As despesas com o julgamento terão de ser pagas integralmente pela família de Renato Seabra caso seja condenado
Quatro centímetros de lâmina afiada, na extremidade do saca-rolhas que dia 7 estava ao serviço do quarto 3416, foram usados por Renato Seabra para furar os olhos e cortar os testículos a Carlos Castro. O original está selado no saco transparente anexo ao processo, com vestígios de sangue do cronista e as impressões digitais do modelo, prova que a procuradora não dispensará de exibir em tribunal para chocar o júri - mas dezenas de réplicas da arma do crime continuam ao dispor de todos os hóspedes e funcionários do bar no luxuoso Hotel InterContinental, conforme o CM testemunhou ontem.
A lâmina, que abre em forma de canivete, serve para cortar os invólucros dos gargalos das garrafas. A vítima e o jovem amante já teriam pedido vinho para o 34º piso, em noites anteriores, e dia 7, já passava das 14h00 (19h00 em Lisboa), Renato socorreu-se do saca-rolhas para mutilar o cronista. O corpo foi encontrado quatro horas depois numa poça de sangue. Antes, asfixiou a vítima e atirou-lhe a cabeça contra a televisão.
Ainda não é seguro que Carlos Castro já estivesse morto antes da mutilação genital. O relatório final da Medicina Legal só estará pronto "depois de conhecidos os resultados aos exames de toxicologia feitos à vítima e ao suspeito", diz ao CM Tony Castro, ex--procurador no Estado de Nova Iorque. "Para apurar os motivos do crime é essencial saber se ambos estavam sob efeito de alguma substância". E saber se o cronista morreu antes ou depois da mutilação "é também fundamental. Se houve tortura ou abuso sexual antes da morte, o grande júri deve apostar numa acusação por homicídio em 1º grau", punível directamente com pena de prisão perpétua". Esta poderá, no entanto, ser negociada pela defesa - nomeadamente através da confissão e arrependimento de Renato.
Os custos para a família do modelo "dependem de o caso ir ou não a julgamento" - se Renato aceitar a acusação, declarando-se culpado, a pena é logo fixada. "Nesse caso as despesas com advogados [David Touger e a sua equipa] rondarão os 50 mil dólares (cerca 35 mil euros). Com julgamento, que pode durar um mês, e toda a preparação do mesmo, os custos dobram seguramente" - 100 mil dólares (70 mil euros) a pagar pelos pais do suspeito, Odília Pereirinha e Joaquim Seabra. "Os valores não andam longe disto", garante o luso-americano, que actualmente trabalha numa firma de advogados.
Resta a conta do hospital onde Renato continua por ordem dos médicos - que o têm mantido afastado da cadeia. "O internamento no Bellevue Hospital Center, com os cuidados da equipa de psiquiatria, custa 1400 dólares (cerca de 1100 euros) por dia", adianta ao CM uma fonte hospitalar. Até ontem, o jovem modelo já somava dez dias de internamento, o que perfaz 14 mil dólares (quase 11 mil euros). Neste caso, sendo Renato Seabra um prisioneiro, a conta é directamente debitada ao Estado de Nova Iorque. Quanto tiver alta médica é de imediato conduzido à cadeia de Rikers Island, um verdadeiro inferno, para onde o juiz o enviou em prisão preventiva.
População espera gratidão da mãe
A população de Cantanhede contava ver ontem a mãe de Renato Seabra e, sobretudo, receber desta um agradecimento pelo apoio que tem prestado à família do jovem de 21 anos, autor confesso da morte de Carlos Castro, de 65. No entanto, Odília Pereirinha, que regressou de madrugada de Nova Iorque, não terá estado no concelho, mantendo-se distante de quaisquer contactos com os vizinhos e a comunicação social.
"Ela devia agradecer às pessoas que participaram" nas manifestações de solidariedade, disse ao CM Teresa Figueira, de 41 anos, uma emigrante nos Estados Unidos, alertando para o rigor da Lei naquele país perante casos como este. A mulher, lojista, a viver nos EUA há 25 anos, chama a atenção para uma "mais do que certa" condenação do manequim.
Outros moradores adiantaram que "ficava bem" à família retribuir o apoio que tem recebido, nomeadamente através da missa e do cordão humano realizados na quinta-feira, que juntaram 400 pessoas, e da vigília de sábado, que reuniu cem moradores vestidos de branco e com velas acesas, no largo principal de Cantanhede.
Renato Seabra dizia à mãe que dormia no sofá
Renato Seabra passou vários fins-de-semana em casa de Carlos Castro, em Lisboa. Mas escondia à mãe, Odília Pereirinha, como eram passados os dias e, principalmente, as noites. "O Carlos chegou a comentar que ele tinha dito à mãe, ao telefone e à frente dele, que não se preocupasse porque o Carlos tinha uma relação e ele [Renato] dormia no sofá da sala", conta Vítor de Sousa.
As idas ao estrangeiro - Londres e Madrid - também parecem ter duas versões. A que Renato vivia e a que contava à família. À mãe e à irmã, Joana, dizia que ia em trabalho, mas Vítor de Sousa defende que "ele sabia ao que ia. Todas as viagens foram em passeio e nunca de trabalho."
"Falará quando for a altura"
Joana Seabra, irmã de Renato, afirmou ontem ao CM que Odília Pereirinha "não faz esta semana qualquer declaração", agradecendo "a atenção" dada à família, nomeadamente "dos que se têm preocupado em divulgar a posição do irmão". "Ela terá todo o prazer em falar. Vocês serão os primeiros a saber quando for a altura", disse.
Encontro no aeroporto
Odília Pereirinha e Cláudio Montez encontraram-se no embarque para Lisboa. "Cruzámos olhares antes de entrar para o avião, mas não falámos", garante o amigo de Carlos Castro.
Cunhado vende pensos a cronista
Carlos Castro comprou ao cunhado de Renato, José Malta, farmacêutico, "pensos para as dores", revela Cláudio Montez. Pagou por transferência bancária para a conta do manequim.
Dinheiro na conta do manequim
Carlos Castro terá depositado na conta de Renato Seabra cerca de 1000 euros como pagamento de fotografias - para um catálogo publicitário - que fez para uma marca de roupa interior.
Renato "andava a pensar dizer à mãe que estava com o Carlos", conta Cláudio Montez, acrescentando: "Entusiasmado, o Carlos até enviou presentes de Natal à família do Renato."
PORMENORES
Fora da Terra
Joana Seabra, a jovem médica de 25 anos irmã de Renato, garantiu ontem que a mãe de ambos não esteve na cidade. "Não está em Cantanhede", afirmou ao CM ao meio da tarde, escusando-se a adiantar onde iria passar os próximos dias.
Cansaço
Os residentes em Cantanhede começam a mostrar cansaço perante o destaque que a imprensa deu na última semana à localidade. Nem todos concordam com as manifestações de solidariedade para com o manequim.
Casa a casa
As casas dos familiares de Odília Pereirinha e o Centro de Saúde de Cantanhede, onde é enfermeira, foram ontem o centro das atenções, uma vez que muitos a queriam saudar.
Assinatura
Maria Conceição, de 55 anos, doméstica, não esteve nas acções de solidariedade, mas garante que se houver algum abaixo-assinado a favor do jovem manequim vai assiná-lo.
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