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Investigador defende que IA vai ajudar médicos no diagnóstico e reduzir erro

"A IA muda tudo. Muda todas as características das práticas médicas até hoje usadas nas cadeias globais de saúde", defende Guilherme Hummel.

11 de setembro de 2025 às 10:12

O investigador brasileiro Guilherme Hummel defende que, no futuro, o médico será melhor quanto menos diagnosticar sozinho e que o uso da Inteligência Artificial (IA) vai ganhar nova pujança no diagnóstico, antecipando-o e reduzindo o erro.

Autor de várias publicações na área sobre a IA aplicada à saúde, o investigador diz que a inteligência artificial generativa "vai mudar tudo" na relação do utente com os sistemas de saúde, a começar pelo acesso, que ficará facilitado.

"A IA muda tudo. Muda todas as características das práticas médicas até hoje usadas nas cadeias globais de saúde", disse, em entrevista à Lusa, lembrando as curvas demográficas e o aumento de procura na saúde, além da atrofia dos sistemas, sem capacidade para responder a uma população que cada vez vive mais tempo, mas com maior carga de doença.

Confrontado com o receio de muitos pacientes de confiar na IA, temendo mais possibilidade de erro médico, responde: "a média de tempo de atendimento médico está entre sete a 12 minutos [no Brasil]. E o médico tem esse tempo para diagnosticar, o que é que ele faz: pede exames, pois precisa de confrontar o que vê com os dados."

Além de a IA entrar no sistema logo nos exames -- "um hemograma [analise sanguínea] é feito por máquinas" -- é na triagem e no cruzamento de informação que a inteligência artificial ganha mais vantagem: "O banco só quer saber da vida do cliente nos últimos meses ou semanas, mas a medicina não. Ela precisa de todo o historial de 20 ou 30 anos atrás.".

Esse manancial de informação é muito mais rapidamente cruzado usando a tecnologia, chegando às possibilidades de diagnóstico de forma muito mais rápida e com mais precisão. Lembra que a média de precisão de um médico no diagnóstico está entre 30 a 40%, um valor que nos países que mais usam tecnologia passa para entre 40 a 50%.

"Com o apoio da IA, vamos chegar a 2030 e a 2035 a níveis acima de 60%", afirma.

Questionado pela Lusa, não hesita na resposta: "O médico comete muito mais erros porque está sob a pressão da própria comunidade, do sistema, do paciente, da família do paciente. É mais natural que cometa erros." Como exemplo, o investigador que, "hoje, com um simples exame de retina, a IA é capaz de dar 10 a 12 diagnósticos diferentes, de cardiopatia, cardiovascular."

"Grande parte do diagnostico do médico será, no futuro, feito pela máquina. Não tenho a menor dúvida disso", afirma Guilherme Hummel, que vai participar no dia 18 de setembro numa conferência sobre a IA na Saúde, em Lisboa.

Conselheiro na área da saúde digital de diversas organizações, Guilherme Hummel, que trabalha em projetos nesta área de instituições como a Organização Mundial de Saúde ou a Fundação Rockefeller, promete trazer à conferência de Lisboa exemplos do contributo que a IA traz, para médicos e pacientes.

"Vou mostrar um vídeo que mostra um caso de uma doença grave numa criança de nove anos, que é analisada por um médico, que por sua vez chama quatro agentes de diagnóstico [uma espécie de assessores virtuais] em áreas como a imunoterapia, ensaios clínicos ou genética. Cada um dá uma hipótese de diagnóstico consoante a sua base de dados e todos convergem depois para o diagnóstico final", contou.

A última palavra, diz, será sempre do médico, que, no caso exemplificado, pode pedir para o agente virtual lhe mostrar a fonte da informação (literatura ou estudos clínicos) usada e, inclusive, confirmar, lendo os respetivos estudos.

O médico será sempre o responsável pelo diagnóstico, assim como pela intervenção/tratamento a aplicar ao paciente: "Quem assina laudo final [decisão] é o médico. Por isso é que a resistência [à IA] é muito grande."

A conferência em que Guilherme Hummel vai participar decorrerá a 18 de setembro, no Auditório dos Serviços Sociais da Câmara Municipal de Lisboa, e está integrada no XVI Congresso da Fundação Portuguesa do Pulmão.

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