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Problema dos jovens cura-se com o tempo

“Sistema social e político está realmente pensado para velhos, que são muitos e votam”, defende João César das Neves.

24 de dezembro de 2021 às 13:00

O principal problema dos jovens é que se tornaram num slogan político. Isso significa que deixaram de ser um tema real, para ficarem sempre na retórica abstrata. Quando referem os jovens, todos os dirigentes repetem os mesmos chavões, proclamando a sua importância crucial e papel decisivo no futuro, precisamente porque não pretendem fazer nada para solucionar as verdadeiras dificuldades dos jovens.

O motivo disto é puramente eleitoral. Os jovens são poucos e não votam, pelo que as suas preocupações nunca vão conseguir entrar nas verdadeiras agendas das autoridades. Os políticos são pragmáticos e só têm tempo para atender às pressões e interesses concretos que os influenciam. O seu propósito é conseguir um bom resultado no editorial do fim-de-semana, na sondagem trimestral e nos votos do próximo sufrágio. E aí quem manda são os interesses instalados. Pode dizer-se que isto é miopia, desligada do verdadeiro desígnio nacional. Mas o desígnio nacional é outro slogan político, de que todos falam mas que, tal como os jovens, fica sempre na retórica abstrata.

Se virmos com atenção, o nosso sistema social e político está realmente pensado para velhos, que são muitos e votam. As reivindicações dos reformados contam mais que as dos adolescentes. Os direitos dos trabalhadores aplicam-se apenas às gerações estabelecidas, deixando os que estão a entrar na precariedade e salários baixos sem regalias. A educação está pensada para servir os professores, não os alunos nem as empresas que os vão empregar. A habitação é boa para quem tem casa, enquanto a especulação imobiliária sobe o preço dos novos apartamentos. A baixa natalidade, grande travão para o futuro, essa nem sequer chega a ser slogan e só é abordada em estudos e dossiers ilegíveis.

Perante este panorama quais são as perspectivas de futuro para os jovens em Portugal? Muitos deles estão a emigrar, o que gera mais slogans retóricos, lamentando essa deserção, mas nunca fazendo nada para realmente a solucionar, porque há que atender aos votos dos que por cá ficam. No entanto, a grande vantagem de ser jovem é que isso se cura com o tempo. Em breve os que protestam contra a falta de oportunidades para a sua juventude estarão na meia-idade a defender as benesses que prejudicarão os jovens do futuro.

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