Entrou de rompante na agência do Banco Espírito Santo de Oeiras e foi direito à funcionária. Com a cara tapada com um lenço e um revólver na mão, disparou uma frase curta e seca às duas bancárias, as únicas pessoas que estavam na agência às 14h00 do dia 30 de Setembro de 2005: “Não me obriguem a usar a Magnum, não vos quero fazer mal.”
O revólver, veio a descobrir-se depois, era de plástico e só disparava fulminantes. Mas serviu para que João da Silva Rosa, de 55 anos, filho do antigo ministro da Indústria e Tecnologia Walter Rosa – que exerceu o cargo no VI Governo Provisório entre Julho de 1976 e Janeiro de 1977 –, se apoderasse de 2170 euros em dinheiro, depois de ter obrigado uma das bancárias a abrir o cofre dos depósitos.
Um mês depois, o assaltante voltou a atacar. O método foi em tudo semelhante: depois de estudar a agência do Banif de Algés, durante alguns dias, fez o assalto no dia 24 de Outubro.
Entrou no banco e dirigiu-se ao interior do balcão, perante a surpresa dos dois funcionários e de um cliente. Encostou a arma de brincar ao corpo de uma bancária e disse--lhe: “Fica quieta, só quero o dinheiro, não te faço mal.” João Rosa, que voltou a cobrir o rosto com um lenço, levou as notas que havia nas duas caixas. Desta vez, o assalto foi mais proveitoso – saiu do banco com 7430 euros, escondidos nos bolsos de uma gabardina.
Os crimes não ficaram impunes. A 14 de Fevereiro do ano passado, João Rosa foi detido pela PJ. As buscas ao seu carro permitiram descobrir a ‘arma’ do crime e os adereços usados, incluindo luvas, a gabardina e o lenço com que tapava o rosto.
Reconhecido por todas as testemunhas e apanhado nas câmaras de vídeo dos bancos, João Rosa confessou os crimes. Não era a primeira vez que assaltava – em 1977 foi condenado a quatro anos de prisão por dois assaltos, ocorridos em 1976, quando o pai era ministro.
Trinta anos depois, a PJ chegou a ele por causa do vício do jogo – os investigadores aperceberam-se de que se tratava de um indivíduo civilizado e de classe alta, que assaltava para compensar “falhas de tesouraria”. Tinha perfil de jogador. Mostraram as imagens dos assaltos em vários bingos e acertaram em cheio – o homem foi reconhecido como frequentador de pelo menos duas salas.
João Rosa justificou a sua actuação com a falência da sua agência de viagens – sustentada artificialmente com a ajuda do pai. Está detido em Caxias desde Fevereiro de 2006. O Tribunal de Oeiras decidiu, no final de Outubro, condená-lo a uma pena efectiva de cinco anos de prisão.
MILITANTE PELA CAUSA DO PRP
O talento de João Rosa para fazer assaltos com armas falsas já vem de longe. Em 1976, era jornalista do ‘Página Um’ – um jornal criado pelo Partido Revolucionário do Proletariado, que tinha como braço armado as Brigadas Revolucionárias. Ambas as organizações eram dirigidas por Carlos Antunes e Isabel do Carmo. O jornal foi criado para apoiar a candidatura de Otelo Saraiva de Carvalho às eleições presidenciais de 76 e era financiado com assaltos a bancos. Em Dezembro de 1976, João Rosa assaltou duas dependências bancárias – uma do Banco Nacional Ultramarino, outra do Banco Borges & Irmão. Num dos casos, João Rosa apresentou-se ao caixa, apontou-lhe a mão embrulhada em papel de jornal – e disse-lhe: “Isto não é uma banana!”
O bancário acreditou que ele empunhava uma pistola e deu-lhe o dinheiro. Mas João Rosa mentiu: o que trazia na mão tapada com o jornal era uma banana a imitar o cano de uma pistola. Foi detido a 31 de Dezembro. O pai, Walter Rosa, ministro da Indústria, demitiu-se. João foi libertado em 1979 e partiu para a Suíça. Regressou em 1987.
VIAGEM FICTÍCIA ENCOBRE DETENÇÃO
De acordo com a sentença do Tribunal de Oeiras, só os familiares mais próximos de João Rosa sabiam que ele estava detido à data do julgamento – concluído no dia 23 de Outubro. Pai de um filho de 31 anos e de outros dois, de 9 e 2 anos, fruto de um segundo relacionamento, só cinco pessoas estavam a par da sua situação: o pai, a actual mulher, uma amiga do casal, o filho mais velho e a ex-mulher. Os restantes familiares e os amigos julgavam-no ausente do País – a versão da família era a de que estaria no Brasil, “por motivos profissionais”.
SEM PENA SUSPENSA
O colectivo de juízes do Tribunal de Oeiras chegou a ponderar a hipótese de suspender a pena, uma vez que a recente revisão do Código Penal permite suspender penas até cinco anos de prisão. No entanto, dados os antecedentes criminais de João Rosa e o facto de não ter reconhecido a perigosidade e o transtorno causado pela sua conduta, acabou por ser condenado a pena efectiva.
DEVOLVEU DINHEIRO
Durante o processo, João Rosa e a família devolveram aos bancos assaltados os 9600 euros roubados. Os juízes consideraram que este gesto prova que se trata de um homem “sem dificuldades económicas, como o demonstra a facilidade com que reparou os bens lesados”.
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