Catarina Cascarrinho
JornalistaDébora Carvalho
JornalistaDecorre esta quarta-feira a sexta sessão de julgamento do caso da morte de Jéssica, a menina de três anos que morreu em junho do ano passado.
O julgamento tem cinco arguidos: Inês Sanches, a mãe da menina, Tita, ama de Jéssica, Justo, Eduardo e Esmeralda, marido e filhos de Tita, respetivamente.
Mãe de Jéssica confirma que entregou filha a Tita por causa de dívida de droga do pai da criança
Inês, mãe de Jéssica, confirma que entregou a filha à família Montes mais do que uma vez e revela que não se lembra da primeira vez que deixou a menina com Tita.
"Ela estava-me sempre a ligar com ameaças para eu entregar a menina por causa das dívidas", explica Inês.
"Dívidas por causa de droga do pai da menina, era haxixe, pedra, cocaína", detalha, dizendo que comprava a droga a Eduardo e Justo, filho e marido de Tita, respetivamente.
"Elas ficavam com a menina, era o pagamento", diz Inês.
"O pai não trabalhava, quando não tinha droga virava bicho.Eu não trabalhava, depois é que fui para a peixaria aqui perto", explica.
O juiz pergunta porque é que as ameaças não eram feitas ao comprador, pai de Jéssica, e Inês responde que "uma vez" foram ameaçar o pai da menina à porta de casa.
"Eu dizia que não tinha nada a ver, mas elas não me largavam. Até no Karaoke, eu estava com o Paulo e elas avisaram-me que eu tinha de pagar", explica a mãe da menina.
"Não sei o que a Jéssica tinha a ver com isso. Ou pagava a bem ou pagava a mal era o que elas diziam. Elas diziam que matavam a minha família e os meus filhos", revela.
O juiz pergunta porque é que Inês nunca pediu ajuda à GNR e à PJ. "Não sei, tive medo! Eu sei que não devia ter feito, estou arrependida", diz.
"Nunca pensei que eles fossem fazer mal à minha filha", revela.
"Como é que esse medo foi superior ao ponto de entregar a sua filha?", questiona o magistrado, ao que Inês responde que a menina queria "brincar com a Esmeraldinha": "Entreguei-a pela primeira vez para brincar com a Esmeraldinha, ela tinha a mesma idade que a minha filha".
Juiz apela a que Inês conte a verdade, relembra-a que pode manter-se em silêncio.
"O Justo ligou-me a dizer que a menina tinha caído. Cheirava muito a tabaco, eles fumam dentro de casa. Ela estava num corredor deitada ao colo da Tita, a Tita não foi ter comigo", diz Inês.
"Fui lá levar 40 euros para ela comprar betadine para ir à farmácia porque a menina tinha caído. Eu fiquei à porta, o Justo não me deixou aproximar da menina, recebeu o dinheiro e não me deixou passar", revela.
"Eu perguntei se podia ver a minha filha e eles disseram que eu tinha de pagar. A dívida já ia em 500 euros, com os juros, a taxa de juro era 50 euros por dia", detalha Inês.
"Ela é que me disse que a menina estava a enrolar a língua pelo telefone, ela disse que quando a menina caiu da cadeira começou a enrolar a língua. Ela disse-me isso no domingo, um dia antes de a menina morrer", revela a mãe da criança.
"Eu estava em casa quando eles me ligaram, nessa chamada pediram-me o dinheiro. Fui ter com eles à pressa porque eles tinham-me chamado porque a menina tinha caído da cadeira. Queria chegar ao pé da minha filha e ver como é que ela estava, para salvá-la."
"Bati com força à porta, o Justo abriu a porta. Disse a menina estava a enrolar a língua metaram uma colher para ela não enrolar a língua", diz Inês, emocionando-se.
"Foi a Tita que falou comigo ao telefone. O justo disse:'Quero os 40 euros para ir à farmácia comprar o betadine", conta.
"A menina estava ao colo da Tita com uma manta, não vi se estava a enrolar a língua, não me deixaram chegar perto dela".
"Depois apareceram de repente dois tipos, porque eles ali vendiam droga, eles pediram 5 euros de haxixe e o Justo pôs-me na rua. Depois fui para a casa".
"Esteve em casa a fazer o quê?", questiona o juiz, ao que Inês responde que esteve em casa no sofá.
"Eu nunca vi a minha filha a enrolar a língua, eu não sabia se era verdade ou mentira. Chamei pela menina, mas ela disse que a menina estava a dormir. A menina não respondeu", detalha ainda Inês sobre o momento em que esteve na casa de Tita e Justo.
