Correio da Manhã
JornalistaDecorre esta sexta-feira a terceira sessão do julgamento do pai e da madrasta de Valentina, a menina encontrada morta em maio de 2020, na Atouguia da Baleia, em Peniche.
A sessão decorre no Auditório Municipal da Batalha devido à pandemia da Covid-19.
O pai e a madrasta da criança de nove anos morta em maio de 2020, em Peniche, foram acusados pelo Ministério Público de Leiria dos crimes de homicídio qualificado e de profanação de cadáver, em coautoria. Os arguidos respondem também pelo crime de abuso e simulação de sinais de perigo, enquanto o pai da criança está ainda acusado de um crime de violência doméstica.
As alegadas agressões do pai sobre a filha terão tido por base suspeitas de que a menor estaria a ser vítima do crime de abuso sexual, mas para o Ministério Público (MP) "não resultam quaisquer indícios do cometimento de tal ilícito, uma vez que o relatório da autópsia não evidencia a existência de qualquer sinal de contacto/abuso sexual".
Audiência marcada pela audição da gravação do interrogatório a Sandro
Nesta audiência será ouvido o áudio da gravação do interrogatório realizado pelo juíz de instrução ao pai da menina, Sandro, na altura da detenção. Recorde-se que na primeira sessão do julgamento, o pai referiu que não tinha sido ele a matar a filha. Terá agora de explicar as contradições.
Sandro e Márcia já estão na sala de audiências
Sandro e Márcia já se encontram na sala de audiências. Estão na mesma fila de cadeiras, separados por cinco lugares.
Começa a sessão
Começa a sessão. Vão ser ouvidas as declarações de Sandro Bernardo no primeiro interrogatório judicial, em maio do ano passado, em Leiria.
Sandro, pai de Valentina: "Dei-lhe uma tareia, fiquei com a mão escaldada de tantas bofetadas"
Juiz começa por perguntar sobre uma zanga anterior ao crime, antes do dia da mãe, entre Sandro e Valentina sobre a história dos papelinhos, que a Valentina mandava aos meninos.
Sandro confrontou a menina, que negou a existências dos papéis. "Dei-lhe uma tareia, fiquei com a mão escaldada de tantas bofetadas", revelou Sandro no interrogatório. A menina gritava, enquanto Márcia assistia a tudo, explicou o pai.
"Fiquei em pânico, com receio das marcas que ela tinha"
No dia 6 de maio, Sandro levantou-se pelas oito da manhã. A menina já estava levantada e dormia no sofá da sala. Sandro chamou a criança para esclarecer a história dos papelinhos e saber se tinha existido alguma penetração sexual.
Sandro ameaçou Valentina com água a ferver, uma vez que a criança não falava. Acabou por concretizar a ameaça com água a ferver. A menina de 9 anos começou com convulsões e com o corpo todo a tremer.
"Quando me apercebi fechei a água, sempre com convulsões, convulsões, começou a desfalecer", afirmou Sandro, que ficou com a menina ao colo.
Foi nesse momento que a transportou para a cozinha. "Fiquei em pânico, com receio das marcas que ela tinha", confessou Sandro, que não chamou o 112 com medo que vissem as marcas.
"Tinha os olhos esbugalhados e estava com convulsões"
De seguida levaram Valentina para o sofá, onde ela também dormia.
"Na casa de banho posso também ter-lhe dado uma bofetada, com força, para ver se ela falava. Tinha os olhos esbugalhados e estava com convulsões", relembrou Sandro.
Quando questionado sobre o que fez nesse momento, o pai da menina diz que não fez nada.
Acabaram por almoçar, todos menos a Valentina e Carolina, de sete meses. Mariana perguntou por Valentina. Sandro disse que a menor estava a dormir "como castigo". A Márcia foi lavar a loiça.
Sandro fala num tom de voz normal, sem mostrar emoções.
Depois de almoço ficaram por casa. Saíram depois para ir a Peniche comprar leite para a Carolina. Foram multados pelo caminho e multados, uma vez que carro não tinha seguro. A GNR mandou o casal para casa.
