Sestas a meio do dia podem ser benéficas para a saúde

Quantas vezes recusou dormir uma sesta rápida porque pensou que isso poderia afetar uma boa noite de sono? A realidade é que pode ser bastante benéfico para a saúde. 

Em muitas culturas, dormir uma sesta durante a tarde faz parte da rotina. Os espanhóis, por exemplo, são conhecidos por desfrutar de uma sesta diária e alguns trabalhadores japoneses aproveitam para dormir na hora de almoço, uma prática bastante conhecida como ‘hirune’ ou ‘sesta da tarde’. 

Gigantes da tecnologia como a Google, a Samsung e o Facebook têm cabines de descanso nos escritórios, permitindo aos funcionários dormir uma sesta durante o dia de trabalho.  

Esta pausa é uma tendência crescente em todo o mundo, mas será que realmente funciona? 

A BBC Future analisou pesquisas científicas recentes para investigar se pode ser benéfico para a saúde ou não. 

Quais são os benefícios? 

Pesquisas mostram que sestas regulares são benéficas para a saúde do cérebro a longo prazo.  

De acordo com um estudo realizado por investigadores da University College London e da Universidade da República, no Uruguai, pode ajudar a manter o cérebro maior durante mais tempo e melhorar a saúde no geral.  

Os investigadores analisaram dados de 35 mil pessoas, com idades entre os 40 e os 69 anos, que participaram num estudo do UK Biobank, onde examinaram amostras de ADN. Estas pessoas foram previamente identificadas como alguém que tem o hábito de dormir sestas.  

Nos resultados, percebeu-se que o cérebro de quem dormia várias vezes por semana era 15 centímetros maior do que o cérebro das que nunca o faziam.  

Isto equivale a atrasar o envelhecimento do cérebro num período de três a seis anos, que naturalmente diminui de tamanho com a idade e, um volume menor, tem sido associado a diversas doenças.  

Dormir a sesta deverá fazer parte da nossa rotina diária? 

Os estudos indicam que é importante que não se tornem um substituo de uma boa noite de sono.  

Sestas de 15 a 20 minutos não permitem que o corpo entre em sono profundo. É durante esse período que o organismo repara e regenera tecidos e constrói músculos, algo importante para a consolidação da memória de longo prazo e para o processamento de informações recém-adquiridas.

Por isso, sim, podem ser realizadas todos os dias mas sempre acompanhadas de uma noite de sono completa.

As quatro fases do sono 

Dormimos em ciclos, cada um com duração de cerca de 90 minutos. Cada um destes ciclos é composto por quatro fases.  

Na primeira e segunda fases, os músculos começam a relaxar, a atividade cerebral diminui e a temperatura corporal e a frequência cardíaca também.  

Em seguida, temos a terceira fase, chamada de sono profundo, antes de passarmos para o sono REM, a última fase de todas, que é quando sonhamos.  

"Dormir uma sesta é como tratar o sono como algo que é feito apenas quando é necessário e, para as pessoas que o conseguem fazer, funciona, mas isso não significa que todos devemos dormir sestas”, afirma Kevin Morgan, professor de psicologia e especialista em sono da Universidade de Loughborough, no Reino Unido. 

Quanto tempo deve durar a sesta? 

Mais do que o tempo, o momento certo é fundamental para a eficácia da sesta, por isso, certifique-se que a faz a meio da tarde, entre as 14h e as 15h, e não deixe durar mais do que 20 minutos.  

É neste horário que ocorre uma queda do ritmo circadiano (relógio biológico que regula o sono) e quando a nossa temperatura corporal diminui.  

“Se dormir uma sesta durante a manhã, a temperatura corporal ainda estará a subir, o que significa que estará mais alerta”, explica Morgan.  

Ultrapassar os 20 minutos irá resultar em inércia do sono, ou seja, quando acordar, terá a sensação de que está desorientado e perdido. A inércia do sono está relacionada à profundidade do mesmo e, após 30 minutos, entramos em sono profundo, do qual é mais difícil acordar.  

Por isso, sim, pode deixar de se sentir culpado se decidir dormir uma sesta a meio da tarde porque, na realidade, pode ser algo bastante benéfico para a saúde do ser humano.