Ana Rita foi chamada a participar no Dia da Defesa Nacional. Ministério já abriu inquérito para apurar causas.
Ana Rita estava feliz. Ia participar no Dia da Defesa Nacional, no Quartel da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, e aceitou fazer um dos exercícios mais radicais: a descida em ‘slide’. Seriam cerca das 12h30 de ontem quando o cabo rebentou e Ana Rita caiu desamparada de uma altura de cinco metros. A jovem, de 18 anos, que residia em S. Félix da Marinha (uma freguesia de Gaia) foi assistida no local pelo INEM e transportada em estado grave para o Hospital de Santo António, no Porto. Pelas 16h45, foi declarada morta.
"Já não me deixaram ver a minha filha. Quando cheguei ao quartel, ela estava dentro da ambulância do INEM a ser reanimada. Fecharam as portas e ainda estiveram algum tempo no local. Depois levaram-na para o Porto", contou Marco Lucas ao CM, pai da jovem, visivelmente transtornado.
Ana Rita foi a 15.ª pessoa a experimentar a descida em slide. Ainda não há explicações para o acidente. O Ministério da Defesa já abriu um inquérito e promete investigar os motivos do sucedido. As comemorações do Dia da Defesa Nacional foram entretanto canceladas.
A família de Ana Rita – chamada pelo Exército a participar nas comemorações – está indignada. Não poupam críticas aos responsáveis e não percebem como se deu o acidente. "Deviam ter tido mais cuidado. Já fiz slide e devia haver um segundo cabo de segurança para que isto não acontecesse", disse o tio e padrinho, Luís Miguel Almeida.
Em S. Feliz da Marinha, onde a jovem morava, a notícia foi recebida com consternação. A família estava em choque e a mãe mantinha-se recolhida no quarto, sujeita a forte medicação.
Os irmãos de Ana Rita, um menino de quatro anos e uma menina de 14, acompanhavam os pais na dor. Familiares e amigos mantinham o silêncio, sem conseguir extravasar o choque pela perda.
MINISTÉRIO SUSPENDE INICIATIVAS
O ministro da Defesa , Augusto Santos Silva, determinou a suspensão de todas as actividades do Dia da Defesa Nacional até à conclusão do inquéirito ao acidente que matou Ana Rita, ontem, no Quartel da Serra do Pilar, no Porto. O Ministério da Defesa exprime, publicamente, "o mais profundo pesar à família en lutada". A Direcção-Geral de Pessoal e Recrutamento Militar vai proceder, em 30 dias, "à reavaliação das condições em que são realizadas as actividades de demonstração integradas no Dia da Defesa Nacional".
DISCURSO DIRECTO
TENENTE CORONEL PERDIGÃO, PORTA-VOZ DO EXÉRCITO: "PROVA NÃO É OBRIGATÓRIA"
Correio da Manhã – Os jovens convocados têm que fazer as provas?
Hélder Perdigão – Não. As provas, e esta do ‘slide’ em particular, não são obrigatórias. Os jovens participam se quiserem, ou podem apenas assistir. Na verdade, a maioria quer experimentar, porque são desportos radicais.
– Há casos de acidentes anteriores?
– Nunca um cabo de aço se partiu. Já houve pequenos acidentes, sem gravidade, em treino militar. Em casos destes, não há registo de acidentes.
– Há seguros para estes casos?
– Isso não é da competência do Exército. É do ministério, que promove o Dia da Defesa. Está tudo regulamentado.
DEFESA GARANTE INDEMNIZAÇÃO
De acordo com o secretário de Estado da Defesa, Marcos Perestrello, "os jovens que participam nesta iniciativa, quando estão dentro das instalações do Exército, têm os mesmo direitos dos militares, porque estão a prestar o serviço militar".
O responsável adiantou ainda ao CM que estes direitos "abrangem uma indemnização e, caso seja aplicável neste caso específico, a ajuda pode até chegar através de uma pensão de sangue aos familiares da vítima". O caso será analisado nos próximos dias.