"Fui lá para ouvir o coração e já não se ouvia nada"
Voltaram para casa. Valentina estava tapada no sofá.
"Fui lá para ouvir o coração e já não se ouvia nada", revelou Sandro, admitindo que ficou em pânico e com medo.
Sandro decidiu esperar pela noite. Foram de carro para o pinhal, saíram os dois do carro. Márcia deixou Sandro no local e foi dar uma volta. O corpo da menina já sem vida estava no banco de trás do carro. Sandro diz que nunca apertou o pescoço à Valentina nem fez bater a cabeça dela contra a parede.
"E no chão?", questionou o juiz. Sandro afirmou que não se lembrava.
O pai da menina diz que bateu sempre de mão aberta, à estalada. "Houve uma altura em que ela escorregou da mão e não se recorda se caiu ao chão", disse.
"Deixei o corpo assim, pus só um arbusto por cima", diz Sandro ao ver a foto do cadáver da filha no pinhal
Sandro admitiu que disse várias vezes a Márcia para não fazer nada senão ficava sem os filhos e acrescentou que ameaçou o filho de Márcia para estar calado senão ficava sem ver os irmãos ou a mãe.
O arguido revelou ainda que podia ter telefonado a pedir ajuda para a Valentina. "Durante a tarde, já não se notava movimento da respiração, eu já tinha na cabeça que a menina estava morta, isto antes de ir a Peniche", disse pai de Valentina.
Sandro conta que de noite, as crianças foram dormir e que ele disse a Márcia para ir vestir a menina. Os dois vestiram Valentina.
O juiz de instrução mostrou uma foto ao Sandro do cadáver da menina e ele confirmou que foi assim que vestiu a menina. "Deixei o corpo assim, pus só um arbusto por cima" diz Sandro ao ver a foto do cadáver da filha no pinhal.
Valentina contou ao pai que o padrinho abusava dela
Sandro diz que nunca ameaçou Márcia, nem bateu ao filho desta, antes da situação que envolveu a morte de Valentina. Segundo o arguido, depois das discussões cada um ia para seu lado e acabava por ali.
Sandro admite que nunca perguntou a Pedro, padrinho da menina, sobre os abusos. "Nunca perguntei nada ao tal Pedro sobre os tais abusos, eu sabia que a Valentina não era certa, queria ter a certeza da história toda. Queria que a Valentina contasse tudo para depois ir à polícia fazer queixa", explicou Sandro.
Sobre os papelinhos, a Valentina disse "que não era ela que fazia os papelinhos e eu dei lhe chapadas em várias partes do corpo, onde calhava".
"A Márcia disse para eu me acalmar, eu fui para o quarto e fiquei a pensar nisso", esta situação ocorreu noutro dia, antes do crime, foi uma primeira agressão e confrontação. Sandro conta que nesse dia Márcia pediu para se acalmar mas ele respondeu: "a filha é minha, não tens nada que te meter".
A Márcia acabou por ficar a falar com a Valentina, ela contou do padrinho. "A Valentina disse que a avó ficava no café, ela ia com o padrinho que lhe mexia no pipi e vice-versa. E lhe dava coisas e prendas", revelou o pai da menina.
"Na minha cabeça a culpa era do padrinho", disse Sandro.
"Márcia estava contra tudo o que eu fiz, dizia para parar, eu dizia para ela não se meter", disse Sandro
Sandro queria saber se quando o padrinho abusou sa menina se tinha havido penetração. Valentina não respondeu. "A Márcia estava contra tudo o que eu fiz, dizia para parar, eu dizia para ela não se meter", disse o arguido.
"Na casa de banho, a água quente não estava no máximo, mas queimava. A Márcia tentava desligar a água, e pedia para eu parar, sempre que ela se punha entre mim e a Valentina eu afastava-a", referiu Sandro. "Também lhe bateu com uma colher de pau que tirou de uma gaveta da cozinha, já levou a colher de pau da cozinha quando foi para a casa de banho, com a colher de pau bateu nas mãos da Valentina", disse.
