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Exposição em Leiria recorda o movimento estudantil no pós-25 de Abril

"Movimento estudantil no pós-25 de Abril de 74, no Liceu Nacional de Leiria" reúne mais de uma centena de comunicados, panfletos e desdobráveis.

17 de novembro de 2025 às 10:08

Mais de uma centena de comunicados, panfletos e desdobráveis distribuídos durante o pós-25 de Abril no Liceu Nacional de Leiria inspiram a exposição que o Museu Escolar inaugura esta segunda-feira em Marrazes, no distrito de Leiria.

"Movimento estudantil no pós-25 de Abril de 74, no Liceu Nacional de Leiria" recorda a realidade no meio escolar depois da Revolução, na Escola Secundária Francisco Rodrigues Lobo.

Desenvolvida a partir da coleção particular de uma ex-aluna do tempo do PREC, Maria José Costa, a exposição envolve 26 alunos do 9.º ano da Escola EB 2/3 de Marrazes.

"Estes documentos apresentam todo o movimento estudantil da época. Estamos a falar num contexto de profunda renovação social e política em Portugal", explicou à agência Lusa a diretora técnica do Museu Escolar, Rita Brites.

Para a responsável, "é muito curioso que Maria José Costa tenha guardado durante mais 50 anos estes panfletos".

"Alguns destes documentos são muito pesados porque, para além da parte política, têm a componente da revolução social, da luta dos trabalhadores, do trabalhador-estudante...".

Foi por Maria José Costa, hoje com 66 anos, que a documentação chegou ao Museu Escolar. A antiga aluna do Liceu de Leiria descobriu-a numa caixa no sótão da casa na aldeia.

"Foram comunicados, desdobráveis, panfletos, convocatórias para RGA [reuniões gerais de alunos] e greves, listas para eleições nas associações de estudantes, feitos em 'stencil' e distribuídos na altura do PREC [Processo Revolucionário Em Curso]".

Antes de doar a documentação, "havia o dever de partilhar com a cidade de Leiria este espólio".

"Vivemos naquele tempo a grande aventura das nossas vidas. Tínhamos saído de um tempo em que era tudo proibido", lembrou Margarida Cabrita Franco, colega de turma de Maria José Costa, que também participou na produção da exposição.

Ela, que chegou a ser "chamada ao gabinete da vice-reitora para baixar a bainha da bata", sentiu, subitamente, que esse tempo tinha acabado.

"E quando é de repente, é sempre uma torrente. Para nós, era possível a utopia. Pensávamos: 'O que vamos fazer vai mudar o mundo'. E temos de perder um bocadinho de humildade: o que fizemos, mal ou bem, mudou a educação daí para a frente".

Ambas participaram em saneamentos, diziam não aos exames, mas toda a mobilização "não era para fazer maluqueira, era para fazer planos, para mudar as coisas".

Claro, com partidos envolvidos nas lutas escolares.

"Eram uns 14 e as listas das associações de estudantes estavam sempre ligadas a um partido", recordou Maria José Costa.

Mas "havia muita consciência do que se estava a fazer e não foi por isso que os cursos não se tiraram", sublinha Margarida Cabrita Franco.

É esse tempo que o Museu Escolar lembra, envolvendo alunos atuais nesta página da história de Portugal.

Fábio Fernandez, 14 anos, foi um dos estudantes do 9.º A da EB 2/3 Marrazes que trabalhou na exposição.

"Estamos muito gratos a estas pessoas por terem feito a revolução que nos deu os direitos que temos hoje. Já que os temos, devemos tentar melhorar o que há para melhorar", contou.

Segundo o aluno, a conversa com as ex-estudantes do Liceu mostrou-lhes que, "se calhar, o que existe agora não é tão mau como se pensa".

Convidados a reviver o espírito de há 50 anos, os alunos desenharam revindicações para a escola dos Marrazes.

"Gastamos dinheiro por vezes em coisas que não utilizamos, em vez de gastar para resolver um problema: há alunos que se sentem desconfortáveis, e até diria que têm medo, de ir às casas de banho. Não são renovadas há anos", descreveu Fábio Fernandez, sobre a questão mais reclamada.

Independentemente da qualidade da exposição, importa - como antes - o processo, frisou Margarida Cabrita Franco.

"O caminho foi muito importante, e o caminho lá de trás até aqui foi dececionante. Mas, enquanto houver estrada para andar, tudo é caminho".

Para Maria José Costa, a iniciativa do Museu Escolar ajuda a "reviver o espírito do 25 de Abril".

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