A banda de Almada reedita na segunda-feira o álbum ‘Tasca Beat’ com novos arranjos e um tema inédito. Miranda conta como tem sido celebrar o País real
A banda de Almada reedita na segunda-feira o álbum ‘Tasca Beat' com novos arranjos e um tema inédito. Miranda conta como tem sido celebrar o País real e combater o Portugal ‘Gourmet' através desta espécie de ‘dancing fado'
- Este último ano correu particularmente bem para os OqueStrada, em Portugal e no estrangeiro. A pergunta impõe-se: ‘Tasca Beat', o tal sonho português que tanto apregoam, já está concretizado ou ainda está em curso?
- Este sonho português está sempre em curso. É um sonho que começou há oito anos, que dá trabalho mas que nos faz continuar. Somos um país ainda muito longínquo da Europa e por isso ainda há muito para desbravar.
- Porque é que é tão importante para vocês defender a tasca e a tradição popular?
- Tradição não é bem a palavra que nos agrada. Preferimos genuinidade.
- E que genuinidade é essa?
- É a genuinidade que tem que ver com o diálogo e o encontro que havia entre as pessoas e que se está a perder. É por isso que trabalhamos este lado da tasca, que achamos estar em vias de extinção.
- E é por isso que construíram também a vossa própria tasca!
- A Incrível Tasca Móvel, que construímos em 2004, foi inspirada nos movimentos metalúrgicos e na realidade suburbana. Da mesma forma, também o fado suburbano de que falamos foi inspirado na história das colectividades, nas migrações e nas pessoas esquecidas que ficam para além das grandes cidades.
- E porque é que essa realidade vos atrai tanto?
- Eu acho que os músicos e os artistas em geral são pessoas que têm de pensar a sua realidade. Ora, como nós nos movemos sempre na Margem Sul e nos apaixonámos por ela, o nosso trabalho só podia reflectir a nossa realidade. Eu acho, aliás, que a nossa música até dá uma outra dimensão a Lisboa, porque mostra que Lisboa não é só aquele fado tradicional típico da tasquinha. Quando os OqueStrada falam das tascas, também falam da tasca de néon e de alumínio. Não é só a tradição que é importante, mas também a verdade portuguesa.
- Quando cantam "glória à ginginha, ao medronho e à Revista", sentem-se uns resistentes?
- Quando dizemos ‘glória à ginginha e à Revista', isso não tem nada de saudosismo, é apenas um apelo para que se mantenham estas coisas fantásticas e para que Portugal não se torne um país de ‘gourmets' e de modas. Aliás, a música é um pretexto para estarmos activos na vida do País.
- Como é que tem sido levar esta tasca lá para fora?
- Tem sido fantástico. Nós sempre tivemos uma relação forte com a Europa, mas desde que temos o disco tocamos muito mais. Só este ano fizemos 35 datas lá fora, o que é muito bom. As salas têm estado sempre cheias, curiosamente com muito poucos portugueses.
- Que reacções é que têm tido?
- Temos tido comentários muito curiosos. Há pessoas que vêm ter connosco para nos dizerem que não sabiam da existência deste Portugal.
- A estrada é sempre propícia a histórias. Recorda-se de alguma?
- Na Sérvia, demos cinco espectáculos. No primeiro, apareceram duas senhoras de 80 anos que gostaram tanto que foram ver os outros quatro. Apesar de viverem a trinta quilómetros, apanhavam a camioneta e lá iam elas. Guardavam o primeiro lugar na fila e todos os dias nos traziam presentes.
- Que presentes é que recebiam?
- Rendas, cartas e postais. É engraçado porque, como elas não sabiam inglês, acabavam por pedir aos mais novos para nos escreverem dedicatórias.
- Levando esta tasca para o estrangeiro, não correm o risco de perder alguma identidade?
- Aquilo que temos levado para o estrangeiro é apenas o nosso repertório do disco, o ‘Tasca Beat'. A Incrível Tasca Móvel, que é a tal tasca para 300 pessoas, que conta com músicos convidados, ainda não saiu de Portugal porque sai muito caro levá-la para fora. Neste momento estamos à espera de mecenas.
- Porque é que decidiram reeditar o ‘Tasca Beat' apenas um ano depois de ter saído?
- Porque como o disco foi reeditado no estrangeiro com novos arranjos e com um tema novo achámos que era importante fazê-lo também cá.
- E que tema novo é esse?
- É uma marcha que nós tocamos há muito tempo na Incrível Tasca Móvel chamada ‘Senhora do Tejo (Sete Colinas)' que é das marchas mais bonitas que conheço, e que tem música do Fontes Rocha e letra do José Luís Gordo, um poeta e um compositor que muito pouca gente da nova geração conhece.
- Vocês levaram sete anos para gravar o primeiro disco. Porquê tanto tempo?
- Porque nunca foi uma prioridade gravar. A nossa grande prioridade quando começámos era encontrar a nossa sonoridade, algo que fosse só nosso. E demorou algum tempo chegar a este ‘dancing fado', como nós chamamos.
- Há quase dez anos juntos, como é que se consegue amizade no trabalho por forma a que as coisas funcionem?
- Já houve algumas entradas e saídas, mas aquilo que nos distingue é que nós tratamos os músicos como seres únicos e isso faz deles pequenas estrelas. Mas claro que há uma grande amizade entre nós. Como costumo dizer, adoptámo-nos uns aos outros.
- Andaram muitos anos longe dos media. Foi por opção?
- Não sei. Nós trabalhámos sempre tanto que acabávamos por não ter tempo para nos promovermos. É engraçado porque, quando nós andávamos na estrada, as pessoas vinham ter connosco e diziam-nos: ‘Vocês deviam estar na televisão!'
- E projectos para o ano?
- As 35 datas que fizemos este ano abriram-nos muitas portas para voltarmos a tocar lá fora. Por isso, o próximo ano vai ser de digressão no estrangeiro.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.