Luís Santana, CEO da Medialivre, defende: "Continua a fazer sentido investir em media tradicional"

ERC juntou alguns dos maiores líderes dos media nacionais para debater 'A Comunicação Social e o Futuro Digital'.

05 de novembro de 2025 às 01:30
Luís Santana, CEO da Medialivre (3º à direita), foi um dos oradores da conferência promovida pelo regulador dos media Foto: Paulo Calado
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Regular o mundo digital, combater o uso abusivo do trabalho jornalístico, criar novas formas de negócio e preparar as empresas de media para os novos tempos em que a Inteligência Artificial (IA) ganha cada vez mais preponderância. Estas estão entre as medidas defendidas por alguns dos maiores líderes dos media nacionais (Medialivre, Impresa, RTP, Mediacapital ou Público, entre outros) que esta terça-feira se encontraram no Museu do Oriente em Lisboa na conferência 'A Comunicação Social E o Futuro Digital' promovida pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) para assinalar os seus 20 anos de regulação. 

Num dos paineis do evento, subordinado ao tema 'Sustentabilidade e o Futuro Digital', Luís Santana, CEO da Medialivre defendeu que, apesar do avanço do digital, "continua a fazer sentido investir em soluções de media tradicional" e deu o exemplo do grupo que detém o CM, a CMTV e a NOW, entre outras marcas. "Fala-se muito em transformação digital, pois a Medialivre iniciou um processo de transformação há 12 anos que foi fundamental para garantir a sustentatibilidade do grupo. Se não tivessemos iniciado a CMTV, o grupo, garantidamente, não estaria onde está", começou por dizer. "Nós estamos a construir um portfólio de soluções que acreditamos que possam vir a ser o futuro da Medialivre e estão precisamente relacionados com os meios tradicionais, como o investimento que fizemos em Rádio com a compra de duas frequências. E tem os também novos negócios que passam por eventos, os podcast ou os conteúdos premium. Este é o trabalho que estamos a fazer para a captação de novas receitas. Acreditamos que dá frutos hoje e que vai dar frutos para o futuro". 

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Luís Santana acredita que o problema de quebra de receitas que todos os grupos de media em Portugal enfrentam têm duas razões fundamentais. "Primeiro o ambiente de competitividade é totalmente diferente ao que estávamos habituados, em que os concorrentes tradicionais se conheciam todos e conheciam as suas forças, fragilidades e estratégias. Hoje não os conheço, não estão em Portugal, não pagam impostos cá e levam 2/3 das nossas receitas de publicidade, que são cada vez maiores na casa dos 170 milhões. E eu não tenho forma de competir com essas forças gigantescas. Eles falam em milhares de milhões e nós falamos em cêntimos. Isso torna-nos muito vulneráveis". Mas existe ainda outro problema. "É que nós somos roubados todos os dias de uma forma absolutamente indescritível. Os nossos conteúdos são roubados por redes sociais e por pirataria que não têm controlo nenhum", acusa o CEO da Medialivre que lembra que por detrás dos conteúdos está uma estrutura pesada. "A Medialivre tem 730 trabalhadores e não tem contratos precários".  

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Luís Santana pede mesmo uma regulação apertada e atualizada. "Há outras entidades que têm que fazer o seu trabalho num quadro legislativo que está completamente desajustado com leis de imprensa, rádio e televisão que não se ajustam às realidade atual. O mundo mudou e a própria inteligência artificial veio trazer uma mudança de paradigma", lembra. "Ainda estamos à espera de perceber o que é que as trinta medidas que o governo decretou de apoio à Comunicação Social possam trazer para melhorar algumas questões relevantes. Há setores da nossa indústria que estão muito fragilizadas". Em relação à distribuição, por exemplo, aquele responsável lembra que ainda nada se fez. "E não é por falta de insistência junto da tutela. Já foram feitas várias reuniões mas parece que tarda em se perceber que amanhã o país pode acordar sem jornais. Mas se calhar o que interessa é que a comunicação social esteja fragilizada e não tenha futuro”.

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