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Mulher de Odair Moniz
29 de outubro de 2025 às 10:00

Das contradições à ameaça por falsos depoimentos: o que foi dito na segunda sessão de julgamento do caso de Odair Moniz

O que sabemos até agora:

- Decorreu esta quarta-feira a segunda sessão de julgamento do caso da morte de Odair Moniz, de 43 anos, no Bairro da Cova da Moura, Amadora
- Na passada quarta-feira foi ouvido Bruno Pinto, o agente da PSP suspeito de matar a tiro Odair Moniz
- O caso remonta a 21 de outubro de 2024, depois de Odair ter tentado fugir à PSP, de acordo com o despacho;
 -Bruno Pinto, de 28 anos, alegou ter temido pela vida para justificar os disparos, mas a fita do tempo reconstituída com recurso a imagens videovigilância e gravações de moradores reforçam dúvidas sobre a circunstância em torno dos disparos da polícia;
 -As imagens recolhidas mostram outro agente a mexer nos bolsos da vítima, mais de 20 minutos depois dos disparos que atingiram Odair, momento em que surgem as primeiras imagens do punhal, que, segundo o auto da PSP, originou os disparos fatais;
 -Odair foi atingido com dois tiros, no tórax e na zona da virilha;
 -O agente da PSP, Bruno Pinto, está acusado de homicídio e incorre numa pena de oito a 16 anos de prisão;
Hoje às 12h52

Termina a sessão. As outras testemunhas vão depor a 10 de novembro.


Hoje às 12h31

"Sim, chamaram os agentes de filhos da p***, mas isso é normal. Estas abordagens dão revolta": testemunha relata noite da morte de Odair Moniz

Começa a falar Fabio Wilson, tio de Evandro. É distribuidor de gás e tem 31 anos. 

"Estávamos em casa, na minha casa. O Odair tinha passado por mim quando estava a ir embora, depois passou de carro e a seguir ouvi um barulho. A polícia vinha atrás, vinham a uma velocidade elevada. Estávamos a uns 800 metros ou mais, mas não tenho noção da distância. Só fui depois de ouvir o embate. O meu sobrinho correu primeiro, quando cheguei os agentes já tinham imobilizado o Odair", refere Fabio.

"Já estavam fora das viaturas. Tanto os polícias como o Odair. O carro do Odair estava à minha direita, já tinha tido o acidente. O da polícia estava ao lado, no meio da rua".

"Parei no início da lomba. Tinha uma visão muito boa para o local. Vi os polícias a tentarem imobilizar o Odair, a dizer 'para o chão, para o chão'. O Odair dizia que não, eles subiram um bocadinho a rua. Não me lembro de ter ouvido disparos nessa altura. Se houve disparos, eu não estava atento. Odair não virou as costas e correu, ficou sempre de frente, com os braços para cima e é aí que há os disparos."

"Quando o Odair e os polícias começaram a subir a rua entrámos num quintal. Eu estava já dentro do portão, o meu sobrinho do lado de fora. Eu disse: 'tenham cuidado com a classe trabalhadora que está a passar', há vídeos disso a passar".

Fábio é também confrontado com o vídeo feito pela PJ. "Sim, foi uma resistência, mas não violenta. Há maneiras da polícia abordar... sim, vi tudo o que está nas imagens. O Odair só pôs as mãos para cima. Essa parte do pontapé eu não vi".

"No vídeo vê-se, onde eu estava não vi. No momento em que eles o tentavam imobilizar o agente tirou a pistola e disparou. Se tinha no coldre... só me lembro dos disparos, do Odair dar dois passos e cair no chão. Vi o agente a apontar a arma, o primeiro com a arma colada ao próprio corpo, com o outro polícia atrás, no segundo já estava com a posição de atirar. Não sei se viram os vídeos, era eu a falar"

"Não vi o Odair com nenhum objeto nas mãos. Estava de camisola manga cava, uma calças, com uma bolsa à cintura, preta, só uma. Nunca levou as mãos à cintura. Não vi nada a brilhar. O Odair estava com as mãos para cima, um agente à frente, outro atrás. Entre os dois disparos... dois, três segundos. No primeiro tiro, o Odair fica estático, no segundo deu um passo ao lado e caiu"

"Não estava muita gente até aos disparos. Era um grupo que estava comigo, sete a dez pessoas, depois moradores à janela e os que vieram de outras ruas. Eu avisei os agentes para se comportarem. O que acontece é que as pessoas ficaram curiosas, mas ninguém cercou os polícias. Não vi ninguém a cercar os agentes, toda a gente manteve a distância".

