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27 de abril de 2021 às 14:15

Crime macabro no Algarve: 25 anos de cadeia para Maria e pena efetiva para Mariana

O Tribunal de Portimão marcou para esta terça-feira a leitura do acórdão do caso das duas mulheres acusadas da morte de um homem em 2020, no Algarve, para quem a acusação pedia penas de prisão superiores a 20 anos. Maria Malveiro foi condenada a pena máxima de 25 anos de cadeia, já Mariana Fonseca foi absolvida do crime de homicídio ficando com uma pena de quatro anos. 

Mariana Fonseca, enfermeira, e Maria Malveiro, segurança, mantinham entre si uma relação amorosa na altura dos factos e foram acusadas dos crimes de homicídio qualificado, profanação de cadáver, acesso ilegítimo, burla informática, roubo simples e uso de veículo.

As mulheres cometeram os crimes com o intuito de se apoderarem de uma quantia de 70 mil euros que Diogo tinha recebido de indemnização pela morte da mãe, atropelada em 2016, na zona de Albufeira.

Terça-feira, 27 de abril de 2021 às 14h16

Já arrancou a leitura do acórdão

Já arrancou a leitura do acórdão. Mariana e Maria estão na sala de audiências separadas por 10 cadeiras, uma em cada ponta da fila com uma guarda prisional ao lado.

Os agentes da PSP estão a reforçar a segurança na sala. Na sala encontram-se os advogados das arguidas e da família da vítima, bem como as homicidas. 

A juíza presidente do colectivo lê o acórdão. 

As arguidas Maria e Mariana viviam uma com a outra desde 2019. Maria era segurança e Mariana enfermeira no hospital de Lagos. Por isso, esta última tinha acesso ao material clínico do hospital. 

Maria conheceu Diogo e mantinham relação. A arguida teve conhecimento que Diogo tinha recebido uma indeminização devido à morte da mãe.

Terça-feira, 27 de abril de 2021 às 14h24

Factos provados: da marcação do encontro à ocultação de provas

Foi Maria quem marcou encontro com Diogo na casa em Algoz. À hora de almoço, as então namoradas deslocaram-se à casa de Diogo com três ampolas de Diazepam provenientes do Hospital de Lagos.

Foi Maria quem se apropriou das ampolas. Chegadas à casa de Diogo, Mariana ficou no carro. 

Com o propósito de adormecer a vítima, Maria deu o sedativo com sumo de laranja a Diogo. Depois seduziu-o para o prender a uma cadeira com braçadeiras de plástico que a dupla tinha trazido. Posteriormente saiu de casa e ele ficou amarrado. 

Quando voltou ele estava levantado e Maria colocou-lhe o braço à volta do pescoço, num golpe chamado mata-leão. 

Diogo caiu e ficou de barriga para cima. Maria colocou-se em cima dele e apertou-lhe o pescoço. 

Terça-feira, 27 de abril de 2021 às 14h30

Mariana tentou reanimar Diogo Gonçalves

Após Maria ter apertado o pescoço a Diogo, Mariana entrou na casa e verificou os sinais vitais da vítima. Tentou efetuar manobras de reanimação. Diogo voltou a respirar e ao acordar deu-lhe um empurrão. 

Maria voltou a colocar-se em cima do jovem até ele ter ficado sem sinais vitais. Para ocultar o cadáver colocou-lhe sacos de plástico até à cintura amarrados com fita adesiva. 

Foi então agarrar uma faca ao carro, calçou uma luva e cortou-lhe o dedo indicador e polegar.

O corpo foi transportado numa cadeira de rodas e a dupla limpou a habitação para ocultar vestígios.

Terça-feira, 27 de abril de 2021 às 14h34

Dedo cortado para levantar dinheiro

O casal levou os objetos pessoias de Diogo, nomeadamente cartões de débito e crédito e foi para Chinicato, onde viviam.

Nessa noite, as arguidas fizeram dois levantamentos de 200 euros com o cartão de Diogo e Maria fez duas transferências de 350 euros.

No dia seguinte fizeram levantamentos em Portimão, dois levantamentos de 200 euros.

Com recurso à impressão digital do dedo de Diogo Gonçalves, que cortaram previamente, tiveram ainda acesso ao telemóvel da vítima e usaram a aplicação MBWay para fazer transferências. 

Terça-feira, 27 de abril de 2021 às 14h39

Desmembramento feito a sangue frio

Maria furtou um cutelo de um supermercado, levou o carro, onde Diogo estava na bagageira, para a garagem. 

No interior abriram a bagageira e começaram cortar o cadáver, primeiro os membros superiores, depois os pés e a cabeça. 

Maria cortou o corpo e colocou em sacos e Mariana ficou a ajudar.

Terça-feira, 27 de abril de 2021 às 14h41

Espalharam o corpo por diversos pontos do Algarve

Após o desmembramento, as duas foram dormir e no dia seguinte fizeram mais levantamentos. 

Foram para Fortaleza do Beliche, em Sagres, no Mercedes do Diogo. O corpo foi no carro do jovem. 

Mariana levou outro carro e a companheira atirou o tronco de Diogo para o mar. As outras partes do cadáver foram colocadas no carro de Mariana. 

Depois foram para o Pego do Inferno, em Tavira, e aí deixaram a cabeça e os pés do jovem. 

Na mesma noite foram fazer mais levantamentos bancários com o código do jovem. No regresso a casa foram-se desfazendo de objetos da vítima no lixo. 