TRAGÉDIA FOI ESCONDIDA DOS OUTROS PARTICIPANTES
"Quando chegámos ao quartel, deram-nos um programa para o dia inteiro. O tenente avisou-nos perto da hora de almoço que uma colega se tinha sentido mal mas já estava a ficar bem, e acreditámos", contou ao CM Ana Rita Gomes, de 18 anos, residente em São Félix da Marinha, que também esteve ontem no Quartel da Serra do Pilar. Pouco tempo depois, Ana Rita percebeu que, afinal, algo de grave se passara. E horas depois soube que a amiga, que chegou a estudar na mesma escola, sofrera um acidente.
A semelhança com o seu nome provocou um susto enorme na sua mãe. Ana Rita não atendia o telefone, a mulher soube por vizinhos do acidente. "Ligaram-me e disseram-me que uma rapariga de 18 anos tinha tido um acidente em Gaia, no Quartel da Serra do Pilar, e entrei em pânico", contou Júlia Ribeiro, que, por não conseguir contactar a filha, ligou para o hospital. "Do Santo António, disseram-me que a vítima se chamava Ana Rita e eu comecei com uma crise de choro inconsolável. Ainda demorei até perceber que o apelido não era o mesmo".
Ana Rita chegou a casa ao início da tarde. Já sabia que a amiga sofrera um acidente e pouco tempo depois recebeu a notícia da sua morte. "Era muito alegre, divertida e aventureira. Adorava desportos radicais", contou ao CM.
O 'SLIDE' É A ACTIVIDADE QUE GERA MAIS ENTUSIASMO
O ‘slide’ era apenas uma das várias actividades radicais voluntárias ao dispor dos jovens no âmbito do Dia da Defesa Nacional. Pela adrenalina habitualmente causada por uma descida rápida, facilmente ganha adesão entre os mais novos.
Originalmente, o slide consiste em unir um ponto superior a um ponto inferior através de um cabo de aço, pelo qual se desce com o auxílio de uma roldana. Regra geral, a descida é realizada de forma rápida, com o suporte de algum material também usado em escalada. É uma das modalidades que geram maior entusiasmo nos espaços dedicados aos desportos radicais. Aliás, a prática é cada vez mais comum em todo o País. Normalmente, o exercício realiza-se em espaços amplos mas pode também ser utilizado para descer prédios, desde que haja dois pontos seguros para prender os cabos.
ACIDENTES MORTAIS
Quando há acidentes, mortais ou não, é aberto sempre um processo para se apurar as responsabilidades
MORRE COM TIRO
Um jovem de 23 anos foi atingido por um tiro e morreu na unidade da Brigada Mecanizada de Santa Margarida, em Constância, a 30 de Abril de 2009.
EXERCÍCIO MORTAL
Um bombeiro da Força Aérea morreu na Base Aérea do Montijo, a 18 de Janeiro de 2010, quando participava num exercício. O bombeiro seguia numa viatura, que capotou, com mais três.
ARMA DISPARA
O acidente com uma pistola Glock vitimou mortalmente, a 12 de Fevereiro de 2010, um cadete na Academia Militar. Foi atingido quando um colega limpava a arma.
FALTAS INJUSTIFICADAS DÃO MULTAS
Segundo o regulamento do Ministério da Defesa , a comparência de todos os cidadãos portugueses que cumpram 18 anos de idade é um dever militar obrigatório. A falta injustificada implica mesmo uma coima entre cerca de 250 e 1250 euros. O cidadão pode ser dispensado da comparência ao Dia da Defesa Nacional em caso de doença prolongada comprovada pela autoridade pública competente ou se residir legalmente no estrangeiro. Tem que justificar a ausência por escrito. Caso preste falsas declarações às entidades competentes incorre em pena de prisão até três meses ou multa até 60 dias. n
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