"Sim, chamaram os agentes de filhos da p***, mas isso é normal, é chamar nomes, estas abordagens dão revolta. Eu não disse nada", acrescenta.

"Não dá para esquecer, eu estive lá. O mais estranho foi um agente tirar o telemóvel de um morador que estava a filmar. Vi um outro agente a pôr uma bolsa junto da roda do carro. A bolsa desapareceu e voltou a aparecer depois. Estou a falar da bolsa do Odair, da Nike, preta".

"Começámos a correr quando ouvimos o estrondo. O meu sobrinho foi o primeiro, fomos atrás. Não sei porque o Odair embateu, talvez a velocidade, o piso com buracos, uma lomba que está lá. A PSP ia com sinais luminosos ligados. Entrei no quintal porque já sabia o que ia acontecer. Os policias falavam de forma agressiva, alto. Eu ouvi, quem estivesse ao meu lado também. Eu fiquei mais próximo da situação do que o meu sobrinho. Não vi bastões"

"O que eu disse foi 'vejam lá se não lhe acertaram na barriga'. Não consigo dizer onde o agente apontou. Eu estava de frente, um para a direita", recorda. 

"Não vi o Odair a sair do carro. O meu sobrinho viu"

Terminou o depoimento.

Hoje às 10h04

"É mais rápido que o Usain Bolt nos 200 metros": juízes implacáveis com contradições de testemunha em tribunal

Evandro Duarte é a primeira testemunha a ser ouvida. 21 anos, encarregado de armazém. É amigo de Odair.

"Estava no local onde Odair morreu. Era madrugada de 21 de outubro. Estava na rua principal da Cova da Moura. Passa uma viatura por mim, depois outra da PSP. Depois ouvi um estrondo. Fui a primeira pessoa a descer a rua. Quando cheguei lá os dois carros já estavam parados. O Odair já tinha saído. O carro patrulha estava ao lado. Assim que o Odair saiu do carro levantou os dois braços. Os agentes aproximaram-se e tentam pontapeá-lo, deitá-lo no chão", conta Evandro. 

"Os polícias não conseguiram deitar o Odair ao chão, o Odair afastou-os com os braços, não se deixou algemar", lembra.
"A seguir o Odair subiu um pouco a rua, estava a tentar afastar os agentes. Fiquei mesmo próximo deles, dos três. Acaba por haver uma disputa, eles a tentar pôr o Odair no chão, ele a não deixar. Depois houve os disparos. Houve dois disparos, apenas dois. Não me lembro de disparos para o ar. Ao pé de mim não houve dois disparos de aviso", continua.

"O Odair não tentou fugir, mas sim afastar os agentes. Com os braços. Os polícias encurralaram-no. O Odair não tinha nenhum objeto nas mãos", afirma Evandro. 


"Lembro que havia dois carros mais acima na rua e foi aí que tudo aconteceu. O Odair e o agente estavam juntos e foi aí que ouvi dois disparos. O Odair tinha um agente do lado direito, o outro agente estava ao lado esquerdo a pedir ajuda. O Odair não tinha nada nas mãos, não deu pontapés, só os tentou afastar com os braços".

"O Odair encostou-se num carro após o primeiro disparo, depois o agente deu o segundo tiro. No primeiro disparo vi o agente a tirar a arma do coldre e a disparar logo, o outro tiro foi cinco segundos depois", recorda. 

"O Odair não teve reação logo a seguir ao primeiro tiro, caiu após o segundo, de costas... não vi o agente desferir nenhuma bastonada. Não vi nenhum objeto a cair da mão do Odair"

"Sim, estive com o Odair antes daquela situação. Eu ingeri álcool, o Odair bebeu uma ou outra cerveja. O carro não vinha com muita velocidade, ninguém se teve de desviar".

"Vinham algumas pessoas atrás de mim. Não vi nenhum agente a agarrar o braço do Odair, não vi algemas, não vi os polícias por trás a tentar algemá-lo. O polícia apontou a arma para baixo. Polícia usou o braço esquerdo, tirou a arma do coldre e apontou para baixo. Agentes eram mais baixos do que o Odair", continua.

"Já tinha andado no carro do Odair", confirma.

