Académica defende que o estado atual do jornalismo em Portugal não é animador
Dia Mundial do Jornalismo celebra-se este domingo.
A académica Marisa Silva defende que o estado atual do jornalismo em Portugal não é animador, estando a profissão associada à palavra crise, enquanto o investigador Miguel Paisana considera haver um bom jornalismo, no qual as pessoas confiam.
A propósito do Dia Mundial do Jornalismo que se celebra este domingo, a coordenadora do departamento de ciências da comunicação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (Nova FCSH), Marisa Torres da Silva, afirma à agência Lusa que as palavras jornalismo e crise estão de mãos dadas.
O jornalismo vive uma crise "que se vem agudizando nos últimos anos devido a vários fatores como a propriedade dos media, questões sociais e políticas e condições precárias para o exercício da profissão".
Neste sentido, "o panorama não é animador", assegura a docente.
Noutra perspetiva, o investigador do Obercom, CIES-ISCTE e do Iberifier - Observatório Ibérico de Meios Digitais, Miguel Paisana, considera haver "um bom jornalismo, em que as pessoas confiam".
Segundo o relatório Digital News Report Portugal 2025 (DNRPT25), a maioria dos 2.012 inquiridos "recorre sobretudo a marcas de notícias da sua confiança (38%) e a fontes oficiais (38%), como 'sites' institucionais, seguidas dos motores de busca (35%) e dos verificadores de factos independentes", como é o caso do Polígrafo (22%), e "uma minoria consulta mais de três fontes diferentes para confirmar informações suspeitas".
Assim, "existem razões para estar satisfeito com o jornalismo, mas existem muitas outras para não tomar como garantida a sua qualidade", afirma Miguel Paisana, destacando o desafio da desinformação.
Junto da Entidade Reguladora da Comunicação (ERC) estavam registadas no início do mês 310 empresas jornalísticas ativas e duas empresas noticiosas ativas, nomeadamente a agência Lusa e a MadreMedia.
À Lusa, a reguladora explicou que as empresas jornalísticas são proprietárias de publicações que tenham como atividade principal a edição de publicações periódicas, enquanto as empresas noticiosas têm por objeto principal a recolha e distribuição de notícias, comentários ou imagens.
Além disso, de acordo com a informação da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ) existem em Portugal 5.232 titulares de carteira profissional de jornalista, destes 3.073 são indivíduos do sexo masculino e 2.159 do sexo feminino.
A faixa etária mais representada, com 1.549 pessoas, é entre os 51-60 anos, seguindo-se 1.349 pessoas com idades compreendidas entre os 41-50 anos e 741 indivíduos têm idades entre os 31-40 anos.
A imprensa é a forma de comunicação que agrega mais jornalistas (1.977), seguindo a televisão (1.034) e a rádio (515).
Sobre o dia mundial do jornalismo, Marisa Torres da Silva, refere ser uma efeméride relevante "para marcar a importância que o jornalismo tem na sociedade, mas também frisar a sua relevância, sobretudo nos tempos sombrios atuais".
"É uma efeméride muito importante de consciencialização dos obstáculos e constrangimentos pelos quais a atividade navega atualmente, através de ataques à liberdade de imprensa, à liberdade de atuação dos jornalistas, pressões, que hoje em dia, não acontecem apenas em regimes não democráticos", explica a professora.
Por sua vez, Miguel Paisana também salienta a data como um espaço para discutir a importância do jornalismo e dos profissionais que se dedicam à profissão.
"É uma ocasião em que se deve salientar a importância de que o jornalismo é feito de pessoas. Existe uma dimensão humana que está por trás e que muitas vezes não é falada e não reconhecida", remata o investigador.
Este ano a agência Lusa integra a campanha World News Day, para chamar a atenção do público para o papel que os jornalistas desempenham na divulgação de notícias credíveis que servem os cidadãos e a democracia.
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