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Imagem de jornalistas portugueses manipulada com IA para campanhas de desinformação

Estudo da Universidade da Beira Interior revelou que a utilização de IA no jornalismo levanta preocupações sobre a credibilidade da informação.

04 de outubro de 2025 às 10:34

A utilização de Inteligência Artificial (IA) no jornalismo levanta preocupações sobre a credibilidade da informação e a sua manipulação, existindo situações em que a imagem de jornalistas portugueses foi manipulada com IA para transmitir desinformação sobre vacinas e medicamentos.

Um estudo da Universidade da Beira Interior revelou que a utilização de IA no jornalismo levanta preocupações sobre a credibilidade da informação, a transparência na comunicação com o público, bem como a objetividade das notícias veiculadas por IA e os riscos de manipulação da informação.

A nova ferramenta "provoca questões mais profundas relacionadas com a transparência, a credibilidade, a responsabilidade, a confiança e a própria natureza do que se entende por prática jornalística", referem os autores do estudo.

Entre agosto e setembro, os jornalistas Pedro Benevides, Clara de Sousa e Sandra Felgueiras foram exemplos de quem viu a sua imagem manipulada com recurso a IA para transmitir desinformação sobre vacinas e medicamentos, denunciaram os próprios nas redes sociais.

Na sua conta oficial de Instagram, o jornalista da TVI Pedro Benevides denunciou o uso abusivo da sua imagem para "espalhar informação falsa sobre a vacina da Covid-19".

O vídeo em questão utiliza um trecho da apresentação do noticiário pelo jornalista, manipulando a mensagem transmitida com recurso a IA.

"Notícias chocantes: As vacinas contra a Covid-19 são mortais. Foi revelado que os gigantes farmacêuticos Pfizer e Moderna lançaram as vacinas no mercado através de um conluio corrupto com o Governo", ouve-se o jornalista dizer no vídeo manipulado.

O vídeo que mistura a imagem do jornalista com outras imagens relacionadas com as vacinas termina com o pivô a dizer: "Os fabricantes forneceram à população substâncias não testadas e perigosas para a saúde. Todos os vacinados estão em risco".

No momento em que o jornalista partilhou a denúncia a publicação já somava mais de 50 mil interações entre 'likes' e partilhas.

À Lusa, a especialista em desinformação e doutoranda/investigadora do ISCTE-IUL Inês Narciso explicou que "o panorama do ponto de vista da acessibilidade a ferramentas que permitem lançar uma campanha de informação a larga escala está péssimo".

A investigadora afirma que é cada vez mais fácil e barato "espalhar pelas redes sociais uma campanha com danos reputacionais contra alguém", defendendo que a utilização da imagem de jornalistas para este tipo de campanha consiste num "duplo ataque".

Por um lado, o objetivo mais comum passa por descredibilizar as instituições e o sistema, para minar a confiança do público nestas organizações, por outro lado o uso da credibilidade que é associada à imagem de um jornalista pode ser um fator favorável no aumento da crença das narrativas.

Para a doutoranda, este fenómeno "poderá levar a um regresso às fontes tradicionais de informação, como a rádio, a imprensa e a televisão".

O caso de Pedro Benevides não é o único do panorama nacional, uma vez que também a jornalista da SIC Clara de Sousa foi visada numa campanha de desinformação que usou a sua imagem para promover a venda de um produto.

Clara de Sousa escreveu nas redes sociais que estava a circular um vídeo manipulado, no qual aparece "a entrevistar um médico que fala de um produto chamado DiaformRx, apresentado como uma cura milagrosa para a diabetes".

A jornalista SIC alertou que o vídeo é falso, mas "foi editado para parecer verdadeiro".

Também a jornalista da TVI Sandra Felgueiras foi visada neste tipo de engano, realçando que "estes abusos são crimes e serão devidamente punidos. A Inteligência Artificial tem muitas vantagens desde que usada por pessoas com escrúpulos", escreveu no Instagram.

Deste modo, Inês Narciso defende que as plataformas digitais não estão a fazer o suficiente para sinalizar e remover este tipo de conteúdo, criticando a associação entre a remoção de conteúdo e a censura.

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