"Ela acordava com barulho e acordava se a gente chamasse, estranhei ela não responder", salienta a mãe da criança, e o juiz insiste para conseguir perceber "o filme".
"A senhora tinha medo do quê para não ir à polícia?", insiste o magistrado.
"Eu tinha medo que matassem a menina, eu tinha medo de ir à polícia, eu sei que errei", diz Inês.
"Eu tenho medo da família deles, sim, a minha mãe está farta de ser ameaçada"
"Teve medo por si?", questiona o juiz. Inês responde: "Sim. Ela já antes tinha vindo com um hematoma, e foi a mesma história, que a menina tinha caído da cadeira. Na altura fotografei a cara da menina para mostrar depois à PJ", revela Inês.
"Então porque é que não mostrou?", pergunta o juiz.
"Não sei, não sei dizer! Mostrei à rapariga do café", explica Inês. E prossegue: "Como ela é amiga da GNR, podia ter avisado e ajudado, se fosse eu a falar era diferente."
"Era melhor, era o normal se fosse a Inês", diz o juiz.
O magistrado volta a questionar se Inês não achou estranho que lhe dissessem que a filha estava a enrolar a língua, ao que Inês responde que a sua mãe tem epilepsia, mas a menina nunca teve.
Mãe de Jéssica não queria que companheiro se apercebesse do que se estava a passar com a criança
"A Tita estava sempre a ligar-me. Eu às vezes não ouvia o telefone, não tinha o som muito alto, tinha mais baixo, para o Paulo não perceber o que se estava a passar", salienta Inês
"Podiam contar ao Paulo e eu não queria, ele diz que se soubesse que a menina estava lá que entrava lá para dentro e tirava a menina à força", expllica
"Porque é que não contou ao Paulo?", pergunta o juiz. "Não sei, tive medo", diz Inês.
"Eu estava sempre a perguntar como é que estava a menina, diziam que a menina estava bem, mas depois ligaram-me a dizer para ir buscar a menina e eu estranhei, porque a dívida ainda não estava paga."
"Eles entregaram-me a menina com chapéu, camisola de manga comprida, óculos de sol, toda tapada, enrolada numa manta fininha. Eu vi a parte da cara, mas elas disseram que a menina tinha caído da cadeira, que a menina estava a dormir porque a menina tinha tomado um Atarax e estava a descansar."
O juiz pergunta como é que Inês acreditou nessa justificação.
"Eu agarrei a menina e fui para casa, mas elas foram sempre comigo ao contrário, não fiz o caminho normal". O juiz confronta Inês com imagens de locais para tentar perceber qual foi o percurso que foi feito.
"Elas deixaram-me à porta de casa. Disseram que quando a menina acordasse eu tinha de devolvê-la", explica.
"Entrei em casa e deitei-a. Deitei a menina na cama, como estava com o chapéu e com a manta, fui à cozinha tratar do almoço, quando volto ao quarto ela estava a dormir ainda, por volta das 15 horas volto outra vez ao quarto porque estranhei que ela estava a dormir muito".
"Eu deitei-a no quarto onde eu dormia com o meu ex-companheiro"
"Deitou a menina com os óculos escuros?", questiona o juiz.
"Tirei-lhe os óculos e pus na mesa de cabeceira", diz Inês. "Vi que a menina estava magoada e que os olhos estavam inchados, o resto do corpo não vi, só quando o INEM chegou e a roupa dela foi retirada".
O juiz questiona porque ela falou de uma lanterna na chamada com o INEM e Inês diz que não usou lanterna e que não tinha lâmpada no quarto.
"Não foi para o hospital porquê?", pergunta o juiz.
"Não me deu na cabeça para ir para o hospital, fui para casa e deitei-a, não lhe dei de comer porque ela estava a dormir. Quando a polícia chegou contei ao Paulo, porque a polícia chegou com o INEM. O Paulo vê a menina naquele momento quando chamamos o INEM".
"Na primeira vez que esteve na família Montes veio sem nada, na segunda vez veio com marcas", diz Inês.
Mãe de Jéssica confirma que entregou filha como garantia de pagamento de dívida de droga e bruxedo
"Então porque é que a devolveram na primeira vez se a deixou lá por causa da dívida?", pergunta o juiz. "Não sei", diz Inês.
"A primeira dívida era de 100 euros. Paguei os 100 euros na altura, mas depois houve mais outra dívida, de bruxedo."
"A primeira foi da droga, a segunda de bruxedo, porque eu estava mal com o Paulo, e disseram-me que elas faziam então fiz".
