Bárbara tem a paixão pelas palavras. Pelas palavras que escorregam suaves e cristalinas. A delicadeza da sua voz é tal que até parece que tem um véu na ponta da língua. Mas de quando em vez é traída pela pronúncia - abre muito as vogais.
Quando isso acontece desculpa-se com um sorriso envergonhado: "Falta-me prática do dia-a-dia". Bárbara é eslovena mas a sua segunda pátria é a língua portuguesa. Mais do que uma pátria é uma paixão. Uma paixão que a levou a traduzir nomes sonantes da literatura portuguesa.
É a única tradutora de português na Eslovénia, república da antiga Jugoslávia.No princípio foi um pressentimento. "Compreendi logo que ia ser uma ligação muito especial", diz com convicção. Bárbara falava francês e espanhol quando decidiu dar os primeiros passos em português. Como nas universidades do seu país não existia nenhum curso teve de aprender com uma professora que arranhava a língua.
"Parecia um curso para crianças. Só aprendi coisas do género: 'O meu nome é Bárbara'". Mas não desistiu. E a sua persistência foi recompensada quando conseguiu uma bolsa de estudos para Portugal. Foi para Coimbra durante seis meses e adorou. "Ali todos os cantos têm história."
Esta viagem foi o princípio de uma bela aventura. É que entretanto Bárbara conheceu outros cantos, passou a dominar melhor o idioma, descobriu novos livros, novos autores. "O primeiro livro que traduzi foi o 'Ensaio Sobre a Cegueira'". Foi uma escolha acertada - um ano depois José Saramago recebia o prémio Nobel da Literatura. Nunca mais parou. "Depois foi Fernando Pessoa e Lobo Antunes", acrescenta.
E para Outubro já tem pronta a tradução do romance 'O Último Voo do Flamingo', do escritor moçambicano Mia Couto. É um trabalho que faz com gosto, é o português que lhe embala o sono. "Eu só traduzo à noite depois de terminar o meu dia de trabalho". Bárbara é tradutora do Ministério do Interior da Eslovénia.
A MENSAGEM DA IRMÃ LÚCIA
Há dois anos os caminhos de Bárbara cruzaram-se com os do bispo de Leiria-Fátima. D. Serafim tinha ido à Eslovénia - "Foi levar umas relíquias e a coroa de Nossa Senhora de Fátima" - quando conheceu a jovem tradutora. Não perdeu tempo e pediu-lhe que traduzisse o livro da irmã Lúcia - 'Apelos da Mensagem de Fátima'. Bárbara aceitou o desafio mas reconhece que foi o seu trabalho mais difícil. "Foi muito esquisito". Mesmo assim o livro foi um sucesso. "Nós também fazemos muitas peregrinações a Nossa Senhora de Fátima", justifica.
De tradução em tradução esta eslovena de 33 anos vai dando a conhecer um pouco da língua e da cultura portuguesas. Os eslovenos agradecem já que sem a sua dedicação as palavras de Saramago, Pessoa ou Lobo Antunes não passariam de letra morta.
Ela não esconde que gostaria de fazer desta paixão o seu modo de vida. Mas não tem muitas ilusões. "Fazer só isso é impossível", reconhece. Por isso todos os dias quando acordar vai ter de rumar ao Ministério do Interior com a cabeça cheia de outros sonhos, outras palavras. Em português.
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