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Jerónimo: "Sejam chineses ou alemães somos contra"

Secretário-geral do PCP entrevistado na CMTV.

03 de setembro de 2015 às 01:00

Correio da Manhã – Como concilia a liderança de uma força política tão forte com essa personalidade de homem afável?

Jerónimo de Sousa – Quando assumi funções de secretário- -geral do PCP, um camarada dizia-me: "Procura ser o que tu és. Não precisas de um curso de marketing, procura ser autêntico porque esse é um dos teus méritos." Eu procuro sempre acolher essa lição.

Jerónimo: "Sejam chineses ou alemães somos contra”

– As sondagens CM/Aximage colocam quase sempre o PCP com quase o dobro das intenções de voto do BE. Como é que o partido se reimpôs?

– O segredo deste PCP é manter-se sempre de forma coerente e determinada. Durante muitos anos, as pessoas nem nos queriam ver, quanto mais ouvir. Se há coisa que sinto e que aprendi no partido é que devemos resgatar o que é mais nobre: servir o povo e não nos servirmos a nós. Dá uma vantagem enorme o povo sentir que está a lidar com pessoas honestas. Falar verdade dá-nos força.

– Este PCP teve menos líderes do que a Igreja Católica teve papas. Quantos deputados espera alcançar nesta legislatura?

– Não quantificamos, mas existe um objetivo: aumentar o número de votos e deputados.

– Tem dito que o PCP está preparado para ser governo...

– Sim, mas com uma precisão importante: será sempre decidido pelo povo e não por favor de outros. Essa responsabilidade passa pelo apoio dos portugueses. Não nos ofereçam lugares sem responderem às questões: governar para quê e para quem?

– Olhando para o programa eleitoral, a CDU quer alterar escalões de IRS, repor salários, aumentar a produção industrial. E como é que isso se faz sem o capital?

– O capital não foge... Quando olhamos para setores estratégicos que foram entregues a estrangeiros.

– Mas há casos de privatizações que são nacionalizações pelo Partido Comunista chinês... No fundo, são quase nacionalizações por regimes de que são próximos.

– Independentemente da origem do comprador, somos claramente contra essa privatização. Seja para chineses, americanos, alemães. O problema não está no comprador, está na alienação do património público.

– Na prática, defende o regresso das nacionalizações?

– Não são nacionalizações ‘tout court’, acreditamos que é um processo que tem de ser travado. Eu vejo os lucros da EDP, dos CTT… Pode até dizer-se que é dinheiro que fica cá. Mas esses compradores não tiveram de criar mais emprego. Foram compras em que, passado pouco tempo, os lucros pagaram a despesa e o dinheiro foi direitinho para o estrangeiro. Nós defendemos o controlo público.

– Qual a fasquia para classificar o resultado das legislativas como uma vitória: 16 deputados?

– O sonho anda sempre mais avançado do que a realidade. Partindo da realidade, acho que não vamos crescer apenas um punhado de votos. Não vamos eleger só mais um deputado, vamos eleger mais.

– E vai ser secretário-geral do PCP até quando?

– Fazem-me muitas vezes essa pergunta. Enquanto o meu partido quiser, aqui estou para fazer o melhor.

Perfil de Jerónimo de Sousa

Jerónimo Carvalho de Sousa nasceu no dia 13 de abril de 1947 (68 anos) na aldeia de Pirescoxe, Santa Iria de Azoia, onde ainda hoje vive. Frequentou o curso industrial e completou o 3.º ciclo de escolaridade. Cedo começou a trabalhar como operário industrial e a sua profissão é afinador de máquinas. Estreou-se como deputado à Assembleia da República em 1975 pelo PCP, partido a que aderiu logo após o 25 de Abril. Em 2004, tornou-se secretário-geral, substituindo Carlos Carvalhas. Jerónimo de Sousa é conhecido pelo seu sentido de humor e simplicidade.

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