"Era para amarração para ele não me deixar, elas faziam isso", detalha Inês ao juiz. "Era uma amarração para elas juntarem-me a mim e ao Paulo, deram-me um saquinho para por debaixo da cama".
"Elas só queriam a menina para garantia do pagamento", explica.
"Eu não tinha dinheiro para pagar o bruxedo era 250, não paguei nada".
"Elas queriam a Jéssica para garantir o pagamento, e eu entreguei, mas pensei que não lhe fossem fazer mal."
Inês diz que não se lembra de quanto tempo levou desde que recebeu as ervas e entregou a filha:"Ela deu-me o saco e foi buscar a Jéssica a casa. Eu ia pagando a dívida com o abono da Jéssica".
"O abono da Jéssica era 200 euros, mas não paguei tudo, fiquei sempre a dever, porque os juros iam acumulando", salienta Inês.
"Depois pediram novamente a menina, mas a dívida estava paga, mas elas diziam que eu tinha que dar a menina como comprovativo de pagamento. Eu só tinha o abono dela, não tinha mais rendimentos, o Paulo é que trabalhava".
Inês revela que entregou a menina três vezes por uma dívida de 50 euros.
"O Justo depois ligou-me, um dia, a dizer que a menina tinha partido um tablet, e que devia 250 euros".
Inês garante que nunca pensou ir à polícia.
O juiz pergunta porque é que ela não viu o estado em que menina se encontrava e porque é que não atuou. "Tive medo, não sei", responde Inês.
Agora a juíza questiona Inês sobre como é que vivia com o abono da filha e como é que não se apercebeu que um frasco de betadine não custa 40 euros.
"Eu quando ligava para ela, eu perguntava se ela já tinha comido, eu estava sempre a ligar. No dia do Karaoke, em que eu fui com o Paulo, elas abordaram-me lá dentro e disseram que eu tinha de pagar a dívida do pai da Jéssica da droga".
"A Esmeralda fez uma vez um vídeo a ameaçar-me pelo Whatsapp, a dizer que estava a caminho da porta da dona Alice a dizer que ia contar tudo ao Paulo, a dizer que eu tinha de pagar a bem ou a mal".
"Mas viu-as na rua alguma vez desde que deixou lá a criança?", pergunta a juíza.
"Vi-as duas na rua sozinhas e perguntei pela menina. elas disseram que estava com o Justo em casa."
"Quanto tempo é que a criança esteve com a família Montes? Já que há bocado falou em dois dias.", questiona o juiz.
"Na última vez esteve cinco dias. Na segunda vez é que esteve lá dois dias", diz Inês.
O juiz volta atrás e pergunta a Inês o que a menina tinha vestido e o que é que a mãe retirou quando a deitou já em casa, onde chegou cerca das 11 horas, vinda da casa de Tita. Inês diz que só tirou os óculos que a menina tinha no rosto e que não retirou o chapéu para não a acordar, porque lhe tinham dito que a menina estava a dormir.
"Nunca pensei que ela já estivesse morta, nunca pensei", diz a mãe da criança.
O juiz questiona porque é que não lhe retirou a manta, uma vez que já era verão, e Inês insiste que não queria que a menina acordasse. "Eu sentia a respiração dela, respirava normal", diz.
"Quando eu fui ao quarto eu vi que ela estava aflita, por volta das 15h".
Juízes salientam contradições no discurso de Inês
Os juízes afirmam estar confusos com o discurso de Inês, com o depoimento que é contraditório com a chamada feita para o INEM.
Inês diz que nunca tirou o chapéu, mas na chamada do INEM disse que a menina tinha falta de cabelo.
"Nas fotografias que aqui temos, as peladas são na parte de trás, não são na parte da frente, não conseguia ver com o chapéu, então", diz o juiz.
"Se ameaçaram os seus filhos e não viviam consigo, avisou quem tomava conta dos seus filhos?", questiona o magistrado, ao que Inês responde negativamente.
"Então não tomou as ameaças como sérias?", insiste o juiz, ao que Inês volta a dizer que "não".
"Porque é que vai à procura de uma pessoa para fazer o bruxedo se já a tinha ameaçado? Há explicação para isso?", questiona o juiz, ao que Inês volta a responder: "Não".
Sessão vai ser retomada às 14 horas, com as perguntas do Ministério Público
MP confronta Inês sobre contradições no depoimento. Mãe de Jéssica dá agora outro valor de dívida
A sessão retoma com perguntas do Ministério Público (MP) a Inês. Ao que o CM apurou a defesa da mãe da menina disse que esta já não estaria em condições para prestar mais declarações.
