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PSP dispara 40 tiros para travar carro e mata mulher

Ministério Público investiga morte em perseguição em Lisboa.

16 de novembro de 2017 às 01:30

Ivanice Carvalho da Costa, de 36 anos, entrava esta quinta-feira ao serviço no Aeroporto de Lisboa às 04h00. Meia hora antes, apanhou boleia do namorado, sem carta e sem seguro ao volante de um Renault Mégane preto.

Este não obedeceu à ordem de paragem da PSP, que procurava um Seat Leon da mesma cor usado por um gang com quem a polícia já tinha trocado tiros depois de um assalto à bomba a um multibanco, às 03h00, em Almada.

A PSP diz que o condutor, na fuga, "tentou atropelar os polícias e, ato contínuo, estes foram obrigados a disparar". Mais de 40 tiros, sabe o CM. Ivanice Costa foi atingida no pescoço e morreu.

O Renault ficou cravejado de balas da PSP, mais de 20 projéteis das pistolas glock 9 mm do pelotão de agentes que seguiam na carrinha de uma Equipa de Intervenção Rápida da PSP de Loures. Mas no chão foram recolhidos ontem mais de 40 invólucros – número total de tiros disparados pelos agentes.

A imigrante brasileira morreu, enquanto o namorado foi detido por condução sem carta, desobediência e condução perigosa. Este, com cerca de 40 anos, foi à tarde ouvido pela Judiciária – tal como os cinco agentes da PSP que dispararam e que foram constituídos arguidos.

Só hoje, quando for retirado o projétil alojado no pescoço de Ivanice, na autópsia, se poderá saber em laboratório a que arma de serviço pertence, apurando-se quem fez o disparo fatal.

Antes da morte desta inocente, a PSP diz ter trocado tiros com os verdadeiros assaltantes do multibanco, que serão três, numa perseguição a alta velocidade na 2ª circular e junto ao aeroporto. Só que estes, no Seat Leon, acabaram por fugir.

Ministério Público investiga morte de mulher

O Ministério Público (MP) está a investigar a morte da mulher, de nacionalidade brasileira, baleada acidentalmente durante uma perseguição policial, na Segunda Circular, tendo seis polícias sido constituídos arguidos, anunciou a Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa (PGDL).

Numa nota publicada na tarde de hoje na página da internet, a PGDL explica que, na madrugada de quarta-feira, "no decurso de uma operação montada pela PSP, após o furto com rebentamento de ATM [multibanco], ocorrido em Almada", vários agentes policiais "encetaram perseguição aos suspeitos, vindo a perder-lhes o rasto", prosseguindo os suspeitos em direção a Lisboa.

 

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Polícia trava carro com morte

‘Lagartas’ antifuga não são usadas por PSP nem GNR

Em 2006, António Costa, na altura ministro da Administração Interna, apresentou o sistema de ‘lagartas’ que PSP e GNR iriam usar para travar fugas. Mas este sistema não é usado. Para Peixoto Rodrigues, presidente do SUP, a PSP devia "instituir o uso de lagartas por todas as Equipas de Intervenção Rápida".

"Ouvi montes de disparos durante a madrugada" 

Edmilson Santos era inquilino de Ivanice Carvalho da Costa, a mulher que morreu ontem de madrugada. Só soube da parte da tarde que ‘Nice’, como era carinhosamente tratada pelos amigos e conhecidos, foi morta a tiro pela polícia.

A mulher estava há pelo menos dois anos no nosso País. Ivanice não tinha família em Portugal. Todos os dias saía de casa pouco depois das três da manhã para, uma hora depois, entrar no trabalho no Aeroporto de Lisboa. Trabalhava sempre até à uma da tarde. Alugava quartos no bairro da Encarnação, em Lisboa.

Ontem, Edmilson disse ao Correio da Manhã que ouviu os disparos ali perto, uma vez que Ivanice Costa morreu a poucos metros da casa onde vivia. "Eu ouvi muito barulho mas não imaginava o que se tinha passado. Eram montes de disparos durante a madrugada", disse Edmilson ao nosso jornal. 

PORMENORES 

Dois não dispararam

Dos sete membros da Equipa de Intervenção Rápida da PSP de Loures envolvidos na morte de Ivanice, dois não dispararam. Um tinha uma caçadeira que não foi utilizada. O outro era o motorista e estava desarmado.

Munições de pistola

Os mais de 40 invólucros recolhidos pela PJ no local em que os agentes da PSP dispararam são todos de calibre 9 mm, correspondentes à pistola Glock 19.

Já absolveu polícia

Paula Belo, advogada que representa quatro dos agentes, conseguiu a absolvição do chefe Rubino Bettencourt, acusado de agressão num exercício.

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