", referiu.
"Há muitas lesões nos joelhos. Não sei em que parte do corpo lhe pegaram para a atitarem contra a parede", afirmou o perito referindo ainda que Jéssica "não bateu com a cabeça só uma vez".
"A criança tem lesões de defesa, tem lesões no braço direito. Ela a defender-se pôs a mão à frente"
Ao falar sobre a queimadura da criança no nariz, o perito referiu que, "pela aparência da queimadura, não foi fogo, mas foi um líquido a ferver".
"Pode ser água, chá, leite, algo que estava a ferver, é uma queimadura de segundo grau", acrescentou.
Durante o depoimento o perito referiu que também foram encontrados vestígios de cocaína. "A criança esteve claramente num sítio onde havia cocaína. Pode ter respirado o fumo", disse.
Ao falar sobre as mechas de cabelo arrancadas à criança o perito afimou que naquela altura Jéssica já estava "moribunda" e "o organismo em falência".
A menina também tinha múltiplas lesões nas orelhas que foram "puxadas com violência" e "várias marcas de unhas", afirmou o perito.
"Uma coisa é certa, para além de haver várias lesões, as mais graves são na cabeça. Provocou-lhe um chicote cervical", concluiu.
A menina teve também uma "lesão traumática na zona púbica".
Jéssica poderia ficar cega e com lesões traumáticas físicas para o resto da vida se tivesse sobrevivido
O perito explica as lesões no corpo da menina e como podem ter sido provocadas enquanto são analisadas todas as fotografias.
Explica também que há lesões com várias datas, dentro dos 4/5 dias, o tempo que a menina esteve na casa da família Montes.
"Se fosse tratada poderia nunca mais ver e ficar com lesões traumáticas físicas para o resto da vida", afirmou.
"A medicina podia tentar que ela vivesse, mas as sequelas seriam muito graves. Era quase impossível ela sobreviver", garantiu o perito.
do gabinete médico legal de Setúbal
Ao ser questionado sobre a escala de dor que a menina terá sofrido o perito responde que foi "a máxima dor possível".
Termina o depoimento do perito
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