"Na casa de banho foi questão de minutos até começarem as convulsões que só terminaram quando a levaram para a cozinha", acrescentou. Apercebeu-se da situação e apareceu, o Sandro mandou o embora para junto das irmãs.
Sandro revelou que não sufocou a filha, as agressões foram bofetadas
Sandro admitiu, durante o julgamento, que a ideia era esconder o corpo de noite e dizer que tinha desaparecido. Quando contou o plano à Márcia, esta disse que ele não estava bem.
O pai de Valentina admite que disse mais de três vezes a Márcia que ficava sem os filhos se fizesse alguma coisa e revelou que depois de levarem o corpo da menina não fizeram limpeza ao local.
Após esconder o corpo da menina, o Sandro ficou por casa, a ver televisão com a Mariana. A Márcia andava nas limpezas e a cuidar das meninas.
Quando questionado pelo advogado de defesa, Sandro diz que não sufocou a Valentina, as agressões foram bofetadas.
"Não devia ter feito o que fiz. Devia ter feito de maneira diferente", disse pai de Valentina
Durante a sessão de julgamento o juiz disse: O Sr. é pai, pai é pai, só para ver se eu entro um pouco na sua cabeça. Se havia hipótese de haver abuso sexual, porque não decidiu levar isso para o nosso mundo de adultos? Porque tem de ser a Valentina... as crianças mentem, fantasiam, também contam a verdade".
O juíz perguntou como foi a infância de Sandro ao que ele repsondeu: "Foi sem grandes problemas".
"Como me sinto nedte momento? Com sentimento de culpa", disse o arguido. "Não devia ter feito o que fiz. Devia ter feito de maneira diferente", acrescentou.
Sandro diz que assumiu as culpas no primeiro interrogatório porque era isso que tinham combinado com Márcia.
"A menina morreu quando estava sentada no meu colo, na cozinha", admitiu o pai de Valentina
"A menina morreu quando estava sentada no meu colo, na cozinha. Tinha os olhos semicerrados", admitiu Sandro e acrescentou: "Quando a pus no sofá ela já estava morta".
O arguido disse no início do julgamento que acordou com os gritos da Valentina, causados pela Márcia que estaria com ela na casa de banho, neste sentido, a juíza referiu que no relatório há indícios de queimaduras na zona genital e Sandro acabou por confirmar que estava a dirigir água quente para a menina.
O juiz perguntou então: "Afinal quem levou menina para a casa de banho?". O Sandro respondeu que está confuso com a gravação e afirmou que só bateu na Valentina uns dias antes. "Eu não deitei água quente à menina", disse.
"O que assumo é ter levado a Valentina para o pinhal", rematou o pai da menina. E disse que de manhã não teve responsabilidade na morte da filha.
"No meio das duas versões o Sr. escorrega e isso é complicado", disse uma juíza. "Mudou completamente a versão porquê?", perguntou a juíza.
"Porque na cadeia ando a ser acompanhado por uma psicóloga, e por causa da família, decidi contar versão verdadeira", disse.
"Ambos mataram a Valentina", disse a Procuradora
A procuradora destaca incongruências nos depoimentos do Sandro e realça que comete o crime quem o praticou mas também quem o deixou praticar. "Ambos mataram a Valentina", disse a Procuradora.
"Ele deu murros, de mão fechada, palmadas e abandonou a menina. Ele assistiu a tudo e percebeu qie que a Valentina estava a morrer. A Valentina estava a morrer e o Sandro foi ver televisão e a Márcia foi adormecer a Carolina", refere a profissional.
A Valentina era a vítima e foi confrontada. Como podem justificar o comportamento após as agressões, as compras, um dia inteiro no sofá, o alerta, as buscas, todo o envolvimento quando sabiam que ela estava morta", questiona.
Procuradora pede ao coletivo de juízes que Sandro e Márcia sejam condenados por homicídio e profanação de cadáver, por simularem o crime. É também referido que Sandro deve ser condenado ainda por violência doméstica e inibido do poder paternal pelo menos por dez anos. "Não devem ter qualquer atenuante", refere a procuradora.
A procuradora emociona-se e finaliza: "Foi um crime monstruoso".
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