Motoristas da Unir dizem que patrões têm "pouca vontade" de cumprir horários e segurança
Trabalhadores equacionam "novas formas de luta", avançam sindicatos.
Motoristas de autocarros da rede Unir afirmaram esta quinta-feira que as empresas Auto-Viação Feirense e Transportes Beira Douro demonstram "pouca vontade" de melhorar os horários e a segurança rodoviária, pelo que os trabalhadores equacionam "novas formas de luta".
O anúncio foi feito esta manhã, em Santa Maria da Feira, pelo dirigente sindical Hélder Borges, em representação da Fectrans - Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações, e do STRUP -- Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários e Urbanos de Portugal, depois de um plenário com parte dos cerca de 100 condutores que asseguram os percursos da Unir nos concelhos de Vila Nova de Gaia e Espinho.
"À tarde vamos ter uma reunião de mediação com a Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho, mas não estamos muito otimistas porque as empresas estão com pouca vontade de mudar o que é preciso", declarou à Lusa o sindicalista, realçando que a Unir e a Feirense atribuem culpas entre si e "não têm assumido que são ambas responsáveis".
Na origem da disputa estão, segundo Hélder Borges, "horários impossíveis de cumprir", o que obriga os condutores dos autocarros a uma sobrecarga de trabalho, ao exercício de funções "sob pressão" e, dado o acumular de atrasos sucessivos, "à supressão de algumas carreiras que simplesmente não se conseguem fazer".
"Se perguntarem aos passageiros, eles dizem logo que os horários não estão a ser cumpridos e que, às vezes, ficam na paragem à espera de autocarros que não aparecem. É impossível ser de outra maneira, porque, depois de 10 ou 15 minutos de atraso em cada percurso, a certa altura há um horário inteiro que já desapareceu", explicou.
Procurando atenuar o problema, "os motoristas estão a conduzir seis horas consecutivas quando só podem fazer quatro, cinco", o que significa que ficam em sobrecarga, "cansados, sem pausas" e sob o stress de estarem sempre "sujeitos às reclamações dos utilizadores", o que "coloca em risco a segurança rodoviária".
"Não é por acaso que, desde janeiro, já saíram das empresas uns 30 ou 40 motoristas", realçou Hélder Borges, afirmando que não houve contratações novas em número suficiente para a devida substituição desses profissionais, pelo que o trabalho foi redistribuído pelos condutores que se mantiveram na casa e esses ficaram assim "ainda mais sobrecarregados".
"Quando houver um acidente grave, quero ver quem vai ser o culpado", disse o sindicalista, que já alertara para o mesmo risco em meados de setembro.
A Lusa tentou ouvir telefonicamente a Auto-Viação Feirense, que também é a detentora da marca Beira Douro, mas as chamadas não foram atendidas.
Quanto à rede Unir, gerida pela Transportes Metropolitanos do Porto, essa entidade já na greve de setembro promovida pelo STRUP e pela Fectrans defendeu que todos os horários definidos para as carreiras de Gaia e Espinho são "perfeitamente viáveis" e que não tem "qualquer responsabilidade nos horários de trabalho atribuídos aos motoristas nem na sobrecarga laboral que eles alegam".
"É ao operador que compete atribuir as linhas a fazer por cada profissional e garantir a sua boa condição física e mental", referiu.
Na rede Unir, no lote Norte Nascente (Santo Tirso/Valongo/Paredes/Gondomar) opera a Nex Continental, no Norte Poente (Póvoa de Varzim/Vila do Conde) a Porto Mobilidade, no Norte Centro (Maia/Matosinhos/Trofa) a Vianorbus, no Sul Poente (Vila Nova de Gaia e Espinho) a Transportes Beira Douro e no Sul Nascente (Santa Maria da Feira/São João da Madeira/Arouca/Oliveira de Azeméis/Vale de Cambra) a Xerbus.
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