page view

ELES SÃO FIGURANTES

O Correio TV encontrou alguns dos ‘actores’ do programa da TVI. Pessoas normais que, a troco de 85 euros, vão representar outras pessoas normais à televisão.

08 de fevereiro de 2003 às 16:11

“Actriz porno morde o pénis do actor” – e é agredida por este. “Mulher diz ter feito ‘amor do outro mundo’ com um fantasma” – mas o marido descobre que essa “alma perdida” é um homem normal. É assim o “Vidas Reais”, programa apresentado por Rui Vasco Neto que a TVI exibe todas as noites, de segunda a sexta-feira. Mas, em muitos casos, os participantes não são os verdadeiros protagonistas das histórias: são figurantes contratados em agências especializadas. O Correio de TV encontrou alguns casos destes ‘actores’ ocasionais que, a troco de 85 euros (cerca de 17 contos) participaram no programa.

No essencial, a alma do programa reside nos figurantes: desempenham tão bem o seu papel que suscitam sérias convicções quanto à veracidade da sua identidade. Mas, enquanto não houvesse este esclarecimento público, o preço a pagar podia ser alto: as reputações dos ‘actores’ eram colocadas em causa; os espectadores podiam sentir-se defraudados. Aliás, os espectadores de sofá – isto é, os de estúdio – são também eles pagos (neste caso, porém, à semelhança do que acontece com inúmeros outros programas de televisão), a dez euros (cerca de dois contos) por programa.

“Muitas das pessoas que de facto enfrentam (ou enfrentaram) um determinado problema, não querem dar a cara e por isso recorremos a figurantes”, assume Monteiro Coelho, director de relações exteriores da TVI.

“Há casos que não chegam à via judicial e outros cujos intervenientes recorreram à Justiça mas que ficaram insatisfeitos com a ‘sentença’ e recorrem ao programa”, acrescenta Henrique Vieira, da produtora Skylight, sobre a filosofia do programa.

“FIZ DE UMA MULHER ADÚLTERA”

“Defendi o caso de um pai estéril. Fiz o papel de uma mãe que ficou a saber que as suas duas filhas não eram do seu ex-marido mas sim do actual, o qual era seu amante até à data do divórcio. Ou seja eu: a mãe das crianças era adúltera e as filhas pensavam serem de um homem mas eram de outro. Assumi o papel sem vergonha, tendo em conta que desempenhei o papel de uma mulher, ou de uma mãe, que era ignorada pelo marido e que encontrou no amante o companheiro que não tinha.”

Paula Subtil, 38 anos

Técnica de Recursos Humanos

Ex-figurante de ‘O Juiz Decide’

Figurante de ‘Vidas Reais’ (mulher, mãe e adúltera)

“FAZIA-ME GESTOS OBSCENOS”

“Defendi um caso de sexo. Se não fosse o apresentador, não sei no que aquilo se tornaria. Tive ali momentos muito difíceis, porque um dos intervenientes me deixou muito nervosa: olhava constantemente para o meu decote e fazia uns gestos horríveis, como por exemplo lamber os lábios a olhar para mim… Acho que ainda podia ter defendido melhor o meu papel, se não fosse isso.”

Ana Oliveira, 31 anos

Empresária

Figurante de ‘Vidas Reais’ (vizinha de um casal que gritava durante o acto sexual)

“IDOSOS DO PÚBLICO SÃO PAGOS”

“Desempenhei o papel de uma senhora que se recusava a pagar à sua empregada doméstica os subsídios obrigatórios por lei, alegando que esta não tinha assinado contrato. Foi interessante e ainda aprendi algo, pois não sabia o que a lei contemplava neste caso. Não acredito que sejam todos casos reais, porque nos bastidores ouvi coisas do género: ‘Quem escreveu isto?’ Mas considero que este tipo de programas é vantajoso para algumas pessoas.”

Catarina Ferro, 43 anos

Fotógrafa

Ex-figurante de ‘O Juiz Decide’

Figurante de ‘Vidas Reais’ (dona de casa caloteira)

Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?

Envie para geral@cmjornal.pt

o que achou desta notícia?

concordam consigo

Logo CM

Newsletter - Exclusivos

As suas notícias acompanhadas ao detalhe.

Mais Lidas

Ouça a Correio da Manhã Rádio nas frequências - Lisboa 90.4 // Porto 94.8