A defesa faz requerimento por contradições entre o depoimento que testemunha fez na PJ e quer confrontar com vídeo. Na PJ, Evandro disse que não se recordava de ver algemas, que o agente tinha apontado para os pés e que estavam mais 20 pessoas à volta. Agora disse que o agente apontou à coxa de Odair. 

Acaba por admitir que eram mais de 20 pessoas mas insiste que agente apontou a arma para baixo. 

O vídeo da situação é novamente exibido. Admite que estava com mais 20 pessoas junto ao chafariz. "Sim, corri atrás do carro da polícia", lembra.

Vídeo contradiz depoimento de Evandro na parte da localização inicial das viaturas e doa primeiros momentos.
Admite que estava a mais de 15 metros. Na PJ disse que estava a 5 metros.

"Eles subiram a rua, aí eu fiquei a cinco metros. Fiquei de frente, do outro lado da rua. Aí ouvi alguém a dizer para me afastar"

Juízes pedem para confrontar Evandro com o Google Maps para demonstrar que é impossível o depoimento ser verdadeiro e contradiz testemunha anterior que estava mais perto.

Juiz-asa
 ameaça com processo por falsidade de depoimento. "O senhor fala como se os polícias fossem uns karatecas". Evandro mantém as afirmações que fez. 

Evandro vê o Google Maps, aponta para a porta de uma casa onde estava naquele momento. Entre esse local e o ponto de abordagem inicial da PSP a Odair a distância é maior do que foi dito. Evandro diz que viu tudo. Juiz diz que é falso, que não tinha perspetiva para o local. "Como é que consegue ver o carro de Odair?"

"Onde eu estava conseguia ver". Juíza volta a confrontar Evandro com imagens das perícias. Procurador questiona onde foi a primeira tentativa de algemar Odair, a dinâmica da situação, os seis minutos da intervenção policial e se os populares cercaram os policias. Evandro diz que não.

Evandro diz que não recuou, mesmo quando os agentes e Odair subiram a rua. Admite que no vídeo se vê um dos agentes a tentar agarrar um braço de Odair, tinha dito que não. Agora diz que se vê um disparo para o ar. Diz que não viu ninguém a fugir a correr, agora diz que se vê no vídeo.

Diz que não viu Odair dar pontapé, ao ver o vídeo admite que sim. Odair recua sempre de frente para os agentes. Nas imagens nunca fica "encurralado ou encostado a um carro". Disse não ter visto nenhum bastão, agora admite que agente usou bastão.

Evandro diz que mantém tudo o que disse apesar de o vídeo o desmentir. Sobre a bolsa de Odair, diz não se lembrar da cor. No interrogatório à PJ disse que era escura.

Juíza Ana Sequeira questiona se Evandro ouvia alguma coisa naquele momento. Evandro diz que não. Diz que tinha ferimento num braço, não sabe qual. Diz que Odair tinha a ligadura mas não se queixava por causa da queimadura.

Tinham-se encontrado na tarde de domingo, ainda de dia voltaram a ver-se pelas 22h/23horas. Ficaram juntos até momentos antes das 5h30. Estiveram a noite toda na rua.

Diz que é próximo da família mas nunca falaram sobre essa noite. "Avisei outra pessoa e foi a partir dai que eles souberam do que tinha acontecido."

"Era habitual estarmos na rua a conviver, não era a primeira vez", afirma.

Sobre a velocidade dos carros, Evandro diz que correu e viu tudo. Perante a distância percorrida juiz-asa diz que Evandro é mais rápido que o Usain Bolt nos 200 metros. Pelos cálculos, são 175 metros ou mais.

Evandro muda o local inicial, mas a diferença são menos de dez metros.

"Comecei a correr quando as viaturas passaram. O Odair buzinou, toda a gente começou a correr. Não sei porque buzinou", diz. No inicio do depoimento Evandro tinha dito que começou a correr quando ouviu o estrondo.

"Corremos para ir ver o que se passava. Tinham os sinais luminosos ligados. Era uma perseguição"

Acabou o depoimento. 

Hoje às 09h59

Começa a sessão

Começa a segunda sessão de julgamento da morte de Odair Moniz na Cova da Moura. Está previsto que sejam ouvidas 15 testemunhas na sessão de hoje, entre amigos e familiares de Odair e elementos da PSP.

O agente Bruno Pinto entrou na sala de audiências, de novo fardado. 

A sala está novamente cheia. Há pessoas que queriam entrar e foram impedidas. 

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Tudo o que foi dito na 1.ª sessão de julgamento do agente da PSP suspeito de matar a tiro Odair Moniz

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