"Não quero falar mais, já disse tudo o que tinha a dizer", refere a progenitora de Jéssica em lágrimas.
Inês acaba por desistir de não prestar mais declarações depois de ter sido aconselhada pela advogada.
A procuradora do MP questiona Inês porque razão foi o padrasto da criança, Paulo Amâncio, a ligar para o 112.
"Estava com a menina ao colo", responde.
Quando confrontada sobre o dia que antecedeu a morte da filha, em que tinha ido a casa da família Montes, Inês Sanches apontou que não viu nada. "Ela estava toda tapada, não vi nada", justifica.
"Naquela noite fomos até ao karaoke, o Paulo insistiu e para ele não desconfiar fui também. Aí recebi chamadas da Tita a dizer que a menina estava melhor", conta a mãe de Jéssica.
Inês, visivelmente nervosa, explica novamente que tinha muito receio que a filha lhe fosse retirada e que, por isso, optou por não alertar as autoridades.
A determinado momento, Inês voltou a falar sobre como conheceu a família Montes. "Eu só os conheci através do pai da Jessica porque eles iam la à porta para cobrar os juros, a dívida da droga".
A mãe de Jéssica foi questionada novamente sobre o valor da dívida do ex-companheiro, Alexandrino Biscaia, e deu uma resposta diferente à que foi dada durante a manhã.
"Valor da droga era de 250 euros", diz. Recorde-que que, Inês referiu em tribunal que o valor era 500 euros.
A procuradora do Ministério Público pressiona a mãe de Jéssica a justificar as incoerências no seu depoimento.
"A dívida da amarração era 250, eu andava a arranjar aos poucos o dinheiro"
Juiz pede para Inês ser consistente. A mãe da jovem volta a mencionar que não se recorda.
Anteriormente em declarações Inês disse que pagou 200 euros de dívida de amarração, agora refere que na realidade foram pagos 250 euros.
"Estou arrependida, eu sei que fiz asneira": Mãe de Jéssica responde a perguntas durante o julgamento
"Se não conhece os Montes como é que entrega a Jessica a essa família?", pergunta a Inês o advogado de Alexandrino Biscaia, pai de Jéssica.
"Eles disseram-me onde moravam eu chamei e veio o Justo", declara Inês.
O advogado do pai da criança volta a insisitir numa questão que tem deixado o tribunal inquieto. "A sua filha não se mexia e a senhora não achou estranho?".
"Não, ela respirava e eles tinham lhe dado um atarax", justica.
Inês, que acusou o pai da filha de ter uma dívida por droga com a família de Tita, é questionada novamente sobre o assunto.
"Ele sabia da dívida, mas ele nunca me contou, só cheguei a saber no karaoke", afirma Inês.
"Se a dívida não era sua porque é que não pegou no telefone e questionou [Alexandrino] e acabou por entregar a sua filha?", pergunta o advogado.
A mãe de Jéssica responde em lágrimas : "Eu não sei!".
Depois das perguntas do advogado de Alexandrino, retoma a palavra o juiz. Este questiona sobre uma mensagem que Inês enviou no dia da morte a pedir dinheiro ao ex-companheiro
"Eu estou arrependida, eu sei que fiz asneira, eu sei", diz Inês em visível comoção.
"O que é verdade?": Advogados dos outros arguidos salientam incoerências nas declarações de Inês
Toma a palavra a advogada de Tita que questiona aquilo que foi feito após a chamada ao INEM. Inês diz que beliscou a menina por cima da blusa quando um dos operacionais lhe pediu para fazer.
A mãe de Jéssica continua com um discurso incoerente que confunde o tribunal. São recordados os momentos quando Inês foi buscar Jéssica à casa da família Montes.
"Eu entrei e fiquei à porta, quando a porta vai para traz dá para ver o corredor, ela estava ao fundo com a menina ao colo em pé. Deixaram-me entrar, mas para pagar os 40 euros", diz Inês.
"Não foi diretamente ao primeiro quarto? Não viu a menina cheia de nódoas negras e sem cabelo? O que é verdade? O que disse em dezembro ou o que está a dizer agora?", confronta a defesa de Justo.
"Agora", confirma Inês.
A mãe de Jéssica é de novo questionada sobre o valor da dívida da droga e diz que era de cem euros.
"Quando é que pediram os cem euros pela primeiro vez?", pergunta o advogado.
"Foi quando fui ao karaoke com o Paulo, em 2022", diz Inês.
