António Chambel, presidente da Associação Internacional de Hidrogeólogos, recomenda fecho de estradas a menos de 50 metros de pedreiras.
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O presidente da Associação Internacional de Hidrogeólogos avisou esta terça-feira que há "seguramente" mais paredes de pedreiras "em risco" no Alentejo e defendeu o corte de todas as estradas situadas a menos de 50 metros de pedreiras em Portugal.
"Do que vejo" no concelho de Borba, no distrito de Évora, onde ocorreu o deslizamento de terras e o colapso de um troço de estrada para dentro de duas pedreiras, "há mais paredes [de pedreiras] em risco seguramente, porque são verticais", disse à agência Lusa o hidrogeólogo António Chambel.
Como são paredes verticais, "se houver alguma fratura, mesmo escondida por trás, qualquer delas pode vir abaixo", alertou o também professor da Universidade de Évora.
"E não é só" em Borba, mas "também na zona de Bencatel", no vizinho concelho de Vila Viçosa, onde "há outras estradas que também estão sobrepostas em zonas muito perigosas no meio das pedreiras".
As outras paredes verticais de pedreiras que existem naquela zona "não caem agora, mas se calhar caem daqui a 50 ou 100 anos ou podem cair daqui a um ano ou dois", admitiu, alertando: "Há sempre riscos quando as paredes são verticais e não conhecemos exatamente o que é que está por trás".
Normalmente, as pedreiras têm nos bordos paredes com "uma inclinação de muito maior segurança para dentro", mas, "como o mármore é uma rocha muito rija" e as áreas das pedreiras são "demasiado pequenas", os industriais criaram paredes verticais para poderem explorar aquele recurso "em profundidade".
O mármore é uma rocha "muito compacta" e, "se não houver fraturas", as paredes de pedreiras "seguram-se" e "muitas" aguentam "dezenas de anos sem qualquer problema".
"O grande problema é quando por trás de uma parede existe uma fratura" e "quando as fraturas são paralelas às paredes podem provocar desmoronamentos" como no caso de Borba, alertou.
Algumas das fraturas "estão identificadas", mas "pode haver outras paredes" com fraturas e "em risco naquela zona" e sobre as quais não há "conhecimento" e "essas são as perigosas", avisou.
Por outro lado, frisou, a exploração de mármore produz "imensos resíduos", como restos de mármore e pedras, que "muitas vezes" são acumulados "muito perigosamente próximos" das paredes das pedreiras, o que "piora a situação".
"Muitas vezes, muito próximo" das paredes verticais das pedreiras existem acumulações de resíduos "de 20 ou 30 metros de altura", disse, frisando que este "peso suplementar" que é posto em cima das rochas das paredes das pedreiras "provoca ainda mais pressão sobre as paredes, podendo provocar problemas ainda mais graves".
António Chambel defendeu que se deve "ter muito mais cuidado na análise de todas as paredes das pedreiras" existentes em Portugal para "verificar a existência ou não de fraturas por trás dessas paredes".
"Por uma questão de prevenção, nem seria necessário chegarmos à conclusão de que haveria ou não falhas, porque pode haver sempre algumas escondidas", que "não se conseguem ver e podem estar lá".
Por isso, António Chambel aconselha o fecho de todas as estradas que estão "muito próximas" de paredes de pedreiras, avisando que, nestes casos, "corre-se sempre um risco", porque, "por mais análises que se façam, uma fratura escondida pode estar em qualquer lado".
A lei atual fixa uma zona de defesa de 50 metros entre estradas nacionais e municipais e pedreiras e deveriam fechar-se as vias em que o cumprimento da lei não se verificar, aconselhou.
"Há imensas pedreiras abandonadas em Portugal" e sobre as quais, atualmente, "pouco se sabe" e "se calhar" algumas têm caminhos rurais ou estradas próximo, alertou, defendendo a realização de um inventário nacional para se "verificar tudo".
O deslizamento de um grande volume de rochas, blocos de mármore e terra e o colapso de um troço de cerca de 100 metros da estrada 255, entre Borba e Vila Viçosa, no distrito de Évora, para o interior de duas pedreiras contíguas ocorreu no dia 19 deste mês às 15:45.
Segundo a Proteção Civil, o acidente provocou a morte de dois trabalhadores da empresa de extração de mármores da pedreira que estava ativa, um maquinista e um auxiliar de uma retroescavadora, cujos corpo já foram recuperados.
Além disso, na pedreira contígua que estava sem atividade e possui o plano de água mais profundo, as autoridades procuram ainda, pelo menos, três desaparecidos, que seguiriam em duas viaturas na estrada no momento em que ocorreu o desabamento.
O Ministério Público instaurou um inquérito para apurar as circunstâncias do acidente, que é dirigido pelo Departamento de Investigação e Ação penal (DIAP) de Évora, e duas equipas da Polícia Judiciária estão a proceder a averiguações.
O Governo pediu uma inspeção urgente ao licenciamento, exploração, fiscalização e suspensão de operação das pedreiras situadas na zona de Borba.
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