Maria dos Anjos, António Marto e Jacinta Marto recordam os tios com carinho e admiração.
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De terço nas mãos, Maria dos Anjos, de 97 anos, passa os dias em casa a rezar, cumprindo a recomendação da sua tia Lúcia, uma das protagonistas dos acontecimentos de Fátima, em 1917.
"Reza o terço todos os dias, não te esqueças", ouviu, sempre, Maria dos Anjos da irmã Lúcia, quando a visitava no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, onde a vidente entrou em 1948 e morreu a 13 de fevereiro de 2005, com 97 anos.
Sentada à porta de casa, em frente àquela que foi a morada dos pais de Lúcia, em Aljustrel, a dois quilómetros do Santuário de Fátima, Maria dos Anjos é uma das guardiãs de memórias dos pastorinhos.
É, também, atração por entre os visitantes da aldeia, que procuram junto de Maria dos Anjos conhecer mais sobre as "aparições" ou tão-só tirar uma fotografia com ela.
Nas paredes da entrada destaca-se uma fotografia antiga dos videntes, mas também duas pequenas imagens, uma da irmã Lúcia e outra do papa Francisco, e um quadro do Imaculado Coração de Maria.
É ali que Maria dos Anjos confessa rezar "muitas vezes", porque tem "muito tempo".
Num dos encontros com a irmã Lúcia, Maria dos Anjos, ainda trabalhava, desabafou: "Ó tia, eu começo-o [terço] sempre, mas às vezes ando tão cansada que acho que não o acabo".
"Começa-o sempre, se tu não acabares Nossa Senhora acaba", respondeu-lhe a irmã Lúcia.
A mãe de Maria dos Anjos era a irmã mais velha de Lúcia, uma criança igual às outras.
"Não lhe achavam diferença, a ela dos irmãos ou de outras crianças, era o que a minha mãe me dizia", relata Maria dos Anjos, explicando que quando se tornaram públicas as visões a Lúcia e aos primos Francisco a Jacinta a tia era repreendida.
"Ralhavam muito à Lúcia, porque ela não devia andar a dizer essas coisas, porque era a enganar o povo, (...) que aquilo eram coisas do demónio", refere, adiantando que "a família sofria porque começaram logo a vir pessoas a querer falar com a Lúcia".
Por isso, "muitas vezes queriam fazer o trabalho e não podiam, porque estava a casa cheia de pessoas" que queriam "interrogá-la" e "tinha de ficar outra pessoa com as ovelhas".
Segundo Maria dos Anjos, inicialmente "ninguém acreditou" nas "aparições", situação que mudou com o "milagre do sol", a 13 de outubro de 1917.
"Foi sempre assim que eu ouvia contar à minha mãe, à minha avó e à minha tia, até mesmo à Lúcia", declara para acrescentar: "A Lúcia dizia que sofreu muito porque as pessoas não acreditavam, nem a família".
Depois dos acontecimentos, o pai de Lúcia foi "obrigado a vender as ovelhas", pois a pastorinha "não conseguia andar com elas", tal o número de solicitações.
E à pergunta como era a tia, Maria dos Anjos respondeu: "Ela era uma irmã como as outras, não lhe achava diferença, como as outras irmãs que estavam lá no convento".
Já Jacinta Marto, de 74 anos, sobrinha de Francisco (1908-1919) e Jacinta (1910-1920), relata outros episódios da vida dos videntes.
"No início, as pessoas todas se interrogavam, havia pessoas que faziam troça deles", conta Jacinta Marto, destacando o papel do avô: "O meu avô dizia que Nossa Senhora queria vir ao mundo, queria vir a Fátima e que tinha escolhido os filhos dele".
Segundo Jacinta Marto, a família continuou a viver "com muita simplicidade, aceitando esta mensagem de Deus".
"O meu pai [João, o último irmão dos videntes a morrer, em abril de 2000, não assistindo à beatificação, pelo papa João Paulo II, no mês seguinte] diz que quando morreu a Jacinta (...) que tudo se estava a cumprir conforme eles tinham dito", nota, numa alusão à morte prematura dos tios.
Também António Marto, de 79 anos, traz ao presente memórias de um passado que tem um século e no qual foram protagonistas os tios Francisco e Jacinta.
"O meu avô foi, talvez, a primeira pessoa da família a dar o sim a algo sobrenatural", lembra ao citá-lo: "Os meus filhos são incapazes de mentir".
Segundo António Marto, filho de José, o irmão mais velho de Francisco e Jacinta do segundo casamento da mãe, a determinado momento Lúcia, que "estava um bocado sobrecarregada com perguntas e respostas estava decidida a dizer que tudo era mentira", mas Jacinta intrometeu-se na conversa da prima: "Não vês que assim é que vais mentir?".
Sobre os tios, António Marto prossegue com os relatos que lhe vêm à mente: "[O meu avô] notou uma diferença radical dos filhos antes das aparições e depois das aparições".
"Antes das aparições eles queriam era brincar, rezar à pressa. O Francisco tocava flauta, a Jacinta dançava, e depois das aparições queriam rezar, fazer penitência, e rezar sobretudo pelos pecadores e pelo Santo Padre".
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