"Há bocado disse que foi em 2021. Vamos passar à frente", relembra a defesa do marido de Tita.
Retomam as perguntas sobre a dívida da droga. Inês explica que o valor lhe foi cobrado pela primeira vez, em 2021, e que o pai da filha estava em Setúbal na dada altura.
"Porque não pediram o valor?", pergunta o advogado?
"Não sei", diz Inês.
O advogado de Justo questiona Inês se alguma vez, Eduardo, filho de Tita, lhe tentou cobrar a dívida e esta diz que não.
"Se se pagou tudo da primeira vez, porque é que fez o depósito de 50 euros no dia 18?", questiona a defesa.
"Porque ela [a Tita] pediu, disse que ia passear com a menina".
"E a Inês acreditou? Acredita em tudo o que lhe dizem?", aponta o advogado.
Juiz diz que já se chegou a essa conclusão. "A Inês acredita em tudo o que lhe dizem e faz o que mandam fazer".
Mãe de Jéssica toma sete comprimidos por dia desde a morte da menina
Inês refere, após questionada pela sua advogada de defesa, que sente medo da família Montes e que os considerava a todos pessoas violentas.
"Tendo medo porque lá foi [a casa daquela família] quando não era preciso?", pergunta o juiz.
"Não sei", diz Inês.
Ana Calado Nunes, advogada de Inês, leva o tópico das declarações à medicação que a cliente passou a tomar desde que perdeu a filha. A mãe de Jéssica toma sete comprimidos por dia e assim que chegou a Odemira começou a ser acompanhada por um psiquiatra.
“Estou nos homicídios há 10 anos e nunca vi um caso assim”: Inspetora da PJ descreve brutalidade da morte de Jéssica
A inspetora da Polícia Judiciária na brigada de homicídios detalha tudo o que foi feito na casa onde Jéssica foi torturada até à morte.
"Não será fácil resumir um caso exigente como este. Eu estava de prevenção a 20 de junho, quando comunicaram uma situação que envolvia o óbito de uma criança de três anos. Fiz as diligências, faço tudo até ao relatório final. A esmagadora das diligências foram feitas por mim, toda a informação foi trabalhada por mim, desde buscas, perícias, apreensões e inspeções judiciárias", diz.
A inspetora da PJ menciona que após a primeira inspeção ao cadáver de Jéssica foi possível perceber que se tratava de um crime brutal e violento. "Percebemos a brutalidade e violência das agressões", afirma.
"Havia dois locais possíveis, a casa da família Montes e a casa de Inês Sanches. Estou nos homicídios há 10 anos e nunca vi um caso assim", sustenta.
A responsável recorda que quando a PJ chegou à casa da família Montes verificaram-se algumas manchas suspeitas. "Foram apreendidas beatas, cortinados, entre outros".
A inspetora é confrontada com fotografias do processo e explica as imagens. "Deduzi que tivessem mudado o sofá para tapar a arrecadação. Debaixo do sofá estava um chinelo, um cabo e uma mancha, que na re-inspecção já não apuramos o que era porque foi limpa com lixívia".
A testemunha conta que foram encontrados diversos objetos com vestígios de sangue e ADN de Jéssica. Foi também descoberta uma mala com vestígios de sangue, que tinha uma peça de roupa que estava queimada.
Devido aos ferimentos que Jéssica apresentava na cabeça foram levados para análise um alicate e uma tesoura. "Ambos deram positivo para Justo", diz a inspetora. "Demonstra que estes objetos foram usados para cortar o cabelo e para desferir uma ação contundente contra o crânio da menina".
Inês chora durante as declarações.
"Em todas as zonas da casa da família Montes há ADN da Jéssica com mistura da Esmeralda e a Tita".
Foram encontrados vários cartões telefónicos espalhados pela casa: Um sevria para ligar a Inês e outro tinha o registo de mensagens da Esmeralda e do vídeo do whatsapp.
"A verdade é para ser dita e eu não vou mentir. Não é especulação, está no processo. Num número temos mensagens que foram enviadas para a Inês. "Depois foi enviado o vídeo do whatsapp que se ouve a Esmeralda e Tita a ameaçar a mãe da Jéssica"", salienta a inspetora.
"Houve tentativas de destruição de provas, se houvesse droga, não era possível detetar", destaca.
"Encontramos uns óculos de sol que foram encontrados deitados fora entre a primeira e a segunda inspeção na casa da Inês", acrescenta.
"O chão e pelo menos uma das paredes foram limpos com lixívia", assevera a inspetora.
Termina a sessão de julgamento
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