150 mil em risco de alergia
17 milhões sofrem de alergias alimentares na Europa.
Um paladar metálico, comichão extrema nas palmas das mãos, sensação de morte iminente e falta de ar são alguns dos sinais de alergia grave. De acordo com a Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), as reações alérgicas graves colocam em risco cerca de 150 mil portugueses, sendo que, abaixo dos 18 anos, os alimentos são a principal causa de alergias.
As reações graves potencialmente fatais (anafilaxia) provocadas por alergia alimentar estão a aumentar na população mais jovem. Já nos adultos são os medicamentos e o veneno de insetos. São mais frequentes nas mulheres do que nos homens.
Se o doente tiver intolerância muito grave a determinado alimento pode fazer reação alérgica apenas por inalação. É o caso de Mateus: uma bolacha pode matá-lo, não pode comer ovos, nem carne, não pode tocar em balões [o látex contém caseína, derivado do leite] e não pode sentir o aroma do leite.
A alergia alimentar é o fator precipitante de anafilaxia mais comum. A anafilaxia é uma reação alérgica grave generalizada, ou sistémica, que é potencialmente fatal. É caracterizada pelo rápido início de dificuldade respiratória e/ou circulatória, geralmente associada a manifestações da pele (urticária) e/ou das mucosas (edema).
"Sabemos que as reações anafiláticas, quer seja por alimentos, medicamentos ou picadas de insetos, poderão variar entre 0,5% e 2% da população", diz ao CM João Fonseca, imunoalergologista. Para este, que é também o vice-presidente da SPAIC, "quase todas as alergias graves têm manifestações cutâneas". A adrenalina intramuscular é o primeiro tratamento.
O meu caso - Mateus Gonçalves: "Sair de casa é uma fuga à bolacha"
Mateus tem 4 anos e sofre de alergia alimentar muito grave. "É um lutador. Nasceu prematuro, tem asma, faz terapia da fala e desde os 7 meses que tem alergias ao leite e derivados", conta ao CM a mãe do menino, Sofia Gonçalves, 37 anos, que já perdeu a conta ao número de vezes que salvou a vida ao filho com doses de adrenalina.
Sofia tem mais dois filhos mas vive em angústia com Mateus. Diz mesmo que "sair de casa é uma verdadeira fuga à bolacha": até nas urgências dos hospitais oferecem bolachas, papas e iogurtes.
"A alergia ao leite no Mateus continua a subir exponencialmente. Uma vez, num hospital, fiquei sem comida e tive de ir ao refeitório. Cheirava a bacalhau com natas. Saímos de imediato, mas fez logo reação. Ficou internado", recorda Sofia, que aprendeu a fazer refeições vegan.
"Uma embalagem de adrenalina custa mais de 50 euros, já com a comparticipação. Só em medicamentos para o Mateus, gastamos mais de 500 euros por mês. O Estado ajuda com 59 euros", conta Sofia Gonçalves, que quer ir ao Parlamento pedir para que a adrenalina seja gratuita
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