page view

Homicida da A16 foi tratado em hospital privado em segredo

Um dos responsáveis pela morte de João Carlos Silva foi atingido pelos cúmplices.

27 de julho de 2017 às 01:30

Ricardo Pinto, o ‘Gordo’, de 30 anos, um dos seis operacionais do roubo à carrinha de valores do Continente do Lourel, em Sintra, que na fuga mataram a tiro um condutor inocente em plena A16, a 28 de fevereiro de 2016, foi acidentalmente ferido pelo disparo de outro assaltante, durante o crime, e pouco depois do homicídio foi sozinho tratar-se a um hospital privado.

Entrou no Serviço de Urgência do Hospital Cuf Descobertas e depois na Cuf Cascais – tudo sem que ninguém chamasse a polícia.

Segundo a acusação, que imputa os roubos e homicídio a dez homens – seis deles operacionais –, um disparo de caçadeira que fez ricochete no alcatrão do estacionamento onde a carrinha de valores foi assaltada atingiu ‘Gordo’ nos dedos do pé esquerdo, provocando -lhe "ferimentos graves". Duas horas e meia após o roubo e a tentativa de carjacking em que foi morto João Carlos Silva, 49 anos, ‘Gordo’ entrou na Cuf.

Alegou "um acidente de trabalho" – disse que se tinha ferido na pastelaria da irmã – e recebeu tratamento. Terá beneficiado do facto de ter sido atingido por chumbos de caçadeira que não ficaram visíveis no ferimento, iludindo os médicos.

O assaltante aproveitou também para fazer uma participação à companhia de seguros Allianz a requerer que lhe pagassem as despesas médicas.

Nos dias seguintes ainda passou pela ortopedia do Hospital Curry Cabral, em Lisboa, e foi a consultas e fez exames no Amadora-Sintra. Acabou preso em março passado. Na busca à sua casa, a Unidade de Contraterrorismo da PJ encontrou documentos do "acidente de trabalho": etiquetas das urgências, do dia do crime – e um escrito hospitalar que referia: "Dedos do pé, duas incidências".

Despiste na fuga feriu outro assaltante

Foi o único a não assistir ao homicídio de João Carlos Silva. Foi despertado depois, para entrar no carro roubado a outra condutora. Levava um gorro (só com buracos para os olhos) e deixou-o na A16, com sangue.

PORMENORES 

Livro de reclamações

Ricardo ‘Gordo’ fez queixa no livro de reclamações do Hospital Cuf Cascais. A PJ encontrou uma cópia da folha de reclamação na busca à casa do suspeito. A acusação não refere o motivo. Terá sido apenas um pretexto para alegar, caso confrontado pela polícia, que não esteve no local dos crimes de Lourel.

Perito vai depor

A seguradora elaborou, no dia 22 de março de 2016, um boletim clínico sobre o "acidente de trabalho". Um perito é indicado como testemunha pelo Ministério Público para o julgamento.

Evitou urgência pública

‘Gordo’ evitou as urgências de um hospital público, que têm postos da PSP e, de imediato, seria chamada a PJ. O CM colocou ontem questões ao Grupo Cuf, que remeteu para o dia de hoje os esclarecimentos.

Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?

Envie para geral@cmjornal.pt

o que achou desta notícia?

concordam consigo

Logo CM

Newsletter - Exclusivos

As suas notícias acompanhadas ao detalhe.

Mais Lidas

Ouça a Correio da Manhã Rádio nas frequências - Lisboa 90.4 // Porto 94.8