A diabetes provoca alterações na voz, todas impossíveis de detetar pelo ouvido humano, mas detetadas pela tecnologia utilizada na aplicação.
Uma aplicação permite calcular o risco de diabetes tipo 2 através da voz, bastando dizer uma frase simples para o telemóvel, demonstrou em Lisboa o investigador responsável pela descoberta.
À margem da conferência Medica AI, que decorreu na quarta-feira na Fundação Champalimaud, em Lisboa, Yan Fossat mostrou aos jornalistas como, com alguns dados como género, idade, altura e peso, a aplicação consegue calcular a probabilidade de ter diabetes após se dizer em inglês a frase "Olá como estás? Qual é o meu nível de glucose agora?".
Segundo explicou o cientista, a diabetes, como outras doenças, danifica o organismo, no caso as cordas vocais, e provoca alterações na voz, todas impossíveis de detetar pelo ouvido humano, mas que são identificadas pela tecnologia usada na aplicação.
A equipa liderada por Yan Fossat, da Klick Labs, já estava a estudar a voz como marcador para algumas doenças, nomeadamente psiquiátricas e neurodegenerativas, quando decidiu olhar para uma doença metabólica, no caso a diabetes tipo 2.
Num primeiro estudo, os investigadores gravaram as vozes de 40 pessoas com e sem diabetes no Canadá e numa segunda fase estudaram 267 vozes na Índia.
Com recurso a aprendizagem automática, inteligência artificial e análise de sinais, os cientistas desenvolveram um modelo preditivo, que "é essencialmente um 'software' que pega numa nova voz e diz se essa pessoa tem ou não probabilidade de ser diabética".
Segundo Yan Fossat, o sistema é 89% fiável no caso das mulheres e 86% nos homens. A diferença deve-se ao facto de as alterações na voz serem diferentes no homem e na mulher: nas mulheres provoca uma flutuação na frequência fundamental da voz, enquanto nos homens muda a modulação da amplitude.
Além do Canadá e da Índia, houve ainda um outro estudo nos Estados Unidos, onde existem diferentes etnias, pronúncias, clima e estilos alimentares, e o resultado foi o mesmo, pelo que "é um bom indicador de que [o modelo] é universal".
Questionado sobre se esta tecnologia poderá ser aplicada a outras doenças, o investigador contou que a equipa já publicou dois estudos que confirmam que funciona para a hipertensão e outro que deteta a ovulação nas mulheres.
"Estamos a olhar para uma série de outras doenças, oncológicas, infecciosas... Não posso entrar em pormenores, mas há muitas áreas em que a voz é provavelmente ou certamente afetada pela doença", disse.
A equipa da Klick Labs desenvolveu uma aplicação para telemóvel, mas para tornar o 'software' mais acessível e mais global decidiu desenvolver um API (Interface de Programação de Aplicações).
Com este 'software', basta fazer uma chamada para um servidor. Cada empresa ou instituição pode construir a sua aplicação ou 'website' e enviar a voz através de uma chamada API recebendo de volta a resposta.
Embora a tecnologia ainda esteja em fase de investigação e não esteja a ser usada a nível clínico, o vice-presidente da Klick Labs mostrou-se confiante de que um dia será possível, com uma só chamada, detetar uma panóplia de doenças. E sem a necessidade de sair de casa.
"Estamos a construir o futuro, porque queremos democratizar os cuidados de saúde e a diferença entre estar em casa ou no hospital, que são dois sítios muito diferentes, está a começar a dissipar-se".
Sobre as dificuldades que se adivinham para que esta tecnologia de voz seja de facto democratizada, Fossat disse que "a barreira é apenas o tempo"Tempo para investigar -- "isto é ciência, por isso avança à velocidade da ciência" -- e tempo para regulamentar - por se tratar de um dispositivo médico, é preciso autorizações diferentes para países diferentes.
Tempo para investigar, "isto é ciência, por isso avança à velocidade da ciência", e tempo para regulamentar - por se tratar de um dispositivo médico, é preciso autorizações diferentes para países diferentes.
A Organização Mundial de Saúde estima que 830 milhões viviam em 2022 com diabetes, doença que causa cegueira, falência renal, enfartes, AVC e amputações dos membros inferiores.
Em Portugal, cerca de 75 mil pessoas foram diagnosticadas com diabetes em 2023, elevando para mais de 900 mil o total de diabéticos registados nos cuidados de saúde primários, o valor mais elevado de sempre no país.
Os dados constam do relatório de 2024 do Programa Nacional para a Diabetes (PND) da Direção-Geral da Saúde (DGS), segundo o qual, tendo em conta o elevado número de pessoas que desconhecem o seu diagnóstico, deverão existir mais de um milhão de portugueses com diabetes.
A Medica AI reuniu investigadores, médicos e cientistas de todo o mundo para explorar como a inteligência artificial (IA) está a revolucionar a medicina.
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