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Artrite condiciona todas as actividades

Manifesta-se inicialmente por dores ligeiras, mas pode acabar numa incapacidade física total. A artrite reumatóide atinge cerca de 40 mil portugueses. Geralmente, começa por provocar pequenas dores nas articulações das mãos ou dos pés mas, ao longo do tempo, evolui progressivamente para deformações articulares que podem levar à incapacidade funcional dos doentes.

26 de julho de 2009 às 00:30

Actividades da rotina diária, como tomar banho ou vestir-se, tornam-se grandes dificuldades. Muitos destes doentes são obrigados a desistir da sua actividade profissional. Segundo um estudo realizado pela Associação Nacional dos Doentes com Artrite Reumatóide (ANDAR), 25 por cento das pessoas com artrite reumatóide deixam de trabalhar cinco anos após a doença ser diagnosticada.

António Vilar, reumatologista e secretário-geral da ANDAR, defende uma flexibilidade laboral. "Se os doentes tiverem a possibilidade de entrar no emprego duas horas mais tarde, altura em que já superaram a rigidez matinal [sintoma comum da doença], podem depois desempenhar as suas tarefas sem dificuldade", garante o especialista.

A artrite reumatóide é a mais frequente doença reumática inflamatória crónica. Não há cura, mas há tratamento. Nos últimos quinze anos, desenvolveram-se novas estratégias de tratamento que vieram melhorar a qualidade de vida dos doentes.

As terapêuticas biológicas são consideradas "altamente eficazes". Actualmente, é possível travar a evolução da doença em cerca de 90 por cento dos casos. No entanto, dez por cento dos doentes ainda são incapacitados. Os especialistas alertam para a necessidade de um diagnóstico precoce para iniciar o tratamento terapêutico o mais cedo possível.

APONTAMENTOS

ARTRITE REUMATÓIDE

Inflamação generalizada das articulações, que pode levar à destruição progressiva das suas estruturas e à incapacidade funcional. Pode envolver órgãos internos.

ORIGEM

Os anticorpos que protegem o organismo atacam as articulações por mimetismo. O que está na origem do ataque é ainda desconhecido.

INCIDÊNCIA

As mulheres são duas a três vezes mais afectadas do que os homens. Geralmente, manifesta-se por volta dos 40 anos.

HIDROTERAPIA É TRATAMENTO

A hidroterapia é uma das principais estratégias terapêuticas para o tratamento da artrite reumatóide. Os exercícios físicos realizados dentro de água facilitam o alongamento muscular, melhoram a mobilidade e previnem deformações articulares. "São exercícios muito benéficos e devem ser feitos com regularidade", explica a terapeuta Ana Sofia Gomes.

REPOUSO PODE SER BENÉFICO

Para quem sofre de artrite reumatóide é mais difícil tolerar a fadiga. Em alturas de maior actividade da doença, os especialistas recomendam o repouso completo. No entanto, o exercício físico e a fisioterapia são mais eficazes quando iniciados na fase em que o processo inflamatório está controlado.

DISCURSO DIRECTO

"DOENÇA QUASE INTOLERÁVEL" (José Canas da Silva, Reumatologista)

Correio da Manhã - Um doente com artrite reumatóide pode levar uma vida normal?

José Canas da Silva – A artrite reumatóide é uma doença quase intolerável, poucas doenças provocam tanto sofrimento. No entanto, se houver um diagnóstico precoce, o doente pode levar uma vida quase normal. A qualidade de vida é beneficiada com o tratamento adequado.

– Qual é a melhor forma de prevenir o avanço da doença?

– Depois da doença diagnosticada, é fundamental que o doente seja referenciado, de imediato, para um reumatologista para iniciar o melhor tratamento terapêutico.

O MEU CASO: DEOLINDA PANCIANO

TERAPIAS NÃO EVITARAM EVOLUÇÃO DA DOENÇA

Começou por sentir pequenas dores nas articulações das mãos em tarefas básicas do dia-a-dia. Dores que começaram a ser cada vez mais frequentes e que, poucos meses depois, se espalharam para outras articulações do corpo. Deolinda Panciano tinha apenas 27 anos quando descobriu que sofria de artrite reumatóide.

Habituada a trabalhar desde os 18 anos como empregada doméstica, foi obrigada a deixar a profissão mais cedo do que esperava. "Comecei a ter dores muito fortes ao ponto de nem me conseguir levantar", recorda ao CM.

Durante dez anos, a doença evoluiu progressivamente. Os medicamentos e a fisioterapia não foram suficientes para travar a evolução da artrite. Foi hospitalizada vezes consecutivas e submetida a várias intervenções cirúrgicas. Mesmo assim, Deolinda nunca deixou de trabalhar. "Por ainda ser muito nova, não me quiseram dar a reforma. Andei a trabalhar de rastos".

Tinha 37 anos quando recebeu a reforma antecipada. Dez anos depois de a doença ser diagnosticada.

Hoje, com 46 anos, tenta sobreviver com 260 euros por mês. Toma cerca de trinta comprimidos e faz fisioterapia todos os dias. É a medicação biológica e a hidroterapia que a ajudam a controlar a doença. No dia-a-dia, nada consegue fazer autonomamente. Sozinha, sem o apoio da família, está dependente de uma auxiliar que a ajuda nas tarefas diárias.

A Associação Nacional de Doentes com Artrite Reumatóide, onde faz hidroterapia, é a sua família. "É a família que não tenho, sempre que preciso de alguma coisa estão sempre dispostos a ajudar-me", conta. Depois de quase vinte anos de sofrimento, Deolinda mantém a força de vontade que a caracteriza. "Tenho esperança de melhorar e de viver ainda muitos anos".

PERFIL

Deolinda Panciano sofre de artrite reumatóide há quase vinte anos. Tinha 27 quando a doença foi diagnosticada. Habituada a trabalhar desde os 18 anos, foi obrigada a deixar a profissão mais cedo do que esperava. Hoje, continua numa "luta diária constante" contra a doença.

NOTAS

INFLAMAÇÕES ARTICULARES

Geralmente, a doença começa por se manifestar por dorese inflamações articulares nas mãos.

FACTORES DE RISCO

O tabagismo é um dos principais factores de risco. Os fumadores têm o dobro do risco de vir a desenvolver a doença.

ESTILO DE VIDA SAUDÁVEL

Para evitar o avanço da doença, os especialistas recomendam caminhadas regulares, além da fisioterapia.

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