Contesta apoio do Governo que só prevê apoio até oito horas por dia.
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Um tetraplégico diz que vai estar deitado junto do parlamento a partir de domingo em protesto contra o modelo de vida independente do Governo, esperando ser tratado pelo Presidente da República, pelo primeiro-ministro e pelo ministro da Solidariedade.
Eduardo Jorge, 55 anos, a trabalhar como assistente social no Centro de Dia de Carregueira, no distrito de Santarém, disse à Lusa que vai sair no domingo de manhã de sua casa, em Concavada, Abrantes, "de táxi adaptado", em direção à Assembleia da República, onde o espera o apoio de amigos e ativistas, e vai deitar-se numa cama articulada durante quatro dias.
"Vou estar em frente ao parlamento a reclamar por um modelo de Vida independente que respeite a minha dignidade e a de todas as pessoas que precisam de ajuda de terceiros durante o dia inteiro para realizar as tarefas diárias mais simples, como virar-se e levantar-se da cama, lavar-se, vestir-se, e comer, e porque o modelo piloto proposto pelo Governo só contempla um apoio até oito horas por dia", afirmou.
Durante o protesto de quatro dias, Eduardo Jorge espera ficar "totalmente dependente dos cuidados do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa", e também do primeiro-ministro, António Costa, e do ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva.
"Espero que o Presidente da República e os dois ministros cuidem de mim porque se assim não for eu não me vou conseguir virar, alimentar, nem vestir. Entro em greve de fome e só vou beber líquidos. Se os ministros não vierem, não permitirei que mais ninguém cuide de mim", afirmou.
Em causa, segundo Eduardo Jorge, tetraplégico após um acidente de viação em 1991, está a atual proposta do Governo de Modelo de Apoio à Vida Independente, tendo observado que, no documento apresentado, "uma pessoa totalmente dependente de terceiros terá ao seu dispor assistência pessoal nas suas atividades de vida diária, no máximo durante 40 horas semanais", apoio esse disponibilizado por centros de Apoio à Vida Independente que possuam o estatuto de IPSS e sejam reconhecidos pelo Instituto Nacional para a Reabilitação.
"Isto pouco tem de vida independente porque nós necessitamos de apoio durante todo o dia e durante os sete dias da semana, e não só oito horas diárias e só nos dias úteis ", criticou Eduardo Jorge, tendo defendido que "as verbas que faltam para um programa de vida independente completo devem entrar por via do Orçamento do Estado".
Numa carta aberta publicada dirigida a diversas instituições e ministérios, Eduardo Jorge defende a sua visão de vida independente: "É passarmos a ser os donos das nossas vidas, termos um assistente pessoal ao nosso lado, sem imposições economicistas, que substitua os nossos braços, mãos, olhos, ouvidos e pernas de maneira a sermos livres e independentes como os demais, e não estarmos sujeitos ao número de horas de apoio impostas por mais um serviço de apoio domiciliário disponibilizado por uma IPSS".
À Lusa, criticou um modelo que definiu como "assistencialista e institucionalizador" e defendeu "que sejam os deficientes a receber o dinheiro diretamente para poderem contratar os seus assistentes pessoais ou empresas, sejam elas privadas ou pertencentes à economia social" e assim servir melhor as suas necessidades.
Segundo as contas de Eduardo Jorge, e "olhando para os últimos censos, cerca de 800 mil pessoas tinham algum tipo de deficiência", entre as quais, afirmou, "cerca de 25% têm necessidade de recorrer a outra pessoa para realizar tarefas".
"A realidade da vida das pessoas com deficiência, dependentes de outros, como eu, é desconhecida pela generalidade das pessoas. Até para poder reivindicar o direito a viver como quero, onde quero e com quem quero, preciso de assistência pessoal", pode ler-se na carta pública que fez divulgar.
"Por isso, decidi entregar-me, durante quatro dias, aos cuidados das três personalidades referidas. Poderão assim ter a oportunidade de conhecer as reais necessidades de uma pessoa com deficiência, dependente de terceiros. Podem verificar através do meu exemplo que não são poucas as necessidades que terão de assegurar, como a minha higiene, alimentação, posicionamento na cama, transferência da cama para a cadeira, etc. Caso não aceitem o meu pedido, ficarei abandonado, pois não permitirei que outros realizem tais tarefas", concluiu.
Eduardo Jorge chega a Lisboa no domingo, onde iniciará o protesto às 15h00, depois de uma greve de fome realizada em 2013, e uma viagem de 180 quilómetros, em cadeira de rodas, durante três dias, entre Concavada e o parlamento, em Lisboa, em 2014.
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