No total levantaram 1926 euros. A forma como Maria conseguiu o código do cartão de crédito é desconhecida. 

Terça-feira, 27 de abril de 2021 às 14h46

Maria tentou simular que Diogo estava vivo

Maria tentou depois simular que Diogo estava vivo respondendo aos amigos do mesmo através do messenger do Facebook. A segurança usava o Facebook de Diogo, usou o cartão do mesmo, o que constitui enriquecimento ilícito. 

A vítima sofreu várias lesões e a morte foi provocada por asfixia. O tribunal deu como provado que o jovem foi amarrado com braçadeiras, pensando o jovem que se tratava de um jogo sexual, e provou a presença de vestígios de Diazepan. 

A segurança agiu com o propósito de ficar com o dinheiro e ambas quiseram ocultar o cadáver.

Maria sabia como usar uma faca de ponta e mola e Mariana sabia que não poderia usar os medicamentos do Hospital de Lagos.

O tribunal dá como provado que as duas jovens agiram, com um plano elaborado, de forma consciente. 

Terça-feira, 27 de abril de 2021 às 14h53

Diogo estava apaixonado por Maria

O tribunal aponta ainda que Diogo estava apaixonado por Maria e que a jovem se aproveitou desse facto para levar a cabo o seu plano. 

Era um jovem trabalhador que sofreu dois duros golpes na vida. O pai encontra-se internado após ter sofrido um AVC quando o jovem tinha 17 anos e a mãe morreu atropelada. 

Foi a tia que tratou do pai e é ela que é a representante da família e assistente do processo. 

O jovem era dedidado à informática e gostava de música. Estudou em Albufeira, trabalhou no McDonald's e depois no hotel Vila vita. O seu desempenho profissional era reconhecido, era pontual e tinha sempre com vontade de progredir. Diogo é ainda descrito como solidário e educado e gostava de estar com os amigos. 

Depois de ter recebido a indemnização comprou um carro em segunda mão e apesar de tudo estava feliz, diz o tribunal. Queria comprar uma casa e já andava à procurou de um apartamento. Chegou a reservar uma casa para ir viver sozinho e fez o pagamento da reserva.

O jovem planeava ainda o dinheiro da indemnização para ajudar o pai nos seus tratamentos. 

Terça-feira, 27 de abril de 2021 às 14h58

Vítima teve consciência da morte violenta

De acordo com o tribunal, a vítima teve consciência da morte violenta por estar amarrada sem conseguir libertar-se. O jovem terá sentido medo e choque profundo.

O homicídio foi notícia pela violência do mesmo e isso causou real sofrimento à família. 

Apesar do pai não estar inválido, a ajuda de Diogo seria importante. Seria ele que iria apoiar o pai até final da vida.

Terça-feira, 27 de abril de 2021 às 15h02

Provas e declarações essenciais para provar crime

Maria foi detida a 4 de maio de 2020 e Mariana também. Os restantos factos do processo não foram provados. 

As provas e declarações foram essenciais para provar crime bem como os depoimentos de testemunhas. 

As versões diferentes das testemunhas não constituíram valor para o tribunal. 

O depoimento da médica legista, da tia e dos amigos foi relevante para o tribunal.

A localização celular de Mariana também comprova que a jovem estava junto a casa de Diogo; os levantamentos foram comprovados pelas videovigilância das caixas multibanco; também as transferências feitas pelo telemóvel ficaram provadas. 

Há ainda imagens de vigilância que mostram levantamentos e compras com cartão de Diogo num centro comercial. 

As localizações celulares também batem certo com os locais onde foram feitos os levantamentos. A PJ cruzou essa informação para chegar às arguidas.

Terça-feira, 27 de abril de 2021 às 15h14

Amigos desconfiaram das mensagens enviadas pelo Facebook

Os amigos de Diogo desconfiaram das mensagens enviadas com a conta de Facebook de Diogo onde este dava conta de que iria viver para França. 

Um dos amigos decidiu fazer participação por desaparecimento. 

Terça-feira, 27 de abril de 2021 às 15h16

Mariana diz que fez tudo por amor

Mariana fez limpeza e ajudou Maria a transportar corpo, determina o tribunal. Também transportou restos do corpo. 

Disse que fez tudo por amor e deu apoio a Maria. 

Juíza confirma separação do casal na cadeia e aponta que Mariana, mesmo tendo feito a reanimação, não evitou depois a morte.  

A magistrada aponta ainda toda a trama como "ridículo" uma vez que o plano do casal era de ficar com o dinheiro sem matar Diogo, acreditando que o mesmo daria o dinheiro sem problemas. 

O tribunal considera ainda que Mariana acabou por ser influenciada para o crime e Maria tinha "capacidades superiores".

Terça-feira, 27 de abril de 2021 às 15h41

Maria condenada a 25 anos de cadeia

Maria é condenada a 25 anos de cadeia por cúmulo jurídico pelos crimes de homicídio, coautoria de profanação de cadáver e acesso ilegítimo a cartão de crédito.

Terça-feira, 27 de abril de 2021 às 15h41

Mariana absolvida de homicídio apanha quatro anos de prisão

Mariana foi absolvida de homicídio e acabou condenada a quatro anos de pena efetiva. A jovem sai em liberdade porque nenhum dos crimes pelos quais foi condenada prevê prisão preventiva, ficando com pena suspensa, até que a sentença transite em julgado.

Terça-feira, 27 de abril de 2021 às 15h55

265 mil euros para a família

O tribunal decretou ainda a indemnização de 265 mil euros para a família de Diogo Gonçalves.

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