Piolhos: o tabu está na cabeça
Piolhos cada vez mais frequentes e resistentes.
São uma das grandes dores de cabeça dos pais e encarregados de educação e estão, precisamente, na cabeça dos mais pequenos – e não só. Os piolhos e as lêndeas (ovos do inseto parasita) estão cada vez mais resistentes aos inseticidas vendidos nas farmácias e os casos de pediculose, ou seja, infestação de piolhos, multiplicam-se e são cada vez mais difíceis de tratar, em especial na primavera e no verão, altura em que a propagação é maior.
No entanto, o preconceito da falta de higiene, associada aos piolhos, continua a ser o maior obstáculo ao tratamento correto e eficaz. "Ter piolhos não é sinónimo de falta de higiene. Mas ter conhecimento de uma infestação e não a combater é. Ainda há receio em assumir que se tem piolhos devido à carga social negativa, o que é errado. Aliás, os piolhos não distinguem as cabeças sujas das limpas", explica Marta Vargas Félix, psicóloga e proprietária de um jardim-de-infância.
Ao dar conta de um caso de pediculose numa criança, é essencial informar a escola ou o infantário, porque o mais provável é que não seja um caso único. Só assim se poderá combater uma praga de piolhos.
"O melhor combate é a prevenção e a informação. Mas mesmo assim, às vezes, os pais desesperam e não sabem o que fazer. Há crianças que fazem os tratamentos em casa e umas semanas depois voltam a apanhar piolhos, porque entretanto houve um caso que não foi tratado. O piolho é tão contagioso quanto uma gastroenterite viral e, por isso, deve ser levado a sério", explica Marta Félix, que optou por criar uma parceria entre o jardim-de-infância e a Clínica do Piolho, o único espaço do País dedicado exclusivamente ao combate dos piolhos.
Combate ao piolho resistente
Tradicionalmente, o método mais usado no combate aos piolhos e lêndeas são os champôs ou loções inseticidas, associados a uma verificação cuidada da cabeça infestada com um pente próprio, durante sete a dez dias (ver infografia). Mas os piolhos têm vindo a desenvolver resistências a um dos inseticidas mais vendidos nas farmácias: a permetrina.
Em Portugal, não há estudos feitos sobre o piolho com o gene T1 (o piolho resistente ao inseticida), mas, nos Estados Unidos, estudos mostram que mais de 90 por cento dos piolhos são resistentes. Na União Europeia, a resistência foi detetada em meados da década de 1990, sendo que se procurou reduzir a utilização de permetrina nos champôs para combater os piolhos e as lêndeas, até porque podem ser perigosos para grávidas e para crianças com menos de dois anos, segundo a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed).
Assim, é preferível a utilização de produtos de ação sufocante ou sistemas à base de óleos essenciais, ainda que mais caros e ligeiramente menos eficazes, não são perigosos nem criam resistência.
Já na Clínica do Piolho, na Cruz Quebrada (Oeiras), o método é outro: os piolhos são desidratados a uma temperatura de 60 graus e depois aspirados. Segue-se uma verificação, para garantir que todas as lêndeas são retiradas. "O tratamento tem garantia de 15 dias e não usa químicos. É mais fácil do que fazer um tratamento durante mais de uma semana", explica Tiago Westenfeld, da Clínica do Piolho, onde um tratamento individual custa 80 euros.
Apoios para tratamento
Os apoios do Estado para o tratamento dos piolhos existem, mas a informação, muitas vezes, não chega a quem precisa. "Os centros de saúde estão preparados para disponibilizar champôs às famílias carenciadas e o programa da Saúde Escolar prevê a pediculose. Mas há muita gente que não sabe porque a informação não chega", lamenta a dermatologista Margarida Rafael.
"Os problemas maiores, mais do que a resistência dos piolhos e lêndeas, são o preconceito, a falta de dinheiro para os tratamentos e a falta de informação. Era muito importante instituírem-se sessões de esclarecimento", afirma também Margarida Rafael, que garante que os casos de pediculose estão a aumentar, até em adultos.
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