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OqueStrada: “A nossa música dá uma outra dimensão a Lisboa” (com vídeo)

A banda de Almada reedita na segunda-feira o álbum ‘Tasca Beat’ com novos arranjos e um tema inédito. Miranda conta como tem sido celebrar o País real

11 de dezembro de 2010 às 10:32

A banda de Almada reedita na segunda-feira o álbum ‘Tasca Beat' com novos arranjos e um tema inédito. Miranda conta como tem sido celebrar o País real e combater o Portugal ‘Gourmet' através desta espécie de ‘dancing fado'

- Este último ano correu particularmente bem para os OqueStrada, em Portugal e no estrangeiro. A pergunta impõe-se: ‘Tasca Beat', o tal sonho português que tanto apregoam, já está concretizado ou ainda está em curso?

- Este sonho português está sempre em curso. É um sonho que começou há oito anos, que dá trabalho mas que nos faz continuar. Somos um país ainda muito longínquo da Europa e por isso ainda há muito para desbravar.

- Porque é que é tão importante para vocês defender a tasca e a tradição popular?

- Tradição não é bem a palavra que nos agrada. Preferimos genuinidade.

- E que genuinidade é essa?

- É a genuinidade que tem que ver com o diálogo e o encontro que havia entre as pessoas e que se está a perder. É por isso que trabalhamos este lado da tasca, que achamos estar em vias de extinção.

- E é por isso que construíram também a vossa própria tasca!

- A Incrível Tasca Móvel, que construímos em 2004, foi inspirada nos movimentos metalúrgicos e na realidade suburbana. Da mesma forma, também o fado suburbano de que falamos foi inspirado na história das colectividades, nas migrações e nas pessoas esquecidas que ficam para além das grandes cidades.

- E porque é que essa realidade vos atrai tanto?

- Eu acho que os músicos e os artistas em geral são pessoas que têm de pensar a sua realidade. Ora, como nós nos movemos sempre na Margem Sul e nos apaixonámos por ela, o nosso trabalho só podia reflectir a nossa realidade. Eu acho, aliás, que a nossa música até dá uma outra dimensão a Lisboa, porque mostra que Lisboa não é só aquele fado tradicional típico da tasquinha. Quando os OqueStrada falam das tascas, também falam da tasca de néon e de alumínio. Não é só a tradição que é importante, mas também a verdade portuguesa.

- Quando cantam "glória à ginginha, ao medronho e à Revista", sentem-se uns resistentes?

- Quando dizemos ‘glória à ginginha e à Revista', isso não tem nada de saudosismo, é apenas um apelo para que se mantenham estas coisas fantásticas e para que Portugal não se torne um país de ‘gourmets' e de modas. Aliás, a música é um pretexto para estarmos activos na vida do País.

- Como é que tem sido levar esta tasca lá para fora?

- Tem sido fantástico. Nós sempre tivemos uma relação forte com a Europa, mas desde que temos o disco tocamos muito mais. Só este ano fizemos 35 datas lá fora, o que é muito bom. As salas têm estado sempre cheias, curiosamente com muito poucos portugueses.

- Que reacções é que têm tido?

- Temos tido comentários muito curiosos. Há pessoas que vêm ter connosco para nos dizerem que não sabiam da existência deste Portugal.

- A estrada é sempre propícia a histórias. Recorda-se de alguma?

- Na Sérvia, demos cinco espectáculos. No primeiro, apareceram duas senhoras de 80 anos que gostaram tanto que foram ver os outros quatro. Apesar de viverem a trinta quilómetros, apanhavam a camioneta e lá iam elas. Guardavam o primeiro lugar na fila e todos os dias nos traziam presentes.

- Que presentes é que recebiam?

- Rendas, cartas e postais. É engraçado porque, como elas não sabiam inglês, acabavam por pedir aos mais novos para nos escreverem dedicatórias.

- Levando esta tasca para o estrangeiro, não correm o risco de perder alguma identidade?

- Aquilo que temos levado para o estrangeiro é apenas o nosso repertório do disco, o ‘Tasca Beat'. A Incrível Tasca Móvel, que é a tal tasca para 300 pessoas, que conta com músicos convidados, ainda não saiu de Portugal porque sai muito caro levá-la para fora. Neste momento estamos à espera de mecenas.

- Porque é que decidiram reeditar o ‘Tasca Beat' apenas um ano depois de ter saído?

- Porque como o disco foi reeditado no estrangeiro com novos arranjos e com um tema novo achámos que era importante fazê-lo também cá.

- E que tema novo é esse?

- É uma marcha que nós tocamos há muito tempo na Incrível Tasca Móvel chamada ‘Senhora do Tejo (Sete Colinas)' que é das marchas mais bonitas que conheço, e que tem música do Fontes Rocha e letra do José Luís Gordo, um poeta e um compositor que muito pouca gente da nova geração conhece.

- Vocês levaram sete anos para gravar o primeiro disco. Porquê tanto tempo?

- Porque nunca foi uma prioridade gravar. A nossa grande prioridade quando começámos era encontrar a nossa sonoridade, algo que fosse só nosso. E demorou algum tempo chegar a este ‘dancing fado', como nós chamamos.

- Há quase dez anos juntos, como é que se consegue amizade no trabalho por forma a que as coisas funcionem?

- Já houve algumas entradas e saídas, mas aquilo que nos distingue é que nós tratamos os músicos como seres únicos e isso faz deles pequenas estrelas. Mas claro que há uma grande amizade entre nós. Como costumo dizer, adoptámo-nos uns aos outros.

- Andaram muitos anos longe dos media. Foi por opção?

- Não sei. Nós trabalhámos sempre tanto que acabávamos por não ter tempo para nos promovermos. É engraçado porque, quando nós andávamos na estrada, as pessoas vinham ter connosco e diziam-nos: ‘Vocês deviam estar na televisão!'

- E projectos para o ano?

- As 35 datas que fizemos este ano abriram-nos muitas portas para voltarmos a tocar lá fora. Por isso, o próximo ano vai ser de digressão no estrangeiro.

Veja aqui o vídeo

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