A edição de hoje
Francisca Laranjo
JornalistaLuís Filipe Vieira já está a falar em tribunal
“Conheci Domingos Soares de Oliveira e disse-lhe: 'tenho a quarta classe, sou presidente do Benfica e não falo inglês. Tenho projetos na cabeça e preciso quem os coloque no terreno”, começa por dizer Luís Filipe Vieira.
“Conheci-o em 2001/2002. No fim ele diz me ‘há um problema, sou do Sporting’. Eu disse lhe que não vim à procura de clube mas sim de competência”.
“O Miguel Moreira aparece mais tarde”, explica. “O José Bernardes nunca o tinha visto, nunca lhe apertei a mão. Só o conheci aqui (no tribunal)".
O juiz questiona: "Em relação a este tema, os contratos, o que nos pode dizer?"
“Ao longo desse tempo todo, fomos criando uma ligação. Fomos conhecendo as pessoas e eu comecei a ter uma confiança lúcida no Domingos”, responde o ex-presidente do Benfica.
“A partir desse momento, dediquei-me mais. Quando as pessoas me dizem assinaste de cruz, eu no início não fazia isso, mas ganhei confiança”, acrescenta.
“Ele punha as coisas em cima da secretária e eu assinava. Havia contratos que nem era preciso assinar”.
“Tivemos clubes como o Flamengo, o Ajax, a olhar para o Benfica e a ver como é que nós funcionávamos”, recorda Luís Filipe Vieira.
“Quando fui ouvido fui confrontado com os contratos e vi que estava lá a minha assinatura. Assinei como assinava outros tantos”.
O juiz pergunta: "Sabe se estes contratos corresponderam a serviços efetivamente prestados ao Benfica?"
“Ninguém lesava o Benfica”, responde. “Tenho a certeza que foi executado, mas confesso que de informática sou um leigo”.
Alguma vez teve conhecimento/participou ou ‘meteu a mão na massa? Na acusação, diz que estes serviços nunca foram pagos e que estes pagamentos eram fictícios. Alguma vez teve conhecimento?, pergunta o juiz
Luís Filipe Vieira: “Quando eu vi a acusação e me puseram como mentor. Eu disse: 'eu posso ser o mentor do sucesso do Benfica. Era impossível haver uma prática destas dentro do Benfica”.
"Quem fez essa acusação tem de o provar. Gostava de perceber como é que chegaram a essa conclusão”
Quando chegam as notícias sobre este caso, o senhor ficou preocupado? Chamou alguém ao seu gabinete para perceber o que se passava?, pergunta o juiz.
“Não foi preciso fazer isso. Nesse dia, tínhamos conselho de administração e falamos disso lá dentro. Bastou-me a explicação do Miguel. Contou-nos o que era o projeto, já não me lembro bem”, explica.
“Só me disse: presidente sabe há quantos anos trabalho consigo? Pode estar descansado, isso não aconteceu”, recorda Luís Filipe Vieira.
Procuradora pergunta: "Quando o Miguel Moreira deu a explicação, também explicou como é que fez estes contratos?”
“Na altura, disse que era prevenção. E eu acreditei claro. Nunca podia por em causa os quadros do Benfica”.
“Vou-vos dar uma novidade: eu nunca tive sequer um computador na vida”, refere Luís Filipe Vieira. “Toda a vida só trabalhei com lápis, caneta, papel e telefone”, acrescenta.
Advogado: “Tem a noção à época no que é que poderia corresponder de prejuízo ter um apagão informático num dia de venda de bilhetes?”
“Um jogo Benfica-Barcelona por exemplo dá uma receita de três milhões de euros. Imagine que isso não funcionava nesse dia”, diz Luís Filipe Vieira.
“O Benfica foi considerado uma das melhores equipas, também pelas condições. Sei que o Schimdt ficou de boca aberta quando cá chegou, nunca tinha conhecido um clube com estas características”.
Termina o depoimento.
Intervalo para almoço
"Eu tive a vantagem de estar desde o início deste projeto e tive essa vantagem perante outros": José Bernardes continua a ser ouvido
O empresário José Bernardes começou por falar da sua vantagem em estar no projeto desde o início: “Gostava de dar nota de uma coisa: considero-me uma pessoa bem formada nas áreas de tecnologia. Mas se hoje me pedissem este trabalho para outro cliente, eu não ia chegar lá e começar a desempenhar. Eu tive a vantagem de estar desde o início deste projeto e tive essa vantagem perante outros”.
O juiz questiona: "O que está a querer dizer é que foi aprendendo à medida que o projeto evoluía? É isso?"
"É mais ou menos. O que quero passar e que uma pessoa com as minhas competências nunca conseguiria desempenhar este papel assim que chega ao cliente. Primeiro, tem de perceber. Eu tenho essa vantagem porque estive no projeto desde o início, de todo o universo tecnológico do Benfica", afirma o empresário. “Ninguém veio falar comigo a dizer que por causa deste processo tenho de me afastar. Isso não aconteceu”, acrescenta.
"Quando começam as notícias e o senhor sai… o senhor continuou a ser sócio gerente da empresa?", questiona o juiz.
Bernardes responde afirmativamente.
"A sua empresa trabalhava só para o Benfica? Ou tinha mais clientes?", pergunta o juiz.
Bernardes responde: "A questão flexível teve outros clientes, não sei precisar quando. Tinha outros clientes e sempre que havia um serviço ou uma ideia de negócio que me era solicitada eu levava para a questão flexível".
José Bernardes foi ainda questionado sobre um curso que frequentou no ISCTE e diz “não ter concluído nenhuma cadeira”.
José Bernardes continua a ser ouvido
Luís Filipe Vieira diz estar “tranquilo” com nova sessão de julgamento do processo 'Saco Azul'
Luís Filipe Vieira ouvido no caso 'Saco Azul'
Luís Filipe Vieira vai ser ouvido esta quinta-feira no âmbito do Caso 'Saco Azul'.
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