Análise das alterações de corrosão ambiental sofridas pelas ferramentas de pedra ao longo do tempo permitiu identificar duas vagas distintas de migração, separadas por milhares de anos.
Uma equipa internacional de arqueólogos liderada por um investigador da Universidade do Algarve (UAlg) recorreu a técnicas inspiradas na ciência forense para reconstruir uma história de adaptação e sobrevivência no deserto árabe, há 100 mil anos, foi hoje divulgado.
A equipa, liderada por Jeffrey Rose, do Centro Interdisciplinar de Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano (ICArEHB) da UAlg, identificou ao longo dos últimos 15 anos centenas de locais de fabrico de ferramentas de pedra no sul de Omã, região que serviu de corredor crucial para as primeiras migrações do 'Homo sapiens'.
A análise das alterações de corrosão ambiental sofridas pelas ferramentas de pedra ao longo do tempo permitiu identificar duas vagas distintas de migração, separadas por milhares de anos, sendo que a segunda se destaca por uma notável inovação: a criação de ferramentas de pedra significativamente menores e mais eficientes durante um período de forte aridez na Arábia.
"Descobrimos uma história que estava literalmente espalhada pelo solo do deserto", afirma Jeffrey Rose, autor principal do estudo, acrescentando que as ferramentas miniaturizadas "sugerem um grande salto em termos de criatividade e resolução de problemas, e podem representar um dos primeiros exemplos da nossa espécie a encontrar uma saída para uma crise ambiental."
A equipa aplicou métodos semelhantes aos da investigação forense para estudar como as condições desérticas afetam ferramentas de pedra ao longo de milénios, lê-se na nota.
"Observando o desenvolvimento de uma alteração mineral da superfície dos artefactos chamada patinação, foi possível distinguir artefactos mais antigos de outros mais recentes, revelando dois grupos com estilos de ferramentas radicalmente diferentes", especifica.
Apesar de ambos os grupos utilizarem a tecnologia africana denominada 'Levallois Nubiense', o primeiro fabricava ferramentas grandes e robustas, enquanto o segundo mudou para implementos menores e mais padronizados.
Segundo os investigadores, o conjunto de ferramentas miniaturizadas surgiu durante um período em que os registos climáticos mostram que a Arábia estava a tornar-se mais árida, sugerindo que essas pontas de pedra mais pequenas "poderiam tornar as armas mais eficazes em tempos difíceis, exigindo menos matéria-prima e oferecendo maior precisão e capacidade de penetração na caça".
No entanto, esta inovação não aparece isolada, tendo surgido tendências semelhantes de miniaturização em todo o mundo no mesmo período, sugerindo uma mudança mais ampla na capacidade humana de resolução de problemas.
"A posição de Omã ao longo da Rota de Dispersão do Sul, caminho que muitos cientistas acreditam que foi a via dos primeiros humanos para saírem de África, torna esta descoberta uma peça-chave para essa transformação global", sublinha.
A investigação, publicada este mês no Journal of Palaeolithic Archaeology, fornece novas perspetivas sobre como os nossos antepassados desenvolveram a flexibilidade comportamental que lhes permitiria, posteriormente, colonizar diversos ambientes em todo o mundo.
O estudo envolveu investigadores de instituições em Omã, Portugal, República Checa, Ucrânia, Estados Unidos da América e França, destacando-se a colaboração internacional necessária para desvendar o passado pré-histórico da humanidade